Pedro Tadeu - Diário de Noticias, opinião
Brilhantes cabeças concluíram "viverem no passado" os juízes do Tribunal Constitucional
que têm chumbado Orçamentos governamentais e, por isso, "não compreendem o
mundo à sua volta".
Quem escolheu os
senhores e as senhoras juízas para sentenciar constitucionalidades no Palácio
Ratton foram aqueles que olham pelo nosso futuro, veem o mundo na sua grandeza,
superiores. Sim, quem os escolheu foram os deputados dos grandes partidos (e do
CDS-PP), foram os governantes, foi o Presidente da República... Sim, foram
eles.
Essa gente, que
compreende tão bem o planeta que nos rodeia, terá errado? Terá escolhido mal?
Terá, na altura, achado que doutores capazes de olhar para a experiência do
passado seria espécie recomendável para obter jurisprudência sensata? Terão
alvitrado que o saber, afinal, implica olhar para trás?
E agora,
confrontados com o resultado final, lendo a aplicação prática, decidida de beca
em plenário, da cultura cívica e jurídica que discutiram, negociaram e
elegeram, os nossos governantes constatam que o passado os está a assombrar? E
tremem? E lamentam? E protestam?...
Como pode haver
gente a viver no passado? Como?! Como se pode governar para quem quer viver com
salários do passado? Como se pode governar para quem quer manter o sistema de
saúde do passado? Como se pode governar para quem quer as pensões do passado?
Como se pode governar para quem quer ter tantas escolas abertas como no
passado? Como se pode governar para quem não quer piorar a vida que tinha no
passado? E porque é que este passado foi há dois dias e todos se lembram dele?
Compreendo-os tão
bem. Afinal, o mundo mudou, não é? O mundo agora é daqueles que vivem no
presente, no subsídio de desemprego, no salário reduzido, na reforma cortada,
no imposto aumentado, no tribunal de penhoras, na cadeira do jardim, na casa da
mãe, na emigração, no medo, no psiquiatra, num copo de vinho.
Compreendo-os tão
bem. Afinal, o futuro é brilhante, não é? O futuro é dos empreendedores sem
dinheiro, dos exportadores sem produto, dos facilitadores sem barreiras, dos
inovadores sem ideias, dos investidores sem dinheiro, dos trabalhadores sem
trabalho. O futuro é não ter futuro e, depois, logo se vê.
Era bom viver sem
passado, não era? Não havia direitos que fossem adquiridos. Não havia leis que
não se pudessem mudar. Não havia limites a respeitar. Nem sequer havia dívida para
pagar. Era tão mais fácil governar... Malditos juízes!
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