Aliar-se com os
neonazistas na Ucrânia: de todos os planos idiotas que Washington elaborou nos
últimos dois anos, este é o mais idiota de todos.
Mike Whitney –
CounterPunch, em Carta Maior
“Washington e
Bruxelas apoiaram um golpe nazista, realizado por insurgentes, terroristas e
políticos da ultradireita europeia para atender aos interesses geopolíticos do
Ocidente" - Natalia Vitrenko , do Partido Socialista Progressista da Ucrânia
Como você provavelmente já sabe, Obama e companhia ajudaram a depor o
presidente democraticamente eleito da Ucrânia , Viktor Yanukovych , com a ajuda
de ultra- direita , paramilitares, gangues neonazistas que invadiram e
queimaram escritórios do governo , mataram soldados da tropa de choque, e
espalharam o caos e terror em todo o país . Estes são os novos aliados dos
Estados Unidos no grande jogo para estabelecer uma cabeça de ponte na Ásia,
empurrando os russos mais para o leste, derrubando governos eleitos, garantindo
corredores de oleodutos e gasodutos vitais, acessando escassas reservas de
petróleo e gás natural e trabalhando pela desmontagem da Federação Russa,
segundo a estratégia geopolítica proposta por Zbigniew Brzezinski .
A grande obra de Brzezinski, “The Grand Chessboard: American Primacy and it’s
Geostrategic Imperatives”(O Grande Tabuleiro de Xadrez: a Primazia Americana e
seus Imperativos Geoestratégicos), tornou-se o Mein Kampf de
aspirantes imperialistas ocidentais. O livro fornece a estrutura básica para o
estabelecimento da hegemonia militar, política e econômica dos EUA na região
mais promissora e próspera do século, na Ásia . Em um artigo publicado na Foreign
Affairs, Brzezinski apresentou suas idéias sobre como neutralizar a Rússia,
dividindo o país em partes menores e permitindo, assim, que os EUA mantenham
seu papel dominante na região, sem ameaças, desafios ou interferências. Aqui
está um trecho do artigo:
"Dado o tamanho (da Rússia) e sua diversidade, um sistema político
descentralizado e uma economia de livre mercado seriam a mais provável via para
desencadear o potencial criativo do povo russo e (explorar) os vastos recursos
naturais da Rússia. Uma Rússia vagamente confederada - composta por uma Rússia
européia, uma república da Sibéria, e uma república do Extremo Oriente - também
tornaria mais fácil cultivar relações econômicas mais estreitas com seus
vizinhos. Cada um dessas regiões confederadas seria capaz de explorar o seu
potencial criativo local, sufocado por séculos de controle da mão burocrática
pesada de Moscou. Além disso, a Rússia descentralizada seria menos suscetível a
uma mobilização de tipo imperial”. (Zbigniew Brzezinski , "A
Geoestratégia para a Eurasia ")
Moscou, é claro, está ciente dessa estratégia de dividir e conquistar de
Washington, mas minimizou a questão, a fim de evitar um confronto. O golpe de
Estado apoiado pelos EUA na Ucrânia significa que essa opção não é mais viável.
A Rússia terá de responder a uma provocação que ameaça tanto a sua segurança
como seus interesses vitais na região. Os primeiros informes indicam que Putin
já mobilizou tropas para a região e, segundo a Reuters, colocou caças ao longo
de suas fronteiras ocidentais em alerta de combate:
"Os Estados Unidos dizem que qualquer ação militar russa seria um erro
grave. Mas o Ministério de Relações Exteriores da Rússia disse em um comunicado
que Moscou defenderá os direitos de seus compatriotas e reagirá a
qualquer violação desses direitos."(Reuters)
Não vai ser um confronto, é só uma questão de saber se a luta terá uma escalada
ou não.
A fim de derrubar Yanukovych, os EUA apoiaram tacitamente grupos fanáticos de
bandidos neonazistas e antissemitas. E, apesar do presidente interino
ucraniano, Oleksander Tuchynov, ter se comprometido a “fazer tudo ao seu alcance”
para proteger a comunidade judaica do país, os informes não são animadores.
