A Sãozinha lá
se espalhou outra vez. Quando abre a boca até parece que foi nascida na
Banharia, repleta de caragos, de alhos e bugalhos. Quanto se sabe esta Sãozinha
não é filha do murcão que andava a vender os vira-vento lá pelo mercado do
Bulhão, que pela surra também vendia preservativos (camisas de vénus) numas
caixas que pareciam de fósforos mas não eram. Ele tinha uma filha Sãozinha, lá
isso tinha, mas não esta. De certeza, porque essa Sãozinha faleceu tuberculosa.
Outros tempos, também muito difíceis graças ao salazarismo. O pai, esse tal
murcão era um enorme desbocado, o seu léxico era constituído por palavrões
dizeres e respostas inadequadas, desrespeitosas. Por isso não cativava nem
fazia amigos fora dos seus iguais. O que fazia sempre que abria a boca era
inimigos ou, pelo menos, quem o abominasse. A Sãozinha, ao que se presume, não
é filha daquele murcão, por isso não aprendeu com ele, nem deve ter nascido na
Banharia (cá pelo Porto). Pois se calhar não. Mas olhem que até parece que sim.
E é ela a segunda figura da República Portuguesa. Que vergonha. Pensando bem,
afinal, a Sãozinha e Cavaco (primeira figura) até fazem um bom par-de-jarras.
Ou de bestas. “O problema é deles”, disse a Sãozinha, já agastada, sobre a fala
ou não fala dos Capitães de Abril. Esqueceu-se a Sãozinha que graças a
esses Capitães de Abril é que ela enche os alforges de euros e mordomias
escandalosas e que só por eles, pela sua ação em 25 de Abril de 1974 –
juntamente com o povo português e os partidos anti-fascistas então na
clandestinidade – é que ela, a Sãozinha, se senta na cadeira de Presidente da
Assembleia da República. E que por isso é que os seus correlegionários do PSD e
do CDS têm oportunidade de andar a brincar ao faz-de-conta da democracia.
Desbocada como o murcão dos vira-vento. Carago, Sãozinha, deixou de ser pobre à
custa do 25 de Abril e da política mas olhe que é muito mal agradecida. Até
parece que nasceu mesmo na Banharia e que faz garbo disso quando abre a boca e
solta bacoradas indignas do seu cargo político. Valha-a a santinha das mulheres
da vida da Banharia. Ao menos isso e uma barra de sabão para lavar essa boca.
Pode lá ser, a Sãozinha ressuscitar e agora estar toda finória (quando não abre
a boca) na AR. E até reformada aos 42 anos. Que sorte. Ou será que nojo?
Graça Pádua – Balneário Público
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