quinta-feira, 6 de março de 2014

Portugal – MANIF DE POLÍCIAS: UM TESTE DECISIVO



Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

Não dar condições remuneratórias e de material à polícia é abandonar os cidadãos

A manifestação que junta hoje novamente polícias e elementos de outras forças de segurança como a GNR nas ruas de Lisboa e os concentra depois frente à Assembleia da República é um teste à nossa democracia.

Com efeito, a repetição de uma cena longínqua como a que ficou conhecida por secos e molhados ou a que recentemente quase levou à invasão da Assembleia da República, depois de os manifestantes terem conseguido subir as escadarias do parlamento, seria a total descredibilização das instituições e dos seus dirigentes, começando por deputados e membros do governo, não esquecendo os responsáveis da segurança, sejam eles da PSP ou de outra força, a quem se exige que tratem todos os manifestantes da mesma forma, não podendo ser mais macios com alguns, como sucedeu obviamente em Novembro passado.

O que se espera hoje é que do lado dos manifestantes não haja excessos e que do lado das forças no local e do governo haja indicações precisas para conter actos de violência com a firmeza estritamente necessária.

Só assim se evitará, por um lado, uma fragilização da imagem já degradada de todos os intervenientes e, por outro, no caso de incidentes no terreno, a emissão para o estrangeiro através dos media, nomeadamente as televisões, de imagens que transmitem a ideia de um país caótico e inseguro, o que não é manifestamente o caso, pelo menos por enquanto.

Se há coisa que não se nega no meio disto é que as forças policiais e de segurança em especial, mas também os elementos das Forças Armadas, são miseravelmente pagos em Portugal tendo em conta as suas responsabilidades e obrigações. É óbvio que passam dificuldades de toda a espécie, havendo casos dramáticos, que vão da carência alimentar à incapacidade de fazer frente a encargos contraídos, não por consumismo, mas pura e simplesmente porque não conseguem viver com os cortes em salários, que sempre foram baixos e que eram às vezes iludidos por um ou outro subsídio agora também encurtado, dobrando por vezes as penalizações.

Uma coisa são sacrifícios suportáveis e racionais, e mesmo cortes em meios operacionais, alguns dos quais até são inúteis ou questionáveis e deveriam ser investigados criminalmente, configurando os célebres cortes na despesa. Outra bem diferente são cortes que transformam funcionários do Estado, polícias, GNR ou guardas prisionais, para referir só estes casos, numa massa de gente proletarizada que vive no limite da indigência, por vezes longe das suas terras, tendo de multiplicar cada vez mais gratificados penosos e longos para conseguir sobreviver com dignidade.

As condições em que hoje vivem os nossos polícias e profissionais de segurança são lamentáveis e um convite à corrupção e a todo o tipo de tentações, inclusivamente ao excesso de violência para com os cidadãos em certos casos, felizmente pontuais, fruto de frustrações, exasperação e stresse, que pode levar à perda de compostura.

Dir-se-á que o mesmo pode acontecer noutras profissões, públicas ou privadas, entre as quais o próprio jornalismo. É verdade. Mas também é um facto que quando se trata de polícias a coisa é mais grave, porque são as forças que mais destratamos quando delas não precisamos e pelas quais mais gritamos quando estamos aflitos.

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