LEOCARDO – Hoje Macau - em Bairro do Oriente, opinião
Um
grupo de residentes de Macau abriu recentemente na rede social Facebook um
grupo onde manifesta a sua insatisfação pelo serviço de táxis no território, e
convida quem tem tiver uma história relacionada com abusos cometidos por parte
dos taxistas a partilhá-la. Alguns destes episódios relatados pelos utentes
deste serviço são de deixar a boca aberta de espanto, e chegam a assumir
contornos de filme de terror, tal é a prepotência e a ganância dos motoristas.
A maior parte prende-se com indiferença perante mulheres grávidas, idosos,
cidadãos diminuídos fisicamente ou quaisquer outros que não compense apanhar,
pois não lhes vão pagar além do que é exigido por lei pela corrida, e preferem
procurar quem lhes faça ganhar de uma assentada o turno de trabalho. A Direcção
dos Serviços de Assuntos de Tráfego diz-se impotente para resolver o problema,
e por mais fiscalização que se faça, os taxistas prevaricadores persistem na
conduta, pois mesmo no caso de serem autuados, continua a ser “lucrativo”
infringir a lei. Quando se pesa isto na balança e se chega à conclusão que vale
mais a pena ser desonesto do que honesto, então estamos mesmo muito mal.
Tentando identificar a origem do problema, é comum ouvir dos residentes que a
culpa é dos turistas da China continental, que mal chegados a Macau não se
importam de pagar um montante à revelia do taxímetro, o único método
efectivamente legal para determinar o preço da corrida. Em alguns casos não se
importam de pagar 400 ou 500 patacas por um percurso que ficaria por menos de
cem em circunstâncias normais, daí que os taxistas prefiram este tipo de
clientes, pois em duas em três viagens fazem tanto como transportando 20
passageiros durante todo o tempo do turno. E não só no que diz respeito aos
táxis os turistas do continente servem de desculpa; é por culpa deles que se
torna quase impossível andar na rua, especialmente durante os fins-de-semana e
feriados, são eles que esgotam das farmácias e supermercados o estoque de leite
em pó das crianças, conhecido por “baby formula”, é por culpa sua que aumenta a
criminalidade e disparam os preços dos bens de consumo. Puxando o fio à meada
encontramos a principal causa de todo este chinfrim: a política dos vistos
individuais, que a China implementou para as RAE de Macau e Hong Kong, e que
permite que mais turistas da República Popular venham visitar os seus
“compatriotas” deste lado, e com mais frequência.
Esta política dos vistos teve o seu início mais ou menos na altura em que o Executivo da RAEM decidiu liberalizar o sector do jogo, o que levou à entrada no mercado das concessionárias de Las Vegas – e em boa hora, pois com o aumento da oferta turística, era fundamental que se abrissem as portas à entrada de um grande número de visitantes. Esse número tem vindo a aumentar nos últimos anos, e tornou-se praticamente incomportável. Se
Entendo que exista um certo preconceito com os turistas do continente, sobretudo por razões culturais, mas não posso de todo concordar com esta culpabilização sem nexo. Se os táxis estão como estão, a culpa é sobretudo dos taxistas, que se comportam como maus profissionais. O que seria se no âmbito das minhas funções eu estivesse no serviço de atendimento ao público, e escolhesse quem queria atender? Os turistas vêm tratar da sua vida, talvez estejam habituados a este sistema, e com toda a certeza não têm em mente prejudicar os residentes de Macau. Falta leite em pó? Não chega? Manda-se vir mais, e do que estão à espera? Fossem fichas de casino, e já as tinham mandado vir “para ontem”. Prostitutas? Estas não obrigam ninguém a nada, e quanto a vigaristas, larápios, agiotas e afins, isso é da competência das autoridades policiais, e que eu saiba os que chegam de fora não estão a cobro de nenhum tipo de imunidade, e se forem apanhados têm que responder pelos seus crimes, como os de cá: a lei é igual para todos.
A política dos vistos individuais foi pensada no sentido de que todos beneficiassem dela: o Governo de Macau, que assim enche os cofres do erário público, a população, que deveria usufruir desses montantes, e os turistas, que assim ficam com mais liberdade de movimentos. Estes últimos fazem a sua parte, vindo até Macau, e a população recebo-os – que remédio – mas o que ganha com isso? Os tais cheques do “plano de comparticipação pecuniária” vão dando para pagar umas contas, mas começa a ser mais que evidente que não compensam que se sacrifique a sua qualidade de vida. Para o terceiro vértice deste triângulo, é até conveniente que se empurrem as responsabilidades para os turistas do continente, que são uma massa colectiva e anónima que ainda por cima nem tem acesso ao Facebook. Enquanto isto estes vão arrecadando as suas receitas, de acordo com o plano estabelecido, e pouco se importam que Macau seja actualmente o território da região Ásia-Pacífico onde é mais difícil apanhar um táxi. E para que se haviam de preocupar, se eles nem precisam de andar de táxi, ou a pé pelas vias congestionadas da cidade. Sim, essa é uma mentira em que fica mais fácil acreditar. Pelo menos desabafam.
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