Na contramão de
avaliações recentes, o Nobel de Economia defende que as preocupações com a
economia brasileira não se justificam
São Paulo - O
prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, afirmou que a economia do Brasil é
resistente e "não é mais vulnerável" há muito tempo. "O Brasil
saiu da crise mundial muito bem e não se justificam preocupações com sua
economia", destacou. Seus comentários são uma espécie de contraponto às
avaliações de especialistas internacionais de que o País faz parte de um grupo
de nações frágeis, avaliação que foi reforçada pelo Federal Reserve (o banco
central americano), num estudo recentemente divulgado.
"O Brasil tem
um desempenho muito bom da economia, em meio à crise internacional",
destacou Krugman. "Há maior confiança no País e que política fiscal será
mais responsável", apontou. Ele destacou que a dívida externa do País,
"perto de US$ 300 bilhões", não é mais um fator importante no caso do
País, pois seu PIB é bem maior, pouco acima de US$ 2 trilhões, e possui
reservas próximas de US$ 370 bilhões.
"Além disso, o
País tem hoje uma menor exposição em dívida denominada em moeda
estrangeira", ponderou. Nem mesmo o câmbio apreciado, que foi objeto das
mais fortes críticas de Krugman em outras visitas ao País, foi mencionado como
um problema durante a palestra nesta terça-feira, 18, promovido pela revista Carta
Capital.
China. Krugman afirmou que é possível que a China, o principal parceiro comercial
do Brasil, passe por um movimento de desaceleração do nível de atividade, o que
ele classificou com um "choque", embora ressalte que esse não é o
principal cenário com o qual trabalha para o país asiático no curto prazo.
"E o Brasil sofreria com um choque na China, por causa das exportações de
commodities."
"Estou preocupado com um choque na economia chinesa, mas não seria
catástrofe", comentou Krugman. "Como proporção do PIB no país, os
investimentos atingem 50% e o consumo das famílias chega a 30%. Essa proporção
precisa inverter", destacou, para que o nível de atividade na China tenha
uma estratégia de expansão mais equilibrada.
Krugman também manifestou que os números da economia da China são os que
apresentam "o maior nível de ficção" entre o chamado grupo Brics.
"Aliás, o conceito Brics é muito peculiar. Ele representa um conjunto de
países que não têm semelhanças", ponderou. Ele se referiu ao acrônimo
criado por Jim O'Neill, ex-executivo do Goldman Sachs, que se referia a um grupo
formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Hoje, a sigla foi expandida e ganhou
um "S", relativo à África do Sul (South Africa, em inglês).
Fed. O Nobel de Economia afirmou que o Fed, presidido agora por Janet
Yellen, tem uma preocupação bem maior com a fraqueza da recuperação da demanda
agregada nos Estados Unidos, o que não está sendo ainda registrado por
investidores internacionais. "Yellen quer manter a taxa de juros bem
baixas por muito tempo. Os mercados estão errados", comentou, referindo-se
a avaliação que de um segmento de analistas em países avançados, para quem
aquele banco central poderia voltar a elevar os juros em 2015. "A política
de afrouxamento quantitativo foi uma decepção como política monetária",
disse, ressaltando que ela não ajudou a fortalecer o consumo norte-americano
nos últimos anos.
Para Krugman, a economia americana está em processo de retomada, mas continua
fraca. "Talvez os EUA tenham risco de enfrentar deflação", comentou,
numa referência à fraca realidade de variação média de preços naquele país, um
reflexo direto da dificuldade do PIB voltar a expandir no ritmo de seu
potencial. Ele citou que uma indicação disso é que a taxa de juros de curto
prazo está muito próxima de zero, fato que só aconteceu na história do país em
outra ocasião: durante a Grande Depressão dos anos 1930. "Em função dessa
realidade, os retornos de investimentos financeiros estão também muito
fracos", destacou.
Para ele, a fraca recuperação da atividade nos EUA não é um fenômeno isolado,
pois é um fato que está sendo registrado em todos os países avançados, que tem
um "novo padrão econômico", de crescimento mais baixo do que o
registrado antes da crise internacional ser deflagrada em setembro de 2008.
"As economias estão fracas de forma persistentes e há dificuldades para
ajustar", destacou. "Uma indicação disso é que a crise atual mantém
um crescimento pequeno no mundo. A Europa, por outro lado, parece que não tem
catástrofe, mas também está sem recuperação econômica",
afirmou. Segundo ele, contudo, um contraponto a essa realidade é
que os países da América Latina estão mais "resilientes" do que no
passado e destacou o Brasil.
Na avaliação de Krugman, se o mundo está apresentando um ritmo pífio de
recuperação, no entanto, há um fator positivo: "as autoridades de países
avançados pelo menos evitaram a destruição do sistema financeiro mundial",
ponderou. E isso aconteceu sobretudo com ações coordenadas dos bancos centrais
dos EUA, zona do euro, Japão e Inglaterra, ao injetar grande liquidez nos
mercados, a fim de diminuir o potencial de quebra de diversos bancos e ajudar a
normalizar o fluxo global de capitais, especialmente no final de 2008.
Beatriz Bulla e
Ricardo Leopoldo, da Agência Estado, em Estadão
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