Aqui está um trecho de uma declaração de Natalia Vitrenko, do Partido
Socialista Progressista da Ucrânia que sugere que a situação é muito pior do
que a que está sendo relatada na mídia:
"Por todo o país, pessoas estão sendo espancadas e apedrejadas, enquanto
os membros “indesejáveis” do Parlamento da Ucrânia estão sofrendo intimidação
em massa. As autoridades locais vêem suas famílias e crianças sendo alvo de
ameaças de morte caso não apoiem a instalação deste novo poder político. As
novas autoridades ucranianas estão maciçamente queimando os escritórios de
partidos políticos adversários, e anunciaram publicamente a ameaça de processo
criminal e proibição de partidos políticos e organizações públicas que não
compartilham a ideologia e os objetivos do novo regime." (“EUA
e UE estão erguendo um regime nazista em território ucraniano" ,
Natalia Vitrenko )
Na semana passada, o jornal israelense Haaretz relatou que uma sinagoga
ucraniana havia sido atacada com coquetéis molotov que “atingiram paredes de
pedra exteriores da sinagoga e causaram poucos danos".
Outro artigo no Haaretz referiu-se ao que chamou de “novo dilema para os
judeus na Ucrânia" . Aqui está um trecho do artigo :
"A maior preocupação agora não é o aumento nos incidentes antissemitas,
mas a grande presença de movimentos ultra-nacionalistas, especialmente a
proeminência de membros do partido Svoboda e do Pravy Sektor entre os
manifestantes . Muitos deles estão chamando seus adversários políticos de
"zhids" (termo racista para designar os judeus) e portam bandeiras
com símbolos neonazistas. Há também relatos, a partir de fontes confiáveis, de
que esses movimentos estão distribuindo edições recém- traduzidas de “Mein
Kampf” e dos “Protocolos dos Sábios de Sião”, na Praça da Independência. " ("Antissemitismo,
embora uma ameaça real, está sendo usado pelo Kremlin como um jogo
político", Haaretz)
Outro relato, feito pelo Dr. Inna Rogatchi em Arutz Sheva:
"Não há nenhum segredo sobre a agenda política real e os programas dos
partidos ultra- nacionalistas na Ucrânia. Não há nada perto de valores e
objetivos europeus lá. Basta ler os documentos existentes e ouvir o que os
representantes desses partidos proclamam diariamente. Eles são fortemente
anti-europeu e altamente racistas. Eles não têm nada a ver com os valores e
práticas do mundo civilizado”.
“O judaísmo ucraniano está enfrentando uma ameaça real e séria. Fortalecer os
movimentos abertamente neonazistas na Europa e ignorar a ameaça que eles
representam é um negócio totalmente arriscado. As pessoas poderão ter que pagar
um preço terrível - mais uma vez – por causa da fraqueza e da indiferença de
seus líderes. A Ucrânia, hoje, tornou-se um case trágico para toda a Europa no
que diz respeito à reprodução e autorização para o discurso do ódio tornar-se
uma força violenta e incontrolável. É imperativo lidar com a situação no país,
de acordo com a lei e as normas da civilização internacional existente." ("Chá
com neonazistas: O nacionalismo violento na Ucrânia" , Arutz
Sheva)
Aqui está um pouco mais sobre o tema, um texto do analista Stephen Lendmen,
publicado dia 25 de fevereiro ("New York Times: apoiando a ilegalidade
imperial dos EUA") :
"Washington apoia abertamente o líder fascista do partido Svoboda, Oleh
Tyahnybok. Em 2004, Tyahnybok foi expulso da facção parlamentar do
ex-presidente Viktor Yushchenko. Ele foi condenado por conclamar os ucranianos
a lutar contra o que chamou de máfia moscovita-judaica."
“Em 2005, ele denunciou "atividades criminosas " do "judaísmo
organizado”. Ele alegou escandalosamente que os judeus eles planejavam um
"genocídio" contra os ucranianos" (...)
“O extremismo de Tyahnybok não impediu a secretária de Estado adjunta para
Assuntos Europeus e da Eurásia, Victoria Nuland, a se reunir abertamente com
ele e com outros líderes anti-governamentais no dia 6 de fevereiro”.(...)
“No início de janeiro, cerca de 15 mil ultranacionalistas realizaram uma marcha
com tochas em Kiev. Eles fizeram isso para homenagear Stepan Bandera, assassino
e colaborador da era nazista. Alguns usavam uniformes de uma divisão da
Wehrmacht ucraniana usados na Segunda Guerra Mundial. Outros gritavam "
Ucrânia acima de tudo" e " Bandera, venha e traga a ordem. " (blog
de Steve Lendman)
A mídia dos EUA minimizou os elementos fascistas, neonazistas e de "pureza
étnica" do golpe de Estado ucraniano , a fim de se concentrar no que eles
pensam - são "temas mais positivos", como a derrubada das estátuas de
Lenin ou a proibição de membros do Partido Comunista de participar no
Parlamento . Na avaliação da mídia, estes são todos sinais de progresso.
