Isabel
João – Novo Jornal (ao)
António Ângelo
Maurício Bernardo, de 31 anos, foi assassinado numa das celas da 23ª esquadra
da Polícia Nacional, na divisão da Samba. O crime aconteceu no dia 19 de
Fevereiro. A Polícia diz não ter responsabilidade e afirma que o caso já foi
esclarecido.
O porta-voz do
Comando Provincial de Luanda da PN, Mateus Rodrigues, confirmou ao Novo Jornal
a morte do jovem António Ângelo Maurício Bernardo. "Segundo o que apurámos
houve um desentendimento entre a vítima e outros dois presos", afirmou,
acrescentando que os supostos assassinos de Ângelo usaram garrafas de plástico
que se encontravam na cela, e que tinham água, para cometer o crime.
"Normalmente
nas celas há essas garrafas, onde havia água para o consumo deles, e foram
mesmo essas garrafas que eles usaram. Não havia outro tipo de objectos na
cela", esclareceu. Questionado se com simples garrafas de plástico, se
consegue matar, o porta-voz do Comando Provincial respondeu que sim. "Foi
isso que aconteceu, senhora jornalista", insistiu.
À pergunta se no
momento em que ocorreu o crime não havia polícia no local e se os agentes não
ouviram gritos, o porta-voz respondeu que não. "Os polícias não ouviram
gritos. O que aconteceu é que os dois jovens amarraram a boca da vítima com uma
camisola e não tinha como ele gritar. Só no dia seguinte, de manhã, é que
encontraram o corpo já sem vida", retorquiu.
Mateus Rodrigues
descartou a possibilidade de António Ângelo Maurício Bernardo ser conhecido dos
dois supostos assassinos. "Os crimes deles são completamente diferentes. A
vítima foi detida por ofensas corporais e os outros dois, um foi por furto e o
outro por roubo qualificado".
Questionado sobre a
responsabilidade da polícia neste caso, visto que o jovem estava sob custódia
da corporação, Mateus Rodrigues disse que a única responsabilidade da polícia é
esclarecer o caso, o que já aconteceu. "O caso já está esclarecido, os
autores do crime são confessos, assumiram que foram eles e explicaram como é
que mataram. Agora os dois vão responder por mais um crime", explicou.
Mateus Rodrigues
acrescentou que, na altura do homicídio, havia mais detidos para além dos três
envolvidos no crime, escusando-se, contudo, a dizer quantos. "Não sei
precisar o número, mas havia ainda outros detidos.
Pelo que sabemos,
também não tentaram ajudar a vítima", afirmou, acrescentando que os
autores do crime já estão identificados. Um dos familiares do jovem, que não se
quis identificar, disse ao Novo Jornal que o corpo de António Ângelo Maurício
Bernardo, motorista de profissão, foi encontrado com sinais de cacos de garrafa
e faca, o que contraria a tese da polícia, mostrando que na cela se encontravam
objectos contundentes.
De acordo com a
mesma fonte, a família não procurou os órgãos de comunicação social porque
foram ameaçados no sentido de não o fazer. "Um dos responsáveis da divisão
disse aos familiares para que não procurássemos os órgãos de comunicação
social. É muito triste o que aconteceu aqui, como é que um preso morre na cela?
A única coisa que sabemos é que o nosso familiar estava na responsabilidade da
polícia e é obrigação do comandante da divisão da Samba explicar o que aconteceu.
Queremos justiça, só isso".
A mesma fonte disse
que receberam a notícia da morte de António Bernardo pela procuradoria junto da
Divisão da Samba. "Foi a procuradora que falou com a família, mas não deu
muitos detalhes sobre as circunstâncias. Disse apenas que foram dois presos que
o torturaram", lembrou, acrescentando que autópsia revelou que a vítima
foi agredida com objectos contundentes.
Questionado se o
jovem tem cadastro, o familiar respondeu que não. "É a primeira vez que
isso acontece. Ele nunca roubou, sempre foi um rapaz trabalhador. Foi um
desentendimento com o vizinho. A morte do meu parente só aconteceu por culpa da
polícia. Foram os agentes que o mataram", acusou, adiantando que os
familiares da ofendida têm influências fortes junto de alguns responsáveis da
divisão da Samba.
A fonte disse que
nesta história o que mais entristece a família é o facto do Comando Provincial
de Luanda compactuar com o crime, não se tendo pronunciado sobre o caso.
"Num país sério, o próprio comandante da divisão já tinha pedido a sua
exoneração, enquanto aqui não há essa cultura, está mal. Esses comandantes
temem ser responsabilizados pelo crime que foi cometido na cela daquela
esquadra. Como é que garrafas de água vão matar alguém, como estão a dizer.
Aqueles sinais são de faca e cacos de garrafa", repetiu.
Este crime ocorre
numa altura em que a Polícia Nacional comemora 38 anos de existência. História
de detidos torturados, manifestantes agredidos e de mortes retiram brilho à
história da corporação.
Leia mais em Novo
Jornal (ao)
Sem comentários:
Enviar um comentário