Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Não dar condições
remuneratórias e de material à polícia é abandonar os cidadãos
A manifestação que
junta hoje novamente polícias e elementos de outras forças de segurança como a
GNR nas ruas de Lisboa e os concentra depois frente à Assembleia da República é
um teste à nossa democracia.
Com efeito, a
repetição de uma cena longínqua como a que ficou
conhecida por secos e molhados ou a que recentemente quase levou à invasão da
Assembleia da República, depois de os manifestantes terem conseguido subir as
escadarias do parlamento, seria a total descredibilização das instituições e
dos seus dirigentes, começando por deputados e membros do governo, não
esquecendo os responsáveis da segurança, sejam eles da PSP ou de outra força, a
quem se exige que tratem todos os manifestantes da mesma forma, não podendo ser
mais macios com alguns, como sucedeu obviamente em Novembro passado.
O que se espera
hoje é que do lado dos manifestantes não haja excessos e que do lado das forças
no local e do governo haja indicações precisas para conter actos de violência
com a firmeza estritamente necessária.
Só assim se
evitará, por um lado, uma fragilização da imagem já degradada de todos os
intervenientes e, por outro, no caso de incidentes no terreno, a emissão para o
estrangeiro através dos media, nomeadamente as televisões, de imagens que
transmitem a ideia de um país caótico e inseguro, o que não é manifestamente o
caso, pelo menos por enquanto.
Se há coisa que não
se nega no meio disto é que as forças policiais e de segurança em especial, mas
também os elementos das Forças Armadas, são miseravelmente pagos em Portugal
tendo em conta as suas responsabilidades e obrigações. É óbvio que passam
dificuldades de toda a espécie, havendo casos dramáticos, que vão da carência
alimentar à incapacidade de fazer frente a encargos contraídos, não por
consumismo, mas pura e simplesmente porque não conseguem viver com os cortes em
salários, que sempre foram baixos e que eram às vezes iludidos por um ou outro
subsídio agora também encurtado, dobrando por vezes as penalizações.
Uma coisa são
sacrifícios suportáveis e racionais, e mesmo cortes em meios operacionais,
alguns dos quais até são inúteis ou questionáveis e deveriam ser investigados
criminalmente, configurando os célebres cortes na despesa. Outra bem diferente
são cortes que transformam funcionários do Estado, polícias, GNR ou guardas
prisionais, para referir só estes casos, numa massa de gente proletarizada que
vive no limite da indigência, por vezes longe das suas terras, tendo de
multiplicar cada vez mais gratificados penosos e longos para conseguir
sobreviver com dignidade.
As condições em que
hoje vivem os nossos polícias e profissionais de segurança são lamentáveis e um
convite à corrupção e a todo o tipo de tentações, inclusivamente ao excesso de
violência para com os cidadãos em certos casos, felizmente pontuais, fruto de
frustrações, exasperação e stresse, que pode levar à perda de compostura.
Dir-se-á que o
mesmo pode acontecer noutras profissões, públicas ou privadas, entre as quais o
próprio jornalismo. É verdade. Mas também é um facto que quando se trata de
polícias a coisa é mais grave, porque são as forças que mais destratamos quando
delas não precisamos e pelas quais mais gritamos quando estamos aflitos.
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