A Ucrânia está sucumbindo gradualmente para o abraço amoroso da Nova Ordem
Mundial, onde vai servir como mais uma fonte de lucro na roda de Wall Street.
Essa é a tese, pelo menos. Não ocorreu aos editorialistas do New York Times ou
do Washington Post que a Ucrânia está despencando rapidamente para uma situação
do tipo “Mad Max” (o filme), uma anarquia que poderia transbordar suas
fronteiras para os países vizinhos, provocando incêndios violentos, agitação
social, instabilidade regional ou - deus nos livre- uma terceira guerra
mundial. Eles só parecem ver movimentos dourados, como se tudo estivesse indo
conforme o planejado. Todos, da Eurásia ao Oriente Médio, estão sendo
pacificados e integrados em um governo mundial supervisionado pelo Executivo
unitário, onde as empresas e instituições financeiras controlam as alavancas do
poder por trás das telas divisórias imperiais. O que poderia dar errado?
Naturalmente, a Rússia está preocupada com a evolução da situação na Ucrânia,
mas não tem certeza de como reagir. Veja o que disse o primeiro ministro Dmitry
Medvedev dias atrás:
"Nós não entendemos o que está acontecendo lá. A ameaça real para os
nossos interesses (existe) e tambén para a vida e a saúde dos nossos cidadãos.
Estritamente falando, hoje não há ninguém lá para se conversar. Se você acha
que as pessoas usando máscaras pretas e agitando Kalashnikovs representam um
governo, então será difícil para nós trabalhar com esse governo."
Claramente, o governo de Moscou está preocupado. Ninguém espera que a única
superpotência do mundo se comporte dessa forma irracional em todo o planeta,
alimentando a criação de um Estado falido após o outro, fomentando revoltas,
criando ódio e espalhando miséria por onde passa. No momento, a equipe de Obama
está trabalhando a todo vapor tentando derrubar regimes na Síria, Venezuela,
Ucrânia e deus sabe onde mais. Ao mesmo tempo, as operações no Afeganistão
falharam, Iraque e Líbia estão sendo governados por senhores da guerra
regionais e milícias armadas. Medvedev tem todo o direito de estar preocupado.
Quem não estaria? Os EUA têm saído dos trilhos, de um modo completamente louco.
A arquitetura para a segurança mundial entrou em colapso, enquanto os
princípios básicos do direito internacional foram alijados. O rolo compressor
furioso dos EUA dá guinadas de um confronto violento para o outro, de um modo
irracional, destruindo tudo em seu caminho, forçando milhões de pessoas a fugir
de seus próprios países, e empurrando o mundo para mais perto do abismo. Isso
não é motivo suficiente para se preocupar?
Agora Obama está se aliando com os nazistas. É apenas a cereja no topo do bolo.
Confira esta sinopse do mais recente texto de Max Blumenthal, intitulado
"Os EUA estão trazendo os neonazistas na Ucrânia?":
"O Setor Direito (Right Sector) é um sindicato sombrio de auto-denominados
nacionalistas autônomos, identificados pelo seu estilo skinhead de vestir, com
um estilo de vida ascético, e fascínio pela violência nas ruas. Armados com
escudos, os membros desse grupo têm ocupado as linhas de frente das batalhas,
enchendo o ar com seu slogan favorito: "Ucrânia acima de tudo!" Em um
recente vídeo de propaganda, o grupo prometeu lutar "contra a degeneração
e o liberalismo totalitário , pela moralidade e pelos valores familiares
tradicionais nacionais “.
Com o partido Svoboda ligado a uma constelação de partidos neofascistas
internacionais através da Aliança dos Movimentos Nacionais Europeus, o Setor
Direito promete levar seu exército de jovens desiludidos sem rumo para
"uma grande Reconquista Europeia. ("Is the U.S. Backing
Neo-Nazis in Ukraine? Exposing troubling ties in the U.S. to overt Nazi and
fascist protesters in Ukraine”, Max Blumenthal, AlterNet).
"Valores
familiares" ? Onde já ouvimos isso antes?
É claro que Obama e seus assessores acham que têm controle sobre tudo isso e
podem domar este covil de víboras para seguir as diretrizes de Washington, mas
na minha opinião isso soa como uma má aposta. Estamos falando de neonazistas
hard-core aqui. Eles não serão comprados, cooptados ou intimidados . Eles têm
uma agenda e pretendem executá-la até o seu último suspiro.
De todos os planos idiotas que Washington elaborou nos últimos dois anos, este
é o mais idiota de todos.
Tradução: Louise Antonia León
Sem comentários:
Enviar um comentário