Catarina Cruz –
Jornal de Notícias
Milhares de
polícias de várias forças de segurança manifestaram-se, esta quinta-feira, em
frente à Assembleia da República. O protesto foi marcado por momentos de grande
tensão entre os polícias que protestavam e os que se encontravam ao serviço,
impedindo o acesso às escadarias do Parlamento. Dez pessoas ficaram feridas e
duas foram identificadas.
Polícias.
Megamanifestação junta mais de 15 mil e provoca tensão em São Bento
Rosa Ramos – Jornal
i
Corpo de
Intervenção da PSP em peso impediu que manifestantes chegassem à entrada da
Assembleia onde esperava a unidade da GNR
Polícias contra
polícias. Nem meia hora depois de o desfile ter chegado à Assembleia da
República, os manifestantes faziam a primeira tentativa de subir a escadaria. O
Corpo de Intervenção (CI) da PSP, que esteve ontem em peso na manifestação das
forças e serviços de segurança, desceu imediatamente as escadas para tentar
conter a investida. Depois de várias tentativas, os manifestantes conseguiram
subir alguns degraus, mas o reforço das barreiras obrigou-os a recuar. O
braço-de-ferro entre polícias à civil e polícias fardados mantinha-se ontem à
hora de fecho desta edição. Os primeiros manifestantes chegaram à Assembleia
poucos minutos depois das 20h e, antes das 21h, o INEM já tinha socorrido pelo
menos três feridos e a PSP detido vários manifestantes.
As barreiras de
protecção foram derrubadas às 20h25, e a investida era previsível. Antes de o
desfile começar, ainda no Marquês de Pombal, e enquanto os líderes das
estruturas sindicais das várias polícias que aderiam ao protesto discursavam,
já se ouvia o rebentamento de petardos. A manifestação seguiu depois pela Rua
Braamcamp, com os polícias a gritarem, em massa, "invasão". As mesmas
palavras de ordem foram novamente ouvidas à chegada do desfile à Assembleia da
República, apesar de os responsáveis pela Comissão Coordenadora Permanente
(CCP), que organizou o protesto, apelarem repetidamente à calma. "Já
demonstrámos o que tínhamos de demonstrar ao poder político, recuem",
gritava um elemento da coordenadora.
Antes de se
instalar um verdadeiro frente-a-frente entre as duas facções de polícias, os
mais de 15 mil manifestantes - contas da organização - cantaram o hino nacional
e aplaudiram os polícias de serviço, enquanto rebentavam petardos. À porta do
edifício da Assembleia da República mantiveram-se, durante toda a manifestação,
mais de 80 militares da Unidade de Intervenção da GNR. Pouco depois das 20h30,
a PSP foi obrigada a atravessar carrinhas de choque nas laterais de acesso ao
parlamento, para prevenir eventuais investidas de manifestantes. Minutos mais tarde,
a coordenadora anunciava que a comissão organizadora iria ser recebida por
Assunção Esteves. Um representante de cada estrutura sindical entregou um
documento com uma série de exigências ao governo.
Ainda antes das
21h, o porta-voz do Comando Metropolitano de Lisboa admitia que a PSP já tinha
advertido a primeira linha de manifestantes para que desistissem de tentar
ultrapassar o cordão de elementos do Corpo de Intervenção. Caso contrário, a
polícia teria "legitimidade para usar a força, de modo a garantir o
legítimo direito à manifestação dos restantes manifestantes", admitia Rui
Costa.
Recorde-se que a
Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) autorizou o Ministério da
Administração Interna (MAI) a filmar o protesto, com a condição de que não fosse
recolhido som - só imagens - e que as filmagens não fossem usadas para efeitos
disciplinares. Apenas para investigação criminal, no caso de eventuais
problemas.
AS RAZÕES DOS
POLÍCIAS
Três meses e meio depois da manifestação em que os polícias
subiram a escadaria do parlamento, os sindicatos e as associações da GNR, PSP,
Polícia Marítima, SEF, ASAE e Corpo da Guarda Prisional voltaram a lembrar ao
governo que não têm condições para trabalhar.
Antes do desfile, e
num gesto de união inédita entre forças de segurança, os líderes de cada
associação discursaram. César Nogueira, da GNR, lembrou que os militares
continuam sem horário de trabalho e com direito a apenas uma folga por semana.
"O ministro [da Administração Interna] está sozinho, isolado e sem condições
para continuar", garantiu. Paulo Rodrigues, da PSP, exigiu
"dignidade" para os profissionais das forças de segurança e Acácio
Pereira, do SEF, queixou-se dos cortes nos salários, "que regressaram ao
nível de 2011". Já a Polícia Marítima pediu "mais efectivos" e
"uma definição das suas atribuições".
Perímetro da
Assembleia começou a ser preparado várias horas antes
Os parques de
estacionamento exteriores da Assembleia da República começaram cedo a ser
esvaziados para esperar uma das maiores manifestação de sempre das forças de
segurança. Um protesto que surgiu três meses após a invasão das escadarias.
Desde as primeiras horas da manhã que grades e baias de segurança estavam
colocadas em todo o perímetro do parlamento, estando interdito o estacionamento
de viaturas de serviço, da comunicação social ou de visitantes.
Mais de 100 elementos do Corpo de Intervenção (CI) da PSP do Porto e de Faro
foram mobilizados para reforçar o policiamento. Estes elementos juntaram-se aos
cerca de uma centena de elementos do CI de Lisboa, cujo efectivo foi todo
mobilizado para fazerem a segurança do protesto, à excepção dos que pertencem
aos sindicatos da PSP. Quanto ao modo de actuação, houve ordem prévia
para não haver bastonadas nem cargas policiais, contou à Lusa fonte policial. A
estratégia passou sobretudo dar mais visibilidade à presença policial
junto ao parlamento para tentar evitar que os polícias subissem a escadaria do
parlamento. Segundo o jornal “Público”, a indicação mais sublinhada foi a de recorrer
ao gás lacrimogéneo para fazer dispersar os manifestantes. Dentro da
Assembleia, logo à entrada, foi um grupo Pelotão de Manutenção da Ordem Pública
da GNR com cerca de 80 homens que ficou com a missão de garantir a segurança.
Após os incidentes de Novembro, o então director nacional da PSP,
superintendente Paulo Valente Gomes, colocou o seu lugar à disposição e a IGAI
abriu um processo de averiguações aos acontecimentos e a Procuradoria-Geral da
República também abriu um inquérito, que se encontram em investigação.
Carlos Diogo Santos
Com Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário