sexta-feira, 7 de março de 2014

Portugal – Polícias: Maior manifestação de sempre da polícia termina com dez feridos



Catarina Cruz – Jornal de Notícias

Milhares de polícias de várias forças de segurança manifestaram-se, esta quinta-feira, em frente à Assembleia da República. O protesto foi marcado por momentos de grande tensão entre os polícias que protestavam e os que se encontravam ao serviço, impedindo o acesso às escadarias do Parlamento. Dez pessoas ficaram feridas e duas foram identificadas.

Polícias. Megamanifestação junta mais de 15 mil e provoca tensão em São Bento

Rosa Ramos – Jornal i

Corpo de Intervenção da PSP em peso impediu que manifestantes chegassem à entrada da Assembleia onde esperava a unidade da GNR

Polícias contra polícias. Nem meia hora depois de o desfile ter chegado à Assembleia da República, os manifestantes faziam a primeira tentativa de subir a escadaria. O Corpo de Intervenção (CI) da PSP, que esteve ontem em peso na manifestação das forças e serviços de segurança, desceu imediatamente as escadas para tentar conter a investida. Depois de várias tentativas, os manifestantes conseguiram subir alguns degraus, mas o reforço das barreiras obrigou-os a recuar. O braço-de-ferro entre polícias à civil e polícias fardados mantinha-se ontem à hora de fecho desta edição. Os primeiros manifestantes chegaram à Assembleia poucos minutos depois das 20h e, antes das 21h, o INEM já tinha socorrido pelo menos três feridos e a PSP detido vários manifestantes.

As barreiras de protecção foram derrubadas às 20h25, e a investida era previsível. Antes de o desfile começar, ainda no Marquês de Pombal, e enquanto os líderes das estruturas sindicais das várias polícias que aderiam ao protesto discursavam, já se ouvia o rebentamento de petardos. A manifestação seguiu depois pela Rua Braamcamp, com os polícias a gritarem, em massa, "invasão". As mesmas palavras de ordem foram novamente ouvidas à chegada do desfile à Assembleia da República, apesar de os responsáveis pela Comissão Coordenadora Permanente (CCP), que organizou o protesto, apelarem repetidamente à calma. "Já demonstrámos o que tínhamos de demonstrar ao poder político, recuem", gritava um elemento da coordenadora.

Antes de se instalar um verdadeiro frente-a-frente entre as duas facções de polícias, os mais de 15 mil manifestantes - contas da organização - cantaram o hino nacional e aplaudiram os polícias de serviço, enquanto rebentavam petardos. À porta do edifício da Assembleia da República mantiveram-se, durante toda a manifestação, mais de 80 militares da Unidade de Intervenção da GNR. Pouco depois das 20h30, a PSP foi obrigada a atravessar carrinhas de choque nas laterais de acesso ao parlamento, para prevenir eventuais investidas de manifestantes. Minutos mais tarde, a coordenadora anunciava que a comissão organizadora iria ser recebida por Assunção Esteves. Um representante de cada estrutura sindical entregou um documento com uma série de exigências ao governo.

Ainda antes das 21h, o porta-voz do Comando Metropolitano de Lisboa admitia que a PSP já tinha advertido a primeira linha de manifestantes para que desistissem de tentar ultrapassar o cordão de elementos do Corpo de Intervenção. Caso contrário, a polícia teria "legitimidade para usar a força, de modo a garantir o legítimo direito à manifestação dos restantes manifestantes", admitia Rui Costa.

Recorde-se que a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) autorizou o Ministério da Administração Interna (MAI) a filmar o protesto, com a condição de que não fosse recolhido som - só imagens - e que as filmagens não fossem usadas para efeitos disciplinares. Apenas para investigação criminal, no caso de eventuais problemas.

AS RAZÕES DOS POLÍCIAS 

Três meses e meio depois da manifestação em que os polícias subiram a escadaria do parlamento, os sindicatos e as associações da GNR, PSP, Polícia Marítima, SEF, ASAE e Corpo da Guarda Prisional voltaram a lembrar ao governo que não têm condições para trabalhar.

Antes do desfile, e num gesto de união inédita entre forças de segurança, os líderes de cada associação discursaram. César Nogueira, da GNR, lembrou que os militares continuam sem horário de trabalho e com direito a apenas uma folga por semana. "O ministro [da Administração Interna] está sozinho, isolado e sem condições para continuar", garantiu. Paulo Rodrigues, da PSP, exigiu "dignidade" para os profissionais das forças de segurança e Acácio Pereira, do SEF, queixou-se dos cortes nos salários, "que regressaram ao nível de 2011". Já a Polícia Marítima pediu "mais efectivos" e "uma definição das suas atribuições".

Perímetro da Assembleia começou a ser preparado várias horas antes

Os parques de estacionamento exteriores da Assembleia da República começaram cedo a ser esvaziados para esperar uma das maiores manifestação de sempre das forças de segurança. Um protesto que surgiu três meses após a invasão das escadarias. Desde as primeiras horas da manhã que grades e baias de segurança estavam colocadas em todo o perímetro do parlamento, estando interdito o estacionamento de viaturas de serviço, da comunicação social ou de visitantes. 

Mais de 100 elementos do Corpo de Intervenção (CI) da PSP do Porto e de Faro foram mobilizados para reforçar o policiamento. Estes elementos juntaram-se aos cerca de uma centena de elementos do CI de Lisboa, cujo efectivo foi todo mobilizado para fazerem a segurança do protesto, à excepção dos que pertencem aos sindicatos da PSP. Quanto ao modo de actuação,  houve ordem prévia para não haver bastonadas nem cargas policiais, contou à Lusa fonte policial. A estratégia passou sobretudo dar mais visibilidade à presença policial  junto ao parlamento para tentar evitar que os polícias subissem a escadaria do parlamento. Segundo o jornal “Público”, a indicação mais sublinhada foi a de recorrer ao gás lacrimogéneo para fazer dispersar os manifestantes. Dentro da Assembleia, logo à entrada, foi um grupo Pelotão de Manutenção da Ordem Pública da GNR com cerca de 80 homens que ficou com a missão de garantir a segurança. 

Após os incidentes de Novembro, o então director nacional da PSP, superintendente Paulo Valente Gomes, colocou o seu lugar à disposição e a IGAI abriu um processo de averiguações aos acontecimentos e a Procuradoria-Geral da República também abriu um inquérito, que se encontram em investigação.

Carlos Diogo Santos Com Lusa

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