Maria
Balyabina – Voz da Rússia
Os ativistas que ocuparam a sede local do Serviço de Segurança
da Ucrânia em Lugansk afirmam que a cidade se prepara para seguir o exemplo de
Carcóvia e Donetsk, que proclamaram “Repúblicas Populares”.
Em Lugansk, tal como nas regiões vizinhas, os manifestantes
preparam-se para rechaçar o assalto policial, que pode ocorrer nos próximos
dias. Enquanto isso, em Carcóvia foram processados quatro manifestantes,
detidos terça-feira.
Os ativistas pró-russos que bloqueiam a sede do Serviço de
Segurança em Lugansk lançaram um manifesto aos cidadãos onde dizem que “não
admitem o golpe militar de Kiev”. Os manifestantes explicaram que as suas ações
são motivadas pelo desejo de resistir à “junta de Kiev” e às suas reformas no
Sudeste do país.
No intuito de manifestar o seu apoio aos manifestantes, os
habitantes de Lugansk organizaram um acampamento junto da sede do Serviço de
Segurança da Ucrânia. As pessoas, desarmadas, que cercaram este prédio estão
prontas a enfrentar os agentes de operações especiais ucranianos e os radicais
das organizações nazistas, diz o politólogo Alexander Gusev.
“Esta é uma prova de que as pessoas passaram a ter consciência
da necessidade do avançar sem o poder ucraniano e apoiaram os que protestam em
Carcóvia e em Donetsk. No plano econômico, são precisamente estas regiões que
formam a base do sistema. Elas já estão cansadas de saber que as autoridades as
enganam, que não resolvem os seus problemas, não cuidam delas e espalham boatos
de que estas regiões vivem à custa das subvenções do governo central”.
Enquanto o ministro do Interior da Ucrânia, nomeado pela
Suprema Rada, isto é, o parlamento ucraniano, está disposto basicamente a
esmagar o protesto à força bruta, os manifestantes propõem um modo político de
solução do conflito. O quartel-general da resistência popular informa que os
representantes do grupo promotor realizam conversações com os representantes
das autoridades de Kiev e procuram explicar-lhes as suas exigências.
Mas é pouco provável que as autoridades autonomeadas de Kiev,
que tratam agora de enviar para o Leste do país tropas nazistas e unidades
blindadas, sejam capazes de fazer alguma concessão. Elas encaram estas regiões
como suas colônias, entregam o poder local aos oligarcas e praticamente
entregam a população, como servos, juntamente com os territórios onde vivem,
afirma o analista especializado em problemas ucranianos Bogdan Bespalko.
“Alguém pode fazer concessões quando reconhece o direito do
interlocutor à sua própria opinião mas as autoridades de Kiev não encaram esta
gente como interlocutores iguais. É possível que haja concessões, mas elas não
irão ultrapassar o limite de concessões táticas. "Vamos prometer tudo que
quisermos e mais tarde vamos enforcar-los". Se os políticos ucranianos
fossem sábios, nomeariam Gubarev chefe da região de Donbass. Então a tendência
de repulsa em relação ao poder central seria muito menor. Mas imaginar um
governo golpista central - produto da ideologia nacionalista, empenhando-se em
conceder amplos direitos aos habitantes da Novorossia, isto é, ao Sudeste da
Ucrânia, seria o mesmo que imaginar Hitler empenhando-se em conceder direitos
aos judeus do Terceiro Reich”.
Os preparativos para rechaçar o assalto realizam-se não somente
em Lugansk. O grupo promotor que bloqueou a sede da administração regional de
Donetsk também se recusa a deixar as suas posições e fortalece as barricadas
nas proximidades do edifício. Centenas de militantes continuam na rua
aguardando o assalto a qualquer instante. O quartel-general da milícia popular
afirma que, se for necessário, poderá reunir até dez mil partidários.
Aí não admitem que seja repetido o roteiro de Carcóvia, onde a
milícia popular foi expulsa da sede da administração local dois dias depois de
a ter ocupado. Naquele caso foram presos mais de sessenta militantes. Quatro
deles já foram processados. O tribunal determinou que três deles devem pagar
uma caução no valor de cerca de 15 mil dólares e para o quarto, a soma da
caução ultrapassa os sete mil dólares. Tem-se a impressão de que as autoridades
estão atemorizadas, elas próprias, com o eventual emprego da força e cuidam de
“fazer marcha atrás”. É que as medidas duras irão agravar a situação ainda
mais”, assevera Bogdan Bespalko.
“Esta gente será metida em prisão preventiva ou transferida
para Kiev. Neste caso não teremos nenhuma informação dela. Mas vemos que a
detenção de Gubarev, da mesma maneira que a detenção de Davydchenko, não fazem
as pessoas renunciar à luta. Ocorre o contrário, em seu lugar vêm novos
ativistas. Ao acionar o “rolo compressor” das repressões, eles intensificam
também a campanha de protestos no Sudeste. A detenção ou outra medida coerciva,
caso seja muito cruel, de nada adianta para cessar os protestos em Carcóvia e
em outras regiões”.
No entanto, o agravamento da situação pode ser, inclusive, vantajoso
para certas forças em Kiev que pretendem frustrar a realização das eleições
marcadas para maio deste ano. Em particular, os peritos são unânimes na opinião
de que este roteiro será conveniente para Yulia Tymoshenko que está perdendo a
corrida eleitoral para o seu adversário mais próximo, Piotr Poroshenko.
Foto RIA Novosti/Irina Gorbaseva
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