Tiago
Mota Saraiva – jornal i, opinião
A
Wikileaks divulgou documentos das negociações promovidas pelos EUA e pela UE -
que durante esta semana terá reunido mais de 60 países em Genebra - onde se
procura definir as bases de um acordo que promova, entre outras coisas, a
desregulação de sectores de serviços considerados estratégicos para a próxima
fase do capitalismo.
Não
é por acaso que a arquitectura e a engenharia são considerados sectores
prioritários, nem é por acaso que, em Portugal e sob a batuta da troika, está a
ser ensaiada uma revolução legislativa anunciada como facilitadora e
financeiramente vantajosa para a generalidade dos cidadãos.
Exemplifiquemos.
Em Abril entrou em vigor legislação para a reabilitação de edifícios na qual,
por exemplo, passa a ser permitido que uma parede exterior seja constituída por
duas placas de gesso cartonado rebocado a fingir a espessura de outrora. Na
verdade, esta parede será sempre mais barata para quem a paga. Se o objectivo
do investidor for a venda do imóvel, estamos a falar de um mercado de mais-valias
financeiras astronómicas obtidas a partir da má construção.
Este
diploma, conjugado com outros que desobrigam a participação de técnicos
qualificados ou que facilitam licenciamentos sem análise, criará um terramoto
com consequências difíceis de prever.
Mais,
se é certo que as classes privilegiadas não abdicarão de bons técnicos e
construtores a tratar dos espaços que habitam, esta desregulação atingirá
exclusivamente quem tem menos recursos. A praia desta desregulação serão os
imóveis de valores de renda ou compra mais baixos. Mais uma vez, serão as
classes mais desfavorecidas a suportar este esbulho.
Aos
arquitectos e engenheiros competirá escolher um de dois caminhos: contribuir
para o silenciamento desta operação na esperança de que lhes sobrem umas côdeas
ou reforçar o vínculo das suas profissões com o interesse público rejeitando a
dependência e a subjugação da sua prática à vontade da classe dominante.
Escreve
ao sábado
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