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SOFIA LORENA - Público
A
pequena paragem de duas horas na violência proposta pela Cruz Vermelha para
retirar corpos e resgatar feridos não durou 60 minutos. Israel alargou a
ofensiva depois da morte de 13 soldados.
Pelo
menos 62 pessoas morreram e 200 ficaram feridas num só bombardeamento, domingo
de manhã em Shajaya, um subúrbio a leste da Cidade de Gaza – trata-se do ataque
mais mortífero no território palestiniano desde o conflito de três semanas, entre
o fim de Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009, que matou 1400 palestinianos e 13
israelitas.
Ao
todo, 100 pessoas foram confirmadas mortas domingo na Faixa de Gaza, o que faz
já deste o dia mais violento desde o arranque da ofensiva ordenada por Israel no
dia 8 de Julho, e que na noite de quinta para sexta-feira passou a incluir uma
invasão terrestre, a juntar aos ataques de artilharia, bombardeamentos da Força
Aérea e ataques lançados a partir de navios. Os mortos poderão ser mais –
debaixo dos escombros de Shajaya haveria ainda corpos por retirar.
O
Exército de Israel anunciou que durante a noite de sábado para domingo tinham
sido mortos em Gaza “13 soldados da brigada Golani”, uma lendária unidade
militar, reverenciada por muitos israelitas.
Os
porta-vozes citados pelo diário Ha’aretz não avançam muitos
pormenores, mas sabe-se que já morreram 18 militares israelitas: sete soldados
na explosão de uma bomba à passagem do seu blindado, três em disparos cruzados
com combatentes palestinianos e três “apanhados num imóvel em fogo”. Pelo menos
um outro foi vítima dos disparos de um membro da sua unidade na sexta-feira,
primeiro dia da invasão, e dois morreram sábado, em confrontos com uma unidade
da ala militar do Hamas que se infiltrou em Israel através de um túnel. Dois
civis foram mortos por rockets lançados de Gaza.
Em
Shajaya, um jornalista da AFP viu um homem esventrado e com a cabeça arrancada,
ao mesmo tempo que uma multidão tentava abandonar a zona. A capital da pequena
Faixa, já a transbordar de gente que tem fugido das localidades mais pequenas e
dos campos de refugiados situados nas margens do enclave, foi inundada ainda
por mais pessoas; outras preferiram procurar esconderijo nas zonas arborizadas
dos arredores.
“Mães
em lágrimas embrulhavam bebés em cobertores, miúdos pequenos passavam
descalços, pais esgotados levavam os filhos pequenos nos braços”, descreveram
os jornalistas da Reuters.
“Algumas
famílias seguiam em carrinhos arrastados por camelos, outras amontoavam-se
dentro de carros. Sete pessoas sentaram-se na enorme pá de um buldózer gigante,
guiando lentamente através do fumo e do sangue derramado”, continua a mesma
agência. “Corpos desfigurados de homens mulheres e crianças enchiam a morgue do
principal hospital da cidade [o Centro Médico Shifa], enquanto outros estavam
ainda em Shajaya, presos debaixo dos destroços.”
Filhos
esquecidos
Numa maca do hospital, Ahmed Mansour, de 27 anos, agarrado à barriga e a sangrar das costas e de um braço, quis falar com um dos jornalistas. “Eles bombardearam as pessoas enquanto elas fugiam das suas casas. Que tipo de ser humano faz isso?”.
O
pânico em Shajaya foi tanto que houve gente a fugir deixando para trás os
filhos. “Um dos nossos vizinhos saiu de casa e deixou o filho”, disse aoWashington
Post Jalal Ghoula, um polícia no desemprego, sentado à porta do Centro
Médico Shifa. “Ele esqueceu-se dele!”, afirmou, explicando que o menino tem
quatro anos. Ghoula fugiu a pé, com 32 membros da sua família. “Só Deus salvou
as nossas almas”.
No
interior do hospital, os médicos operavam nos corredores. “Estamos
completamente cheios”, disse ao Post Sohbi Skaik, cirurgião.
Questionado sobre o tipo de ferimentos que estava a tratar, respondeu: “Todo o
tipo! Tudo. Eles estão a morrer de todas as maneiras”.
A
ONU disponibilizou abrigo em 60 escolas vazias, mas para oferecer tem apenas
água potável e um chão onde dormir. Até agora, a organização contabiliza 81 mil
deslocados (mais 30 mil do que na véspera) no interior da Faixa, uma das áreas
com mais densidade populacional do mundo (1,8 milhões de habitantes em 362
Km2), mas a maioria dos que fogem são recebidos por familiares ou amigos. Há
casas onde viviam dez pessoas e que contam agora com mais de 30 residentes.
Em
Gaza, habituada a viver com pouco, a cada dia há menos. Sexta-feira, Israel
cortou o acesso de electricidade, deixando 90% da região às escuras.
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