Alberto
Pinto Nogueira* - Público, opinião
João
Miguel Tavares (JMT) escreveu no PÚBLICO um texto sob um título singular, “A
morte dos jornais”. Versa uma matéria relevante: o despedimento de jornalistas
no Diário de Notícias. Despedimento e desemprego de jornalistas ou de
outros trabalhadores dizem respeito à sociedade. São de interesse público.
Tratando-se
de quem administra o diário, não há admiração alguma. A via escolhida teria de
ser a dos despedimentos. A sua imaginação criativa e empreendedora não vai além
disso.
JMT
tratou o assunto com inteligência e humanidade. Deixou em casa a ironia que o
caracteriza.
A
solidariedade genuína que manifesta aos colegas despedidos doDiário de Notícias estende-se,
é claro, às dezenas de trabalhadores do mesmo grupo empresarial. Da TSF, Jornal
de Notícias e Jogo. Faça-se-lhe justiça.
O
despedimento de jornalistas não confrange mais do que o de milhares que, ao
longo destes anos, têm sido despedidos. “Libertos do emprego” na expressão
“impressiva” do primeiro-ministro.
Despedidos
por portarias de legalidade duvidosa, e-mail, portões trancados das empresas,
intimidação de forças policiais. Com salários atrasados de meses ou anos. Sem
indemnizações.
As
funções sociais e políticas que os jornalistas desempenham, o serviço
informativo que prestam, convocam-nos de modo especial. Sem comunicação social
livre e sem pressões, não há Estado de Direito e Democrático. Está aí a maior
ressonância social que se atribui a um despedimento de dezenas e dezenas de
jornalistas. É a própria comunidade que se sente mais magoada na sua liberdade
e direito a ser informada.
Paradigmaticamente,
JMT inquire o que é da nossa vida se, por dezenas de anos, prestamos um serviço
competente, empenhado, com generosidade, e agora nos despedem por ter um
salário razoável. Inquire bem.
Muitos
milhares de trabalhadores despedidos sem justa causa ou simulada justa causa
inquirem. Nunca esquecerei a trabalhadora que, entre centenas de outras,
deparando com a empresa encerrada, ante as câmaras da televisão, inquiria e
chorava: “E agora, o que vou fazer da minha vida, com filhos e marido
desempregado?”.
Os
reformados, funcionários públicos, trabalhadores e demais vítimas predilectas
da austeridade, também perguntam: "Andámos a trabalhar dezenas e dezenas
de anos, trabalhamos arduamente dia-a-dia. Para quê?".
As
administrações das empresas e o Governo invocam e convocam sempre as mesmas
razões. A crise, o mercado, a austeridade. Nunca invocam e convocam
soluções alternativas. Até de ruptura.
Certo
que as soluções não fluem magicamente da cabeça de ninguém. Exigem trabalho,
investigação, estudo e análise. A consideração da função social da empresa. A
valorização do trabalho.
As
exigências do simples conhecimento geral que poucos praticam. A boa gestão.
Sanidade financeira. Clara definição de objectivos, que não promovam e
exercitem a confusão de interesses e objectivos sociais com interesses privados
de gerentes e administradores, que descapitalizam dolosamente as sociedades.
Veja-se a banca. O dinheiro, aos mil milhões, voa para parte incerta. Sem asas!
Ainda veremos o “risco sistémico” a ditar as suas regras. Adiante.
A
crise da comunicação social é um facto. Não se resolve com despedimentos,“
morte dos jornais” ou mecenatos. Exige soluções novas, onde os seus
profissionais têm terreno para mostrar o que valem.
*
Procurador-Geral Adjunto
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