Estatísticas do
Ministério da Economia apontam para 276 mil trabalhadores com salário
mínimo em 2012. Sindicatos falam em 500 ou 600 mil.
Raquel Albuquerque
- Expresso
Num momento em que se discute o aumento do salário mínimo, congelado desde
2011, há uma questão central: quantos trabalhadores recebem 485 euros? São
vários os cálculos e estimativas, mas não há uma resposta única.
De acordo com
dados do Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia,
relativos a abril de 2013, conclui-se que 11,7% do total de trabalhadores por
conta de outrem, a tempo completo, recebiam o salário mínimo. Comparado com
2012, em que a proporção era de 12,7%, o valor desceu.
Só que este número
é calculado com base numa amostra, não inclui a administração pública central e
local, nem algumas atividades económicas como a agricultura, pecando assim por
defeito.
A outra fonte
disponível são os quadros de pessoal, uma base de dados do Ministério da
Economia resultante da informação prestada pelas empresas. Nos mais recentes,
de outubro de 2012, 14,4% dos trabalhadores por conta de outrem, a tempo
completo, recebiam 485 euros. São 276 mil trabalhadores, "a tempo
completo, tendo trabalhado o mês completo, auferindo remuneração
completa", explica em detalhe o gabinete de estudos.
O número sobe para
344 mil se tivermos como base de referência o total de trabalhadores por conta
de outrem. Dados mais abrangentes que estes não existem, de acordo com o
gabinete, visto não haver outra fonte com valores absolutos para todas as
atividades económicas do setor público e privado.
De 400 mil a 600
mil
Quanto ao setor
público, José Abraão, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da
Administração Pública (Sintap), esclarece que existem cerca de 20 mil
funcionários públicos a receber o salário mínimo. Alguns deles, aponta José
Abraão ao Expresso, vivem no "limiar da pobreza". São
trabalhadores de setores como a Educação, Saúde e Autarquias, admitidos
sobretudo a partir de 1 de janeiro de 2009.
Face aos 276 mil
apontados pelo Ministério da Economia para o setor privado, José Abraão lembra
que ficam de fora as situações laborais não registadas, acreditando que o
número esteja acima dos 500 mil trabalhadores, aos quais se somam os
funcionários públicos.
Para Arménio
Carlos, secretário-geral da CGTP, "o número é significativamente
superior" ao que é indicado pelo Ministério da Economia, apontando para
"mais de 400 mil", valor a que chega após amostras feitas pelo
sindicato perante as contratações e os salários oferecidos aos trabalhadores.
"Temos também uma camada muito vasta de pessoas, próxima das dezenas de
milhares de trabalhadores, que recebem pouco mais acima do salário
mínimo", acrescenta.
O presidente da
Confederação de Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes,
aponta para 400 mil ou 500 mil, referindo ser no comércio, restauração e
serviços que estão os trabalhadores com salários mais baixos.
João Vieira Lopes
sustenta que a precisão no número é "importante para ver o efeito na
segurança social", mas que não é o ponto de maior relevância para a
discussão política. A prioridade da CCP, afirma, é garantir que o aumento só
tenha efeitos a partir de 1 de janeiro, de maneira a assegurar que as empresas
conseguem reagir a essa alteração. "Se subir a meio do ano, uma empresa
pode ir à falência."
Do lado da UGT,
Carlos Silva, secretário-geral, aponta para que 12% da população ativa esteja a
receber o salário mínimo, ou seja, um total de aproximadamente 600 mil
funcionários.
As explicações do
Governo
Segundo o gabinete
de estudos do Ministério da Economia, os valores que rondam os 500 mil ou 600
mil trabalhadores resultam da aplicação da proporção avançada pelo inquérito
(os 11,7% relativos aos trabalhadores por conta de outrem) sobre os números
totais da população empregada - chegando assim a valores muito acima dos que
são apontados pelas suas estatísticas.
Contrastando com a
descida apontada pelo Ministério da Economia para o ano de 2013, para trás fica
uma tendência oposta. Entre 2007 e 2012, o número de trabalhadores com o
salário mínimo subiu para mais do dobro (de 5,5% em 2007 para 12,7% em
2012).
Quanto ao intervalo
remuneratório apresentado nos quadros de pessoal, conclui-se ainda que 41,8%
dos trabalhadores recebem menos de 600 euros, correspondendo a cerca de 998 mil
pessoas.
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