sexta-feira, 27 de junho de 2014

Eduardo dos Santos põe de joelhos parceiros da comunidade lusófona



Paulo Morais* - Folha 8 – 21 junho 2014

A influência política in­ternacional de Eduardo dos Santos é crescente. O presidente angolano tem utilizado magistralmente o poder político que obtém, a partir de Portugal, para a sua estratégia de expansão internacional. Prepara-se agora para ganhar ascen­dente na Comunidade de Países de Língua Portu­guesa (CPLP).

No regime político portu­guês, Eduardo dos Santos colhe apoios na totalida­de do espectro partidário. Desde o Partido Comu­nista, de quem recebeu o poder aquando da in­dependência, à maioria governamental, social-de­mocrata e democrata cris­tã. Está ainda fortemente irmanado com o Partido Socialista, seu parceiro na Internacional Socialista.

Para além do ex-colo­nizador, Eduardo dos Santos, estende os seus tentáculos às restantes estruturas governamen­tais dos países da CPLP. Tem em São Tomé e Príncipe, produtor de petróleo, um fortíssi­mo aliado. Também em Timor-Leste, ex-colónia portuguesa que possui ja­zidas significativas de pe­tróleo, o regime está hoje próximo de Eduardo dos Santos. O que é estranho e até angustiante, pois o primeiro-ministro é o lí­der, herói e combatente rebelde Xanana Gusmão.

Muito em breve, a CPLP irá admitir no seu seio a Guiné Equatorial, país que não respeita os di­reitos humanos e onde a principal língua nem sequer é o português. Apenas por interesse es­tratégico do negócio do petróleo. Será admitido na próxima cimeira, em final de Julho, em Timor. Xanana Gusmão con­vidou para organizar a cimeira o socialista e ex­-ministro português dos negócios estrangeiros, Luís Amado, que preside ao Banco Banif.

O Banif beneficia agora duma entrada de capi­tal da Guiné Equatorial. Com o capital no Banif, a Guiné Equatorial paga a sua jóia de entrada na CPLP. Enquanto Eduardo dos Santos reforça o seu poder na CPLP com este novo cúmplice. A CPLP passa a ser uma comuni­dade de negócios petro­líferos e de energia, ao serviço de Eduardo dos Santos.

A SUA INFLUÊNCIA PESSOAL NA ÁREA DA ENERGIA É AGORA GLOBAL

E Dos Santos nem precisa de anunciar os seus objec­tivos. Outros, numa atitu­de de subserviência para com o poder corrupto de Angola, fazem-no por si. O próprio primeiro ministro português Passos Coelho ainda recentemente sa­lientou que a CPLP “assu­me, crescentemente, uma dimensão energética”, re­ferindo que 25% de todas as novas descobertas de petróleo e gás desde 2005 tiveram lugar em países de língua portuguesa. Pas­sos Coelho veio até suge­rir a constituição de um consórcio de empresas lusófonas para explorar as reservas existentes.

Entretanto, no mesmo sentido, o presidente da Confederação Empresa­rial da CPLP, Salimo Ab­dula, anunciou a realização nos dias 16 e 17 de Julho próximo, em Luanda, de um fórum económico de desenvolvimento. Dias an­tes da cimeira de chefes de estado e de governo, em Timor, momento em que a presidência passará das mãos de Guebuza para as de Xanana Gusmão.

No plano político interna­cional, Dos Santos impera. Está em via de conseguir assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, apadrinhado pe­los governos brasileiro e chinês. Garantirá, deste modo, a sua própria se­gurança e manutenção no cargo de presidente de Angola. Na vertente eco­nómica, o domínio duma CPLP, transformada em comunidade de países produtores de petróleo e gás, dar-lhe-á uma posição dominante no mercado energético mundial.

Com a cumplicidade de quase toda a comunidade internacional, e enquanto o seu povo vive com fome e morre na miséria, Eduar­do dos Santos será um dos novos imperadores do mundo contemporâneo. Suportado por políticos que, de várias nacionali­dades e com diferentes pronúncias, conjugam, em bom (mau) português o verbo corromper.

* Vice-Presidente da TIAC – Transparência e Integridade - Associação Cívica, parceiro portu­guês da Transparency In­ternational

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