terça-feira, 4 de março de 2014

Presidente do tribunal de recurso de Timor garante que não há dificuldades na Justiça




Díli, 03 mar (Lusa) - O novo presidente do Tribunal de Recurso timorense, Guilhermino da Silva, afirmou hoje que, ao contrário do que alguns pretendem fazer crer, "não se vive em Timor-Leste um tempo difícil para a justiça".

Guilhermino da Silva falava na cerimónia de tomada de posse como presidente do Tribunal de Recurso, após o pedido de demissão do cargo do juiz desembargador Cláudio Ximenes.

"Ao contrário do que alguns pretendem fazer crer, não se vive em Timor-Leste um tempo difícil para a Justiça, pela simples razão de que o sistema judicial está orientado para o país, para o povo, em nome do qual a justiça é administrada", afirmou Guilhermino da Silva, no seu discurso de tomada de posse.

No discurso, o juiz Guilhermino da Silva salientou também que a atual situação do país de desenvolvimento económico e social "alerta" todos os responsáveis "pela justiça em Timor-Leste para a necessidade de uma cultura de responsabilidade em que prevaleçam os princípios da independência, da isenção e da defesa dos direitos dos cidadãos".

"Para que o Estado de Direito seja, para o comum dos cidadãos, uma realidade palpável é essencial que as instituições funcionem e que cada qual faça bem o trabalho que lhe compete", disse.

O ex-presidente do Tribunal de Recurso Cláudio Ximenes afirmou em comunicado que se demitiu, porque quer contribuir para que os tribunais façam justiça e não vinganças pessoais.

No comunicado, o juiz Cláudio Ximenes explica também que "fazer justiça sempre foi dar razão a quem, segundo a lei e os fatos provados, tem razão, e punir, na medida justa, quem, de acordo com a lei e os factos provados, deva ser punido".

"Mas o que vejo desde 2012 até aqui, nomeadamente a propósito dos processos de Lúcia Lobato e de Francisco Moniz Pereira, constitui violação desses princípios e abala a confiança nos tribunais, sobretudo no Tribunal de Recurso, que é a instância judicial máxima de Timor-Leste", salienta no documento.

Em outubro, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) pediu no parlamento a substituição do presidente do Tribunal de Recurso timorense, após o plenário daquele órgão ter deferido um pedido de suspeição contra o juiz Cláudio Ximenes por violação do estatuto de imparcialidade.

O plenário do Tribunal de Recurso de Timor-Leste deferiu em agosto esse pedido de suspeição contra Cláudio Ximenes na sequência de queixa apresentada pelo Ministério Público relativa aos processos da ex-ministra da Justiça Lúcia Lobato, condenada a cinco anos de prisão por participação económica em negócio.

Cláudio Ximenes foi, assim, impedido de participar nos processos relativos à antiga ministra da Justiça, presa em janeiro de 2013 por participação económica em negócio.

Em janeiro, na sequência de um pedido de 'habeas corpus' apresentado pela defesa de Lúcia Lobato por alegadas inconstitucionalidades e erros processuais, o presidente do Tribunal de Recurso de Timor-Leste votou a favor do 'habeas corpus', considerando ilegal a prisão da ex-ministra.

O juiz Cláudio Ximenes afirmou no voto vencido que a prisão deveria ser considerada ilegal "por ter sido baseada em decisão condenatória não transitada".

O novo presidente do Tribunal de Recurso iniciou a sua carreira de juiz em 2000, no Tribunal Distrital do Suai, do qual foi presidente, e onde esteve até 2005.

Em julho de 2007, foi colocado no Tribunal Distrital de Díli.

O juiz Guilhermino da Silva licenciou-se em Direito em 1991 e fez cursos de formação no Centro de Estudos Judiciários, em Lisboa, em 2003-2004, e no Centro de Formação Jurídica, em Díli, em 2005-2006.

MSE // PMC - Lusa

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