Paulo
Morais* - Folha 8 – 21 junho 2014
A
influência política internacional de Eduardo dos Santos é crescente. O
presidente angolano tem utilizado magistralmente o poder político que obtém, a
partir de Portugal, para a sua estratégia de expansão internacional. Prepara-se
agora para ganhar ascendente na Comunidade de Países de Língua Portuguesa
(CPLP).
No
regime político português, Eduardo dos Santos colhe apoios na totalidade do
espectro partidário. Desde o Partido Comunista, de quem recebeu o poder
aquando da independência, à maioria governamental, social-democrata e
democrata cristã. Está ainda fortemente irmanado com o Partido Socialista, seu
parceiro na Internacional Socialista.
Para
além do ex-colonizador, Eduardo dos Santos, estende os seus tentáculos às
restantes estruturas governamentais dos países da CPLP. Tem em São Tomé e Príncipe,
produtor de petróleo, um fortíssimo aliado. Também em Timor-Leste, ex-colónia
portuguesa que possui jazidas significativas de petróleo, o regime está hoje
próximo de Eduardo dos Santos. O que é estranho e até angustiante, pois o
primeiro-ministro é o líder, herói e combatente rebelde Xanana Gusmão.
Muito
em breve, a CPLP irá admitir no seu seio a Guiné Equatorial, país que não
respeita os direitos humanos e onde a principal língua nem sequer é o
português. Apenas por interesse estratégico do negócio do petróleo. Será
admitido na próxima cimeira, em final de Julho, em Timor. Xanana Gusmão
convidou para organizar a cimeira o socialista e ex-ministro português dos negócios
estrangeiros, Luís Amado, que preside ao Banco Banif.
O
Banif beneficia agora duma entrada de capital da Guiné Equatorial. Com o
capital no Banif, a Guiné Equatorial paga a sua jóia de entrada na CPLP. Enquanto
Eduardo dos Santos reforça o seu poder na CPLP com este novo cúmplice. A CPLP
passa a ser uma comunidade de negócios petrolíferos e de energia, ao serviço
de Eduardo dos Santos.
A
SUA INFLUÊNCIA PESSOAL NA ÁREA DA ENERGIA É AGORA GLOBAL
E
Dos Santos nem precisa de anunciar os seus objectivos. Outros, numa atitude
de subserviência para com o poder corrupto de Angola, fazem-no por si. O
próprio primeiro ministro português Passos Coelho ainda recentemente salientou
que a CPLP “assume, crescentemente, uma dimensão energética”, referindo que
25% de todas as novas descobertas de petróleo e gás desde 2005 tiveram lugar em
países de língua portuguesa. Passos Coelho veio até sugerir a constituição de
um consórcio de empresas lusófonas para explorar as reservas existentes.
Entretanto,
no mesmo sentido, o presidente da Confederação Empresarial da CPLP, Salimo Abdula,
anunciou a realização nos dias 16 e 17 de Julho próximo, em Luanda, de um fórum
económico de desenvolvimento. Dias antes da cimeira de chefes de estado e de
governo, em Timor, momento em que a presidência passará das mãos de Guebuza
para as de Xanana Gusmão.
No
plano político internacional, Dos Santos impera. Está em via de conseguir
assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, apadrinhado pelos governos
brasileiro e chinês. Garantirá, deste modo, a sua própria segurança e
manutenção no cargo de presidente de Angola. Na vertente económica, o domínio
duma CPLP, transformada em comunidade de países produtores de petróleo e gás,
dar-lhe-á uma posição dominante no mercado energético mundial.
Com
a cumplicidade de quase toda a comunidade internacional, e enquanto o seu povo
vive com fome e morre na miséria, Eduardo dos Santos será um dos novos
imperadores do mundo contemporâneo. Suportado por políticos que, de várias
nacionalidades e com diferentes pronúncias, conjugam, em bom (mau) português o
verbo corromper.
*
Vice-Presidente da TIAC – Transparência e Integridade - Associação Cívica,
parceiro português da Transparency International
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