Uma estratégia
comprovada pelo ministro da Energia de Moçambique, Salvador Namburete, a
representar o país em Hamburgo, no VIII Fórum de Energia Alemanha-África, que
termina esta terça-feira (15.04).
Entre 2004 e 2014,
o crescimento da taxa de acesso à energia em Moçambique foi de 40%. Até então,
segundo dados do Ministério de Energia, apenas 7% da população moçambicana
tinha acesso à eletricidade. Nas zonas rurais, a situação era ainda mais
crítica.
Este aumento é resultado do programa de expansão da electrificação rural
estabelecido pelo Governo, revelou o ministro da Energia do país, Salvador
Namburete, em entrevista exclusiva à DW África. Um modelo que foi implementado
em zonas onde o aumento do acesso à eletricidade se tinha já mostrado
dispendioso.
Namburete afirma
que "houve uma transferência de recursos das zonas mais lucrativas para as
zonas menos lucrativas para garantir que ao longo do tempo as diferenças, as
chamadas assimetrias regionais, possam ser reduzidas, dando a todos e em toda a
extensão do território nacional as mesmas oportunidades de se desenvolverem”.
A importância de
ruralizar a energia
Segundo o
governante moçambicano, “é preciso levar a energia para o campo porque a única
forma de promover o desenvolvimento do campo - o combate à pobreza nas zonas
rurais - é dando à população residente nessas regiões os meios que necessita
para produzir, para criar emprego e auto-emprego, aumentar a sua renda para
combater a pobreza. E uma das formas é providenciar o acesso à eletricidade”.
Com a electricidade vêm também os investimentos: comerciais, privados e
públicos. E muito mais pode ser ainda desenvolvido, como exemplifica o ministro
da Energia de Moçambique: “incluindo a possibilidade de os adultos estudarem à
noite, porque já há energia. As clínicas rurais também podem funcionar à noite.
Há emergências à noite e as senhoras podem ter os seus bebés em segurança
porque há energia. E todas as outras coisas, incluindo pequenos projetos de
produção de geração de rendimentos para melhorarem as suas vidas”.
Energias
renováveis, gás e carvão no futuro do país
Questionado sobre
os futuros planos de Maputo para o setor energético, Salvador Namburete
adiantou que o lema é “utilizar todas as fontes de energia disponíveis no
país”. “O nosso planeamento a médio prazo prevê que até ao ano 2030 possamos
ter uma matriz energética em que 55% provém das energias renováveis, 25%
provirá do carvão e 25% do gás", explica, acrescentando que estes
"não são números muito rígidos". "São números aproximados e tudo
vai ser feito para os atingirmos. Temos recursos hídricos abundantes, para
podermos desenvolver muita energia hídrica. Temos muito gás e muito carvão.
Temos uma das maiores reservas de carvão do mundo. Temos também uma das maiores
reservas de gás do mundo. Então, não podemos abandonar nenhum dos
recursos", continua.
E isso implica não deixar de lado o carvão, fonte de energia muito poluente
cuja utilização é muito contestada na Alemanha: “a filosofia de base é essa: o
carvão é uma energia que nós temos", resume o governante. "Hoje já
existem e amanhã até podem ser melhoradas tecnologias para produzir energia a
partir do carvão com menos impacto ambiental. Sinto que não é só o caso de
Moçambique. O mundo não está preparado para ficar sem o carvão como fonte de
energia. Por isso é que temos investimentos de grande vulto para a exploração e
extracção de carvão em Moçambique. Outros países estão a importar. E outros
países estão-se a preparar para continuara a usar o carvão com tecnologias
melhoradas", explica Namburete.
É seguro investir
em Moçambique?
Parceiro
estratégico do Governo moçambicano, a Alemanha participa neste momento em
vários projectos de desenvolvimento do sector energético no país,
principalmente na área das energias renováveis. Sobre o que espera Moçambique
dos investidores alemães, o ministro da Energia responde: “a tecnologia alemã é
boa. Esperamos que a Alemanha continue competitiva no fornecimento de
tecnologias para a produção de energia no país, não só a nível de energia
hidroelétrica, mas também ao nível do gás, bem como em centrais de carvão. E há
outras iniciativas, por exemplo, até há empresas alemãs envolvidas na
transformação do carvão residual em combustíveis líquidos.”
Mas, face à atual situação política do país, será seguro para os alemães
continuar a investir em Moçambique? “As questões políticas que aconteceram
criaram certas preocupações e alguma instabilidade muito localizada, em
particular em alguns pontos da província de Sofala", começa por dizer o
ministro moçambicano, explicando, no entanto, que "isso não perturbou a
estabilidade do país".
"O país
continua a produzir. É verdade que naquele segmento as pessoas começaram a
circular protegidas por colunas militares porque havia ali incursões e ataques
da RENAMO. Parece que todas as condições estão criadas neste momento e podemos
assegurar aos investidores alemães que o país nunca deixou de ser estável. E
vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para repor a estabilidade total
nessas zonas que tinham sido afectadas”.
Deutsche Welle - Autoria:
Ludger Schadomsky / Madalena Sampaio – Edição: Maria João Pinto / António Rocha
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