sexta-feira, 27 de junho de 2014

Autoridades chinesas acusadas de negar comida a intelectual uigure detido




Pequim, 27 jun (Lusa) -- As autoridades recusaram dar de comer durante dez dias ao intelectual uigure Ilham Tohti, acusado de separatismo e que se encontra a aguardar julgamento na prisão, disse a sua advogada Wang Yu à agência Efe.

"Ele está bem, mas perdeu 16 quilos desde que foi detido", afirmou a advogada, depois de ter feito uma visita, esta quinta-feira, ao intelectual uigure, o que sucedeu pela primeira vez desde que Ilham Tohtifoi preso, em meados de janeiro.

Considerado um dos académicos mais proeminentes da etnia uigure da China, Ilham Tohti, 44 anos, foi detido depois de Pequim ter decidido reforçar a segurança em Xinjiang e endurecer a sua política relativamente aos grupos que denomina de "terroristas" e de "separatistas" na região.

O intelectual tem saído em defesa dos direitos uigures em Xinjiang, mostrando-se crítico em relação às políticas do Governo chinês na região autónoma, mas nunca terá advogado pela independência.

"Tohti insiste que é inocente e que tudo o que fez e disse foi pelo bem do país e da etnia han. Nunca apoiou o separatismo, apenas quer que a região do Xinjiang melhore, que a relação entre as etnias seja mais estável", assinalou Li Fangping, também advogado do académico.

Na visita de quinta-feira, Li e Wang ficaram a saber que as autoridades não alimentaram Tohti durante dez dias, depois de este realizado uma greve de fome por causa de as autoridades se terem negado a facultar-lhe comida halal na prisão, contou Wang.

"Depois da greve, que terminou quando lhe deram comida halal, as autoridades pararam, de repente, de lhe servir refeições, a 01 de março", disse a causídica.

Esse dia foi o mesmo em que um grupo de pessoas armadas com facas, alegadamente de etnia uigure, atacou dezenas de civis na estação de comboios de Kunming, capital da província de Yunnan, no sudoeste do país, fazendo 26 mortos e 143 feridos.

"Deram-lhe apenas um copo de água por dia. Ele sobreviveu com isso", salientou o advogado Li, denunciando ainda que os guardas prisionais também deixaram Tohti com os pés acorrentados durante quase um mês.

Os advogados manifestaram o receio de que os recentes ataques ocorridos na região do Xinjiang -- às mãos de grupos separatistas uigures segundo a versão das autoridades -- possam ter consequências no caso de Tohti.

"Não sabemos o que vai acontecer. Temos ainda que compilar informação", disse Wang, assinalando que o intelectual, caso condenado, arrisca uma pena de dez anos de prisão e até a pena capital, se os juízes considerarem a ofensa grave.

Os conflitos naquela região do noroeste da China estenderam-se a outras províncias no ano passado, designadamente ao sul e mesmo a Pequim, onde um jipe com matrícula do Xinjiang abalroou a multidão que se encontrava junto à famosa Porta da Paz Celestial (Tiananmen), no centro da capital chinesa, incendiando-se de seguida, num incidente que resultou em cinco mortos e em dezenas de feridos.

O atentado foi atribuído a "extremistas religiosos" que promovem a "jihad" (guerra santa) e o separatismo.

Pelo menos dez ataques terroristas ocorreram no Xinjiang em 2013, causando mais de cem mortes, de acordo com dados de um jornal oficial chinês.

Território rico em petróleo e outros recursos minerais, com uma área equivalente à França, Espanha e Portugal juntos, o Xinjiang confina com o Paquistão, Afeganistão e várias repúblicas da Ásia Central que faziam parte da antiga União Soviética.

Segundo estatísticas oficiais, os uigures, povo de cultura turcófona e religião islâmica, representam 46,2% dos cerca de 22 milhões de habitantes de Xinjiang, mas há meio século, eram mais de dois terços.

Entretanto, milhares de famílias han, a principal etnia da China, começaram a radicar-se em Xinjiang e hoje constituem já cerca de 40% da população. Na capital, Urumqi, ultrapassaram mesmo os uigures.

DM (EJ) // DM - Lusa

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