Folha 8 – 15 março
2014
Câmara de Comércio
Chinesa em Angola, no âmbito da sua estratégia siamesa de unir ou assimilar
mais um país irmão, mesmo que à revelia dos seus habitantes, criou em Luanda
algo que fazia falta como pão para a boca dos sessenta e tal por centos de
angolanos que passam fome: um centro de serviços para assistência legal e
apoio logístico às cada vez mais empresas e cidadãos chineses estabelecidos no
nosso país. Uma espécie de filial neo-colonial.
“Actualmente há
pelo menos 500 empresas chinesas a operar em Angola e mais de 100 mil
expatriados chineses que trabalham em projectos de reconstrução do pós-guerra,
dando um notável contributo para o desenvolvimento socio-económico do país
africano”, afirma a agência noticiosa Nova China. 100 mil? Os chineses não
são, nesta matéria, grade coisa. Facturam por cima e pagam por baixo.
A criação do centro
de serviços é justificada, como se isso fosse necessário perante a constatação
diária de todos nós, pelos “imensos desafios e dificuldades” resultantes da
falta de conhecimento da legislação angolana e das “diferenças culturais” entre
os dois países, segundo o secretário-geral da Câmara de Comércio, Zhao
Hongbing.
Em matéria de
“diferenças culturais”, pelo andar da carruagem “made in China” tudo leva a
crer que não tardará muito e os angolanos já estarão assimilados e prontos a
ombrear com os seus camaradas da pátria de Mao Tsé-Tung, bem como a ler “O
Livro Vermelho” na versão em mandarim.
A nova estrutura,
que cooperará com a Embaixada da China em Luanda, vai ajudar as empresas e
cidadãos chineses na obtenção e renovação de vistos, registo de negócios e
arbitragem em disputas comerciais. Por outras palavras, vai ajudar a acelerar a
colonização chinesa, tal como é desejo de Pequim e perante a permissividade do
nosso regime, parte dele formatado pelos mesmos ideais chineses.
“Vai ainda, entre
outros aspectos, garantir assistência aos expatriados chineses com dificuldades
financeiras”, acrescenta ainda a organização. De facto, o proletariado chinês
também precisa de ajuda, sabido que é que funciona como carne para canhão dos
grandes interesses do capitalismo comunista chinês.
Angola, assinala a
agência noticiosa Nova China, “expulsa anualmente milhares de imigrantes
ilegais, na sua maioria provenientes dos países vizinhos e que vêm à procura
de oportunidades de emprego”. É verdade. Mas, convenhamos, os chineses não vêm
à procura de emprego, pelo contrário. Tiram é o emprego que deveria ser dos
nossos cidadãos, mas essa é também uma história conhecida que não tira o sono
às autoridades angolanas.
Os dois países
estabeleceram em 2010 uma parceria estratégica, que começou na passagem à
prática do princípio “oil for money” (petróleo por dinheiro), em que às linhas
de crédito chinesas correspondem as exportações de petróleo angolano. Um bom
negócio para as duas partes, diz o governo. Maus, afirmam os autóctones que,
contudo, nada contam para as contas do regime.
Por alguma razão a
China é actualmente, e assim continuará por muitos anos, destino de cerca de
metade das exportações de crude angolano.
Os efeitos desta
parceria estratégica são evidenciados pelo enorme crescimento das trocas
comerciais bilaterais, que aumentaram mais de dois mil por cento entre 2002 e
2012, tornando Angola no segundo país lusófono com relações comerciais mais
intensas com a China.
As trocas
comerciais entre Angola e a China, que cresceram mais de 42 por cento em 2011,
atingiram o valor de 37,5 mil milhões de dólares em 2012, um aumento significativo
comparativamente a 2002, quando era apenas de 1,8 mil milhões de dólares. Os
números mais recentes das trocas comerciais bilaterais, demonstram que
continuam a crescer.
A China concedeu a
Angola, com o fim da guerra civil em 2002, apoio financeiro para a reconstrução
do país, destruído por um conflito fratricida de cerca de quatro décadas,
compensando assim a falhada intenção do Governo angolano de realizar uma
conferência internacional de doadores.
Inicialmente baseada
em empréstimos monetários, pagos com o petróleo angolano, a cooperação bilateral
entre os dois países ficou rapidamente marcada pela presença em Angola de
várias empresas chinesas, a investirem nos projectos de reconstrução e de
desenvolvimento, sobretudo no sector da construção de edifícios, estradas,
pontes, escolas, instalação de fábricas e em outros sectores sociais e
económicos.
Apesar do número
avançado pela China relativamente a cidadãos chineses ser apenas de 100 mil,
as autoridades estimam que residam em Angola, na realidade, cerca de 260 mil
chineses, maioritariamente trabalhadores de empresas chinesas da construção
civil.
Noutro patamar
registe-se que são decepcionantes os números sobre a economia chinesa. Pequim
anunciou uma queda inesperada de 18,1% das suas exportações e um défice
comercial surpresa de 22,98 mil milhões de dólares.
A estes números
acrescentou-se uma diminuição da inflação anual para 2%, em Fevereiro, o que
foi visto como uma perda de força do consumo e da actividade da segunda maior
economia do mundo.
Mesmo que parte da
fraqueza subjacente a estes indicadores seja imputada ao novo ano lunar, no
final de Janeiro, durante o qual grande parte de fábricas e lojas suspenderam
as actividades, estes dados “confirmam a ideia, observada desde há meses, que
a economia chinesa está a perder força”, observou Jack Ablin, da BMO Capital
Markets, acrescentando que “isto afecta em particular o mercado de
matérias-primas”, de que a China é uma consumidora particularmente importante”.
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