Jorge
Fiel – Jornal de Notícias, opinião
Tenho
um método infalível para descobrir a fila mais lenta para a caixa de um
supermercado. É a que eu escolher. Até pode estar só uma pessoa à minha frente,
com meia dúzia de artigos no tapete. Vai ser a mais demorada, mesmo que as
outras estejam guarnecidas por três ou quatro pessoas com os carrinhos cheios.
É fatal como o destino. Há muitas variantes. O preço do champô é diferente do
que estava na prateleira. O "scanner" recusa-se a ler o código de
barras. O cartão não se entende com o terminal do multibanco. Ou outra coisa
qualquer. O resultado final é sempre o mesmo. É por isso que considero um passo
em direção a um Mundo mais justo a fila única, em que a clientela é chamada
pela ordem da chegada para a próxima caixa a ficar livre.
Infelizmente,
o Mundo está longe de ser justo. Que o diga o camarada Tó Zé, que há três anos
tirou a senha para ser primeiro-ministro, aguentou estoicamente a chegada da
sua vez e agora vê a vida dele a andar para trás, pois está-se mesmo a ver que
o camarada Costa lhe vai passar à frente.
O
Costa sabe-a toda. Em 2011, escondeu-se atrás do coqueiro, delegando em Assis a
representação da "tralha socrática" e dando a Seguro a corda para se
enforcar. "O cargo de líder da Oposição é o mais difícil lugar da vida
pública", explicou.
Costa
é o ciclista que vai na roda do Seguro, recusando-se a puxar durante toda a
fuga, e depois, quando a meta está à vista, aproveita-se da fadiga do
companheiro para lançar o sprint vitorioso e conquistar a camisola amarela.
Costa
é o fundista que se resguarda no pelotão, enquanto Seguro se estafa a fazer de
lebre, até que o sino anuncia a entrada na última volta e ele, fresco, parte de
trás, tira partido do desgaste do adversário, ultrapassa-o e ganha a corrida.
Costa
é o ponta de lança que passa o jogo todo na mama, não recua, não defende, não
pressiona, à espera de fazer o golo aproveitando um ressalto, uma desatenção
dos centrais ou uma defesa incompleta do guarda-redes.
Para
quem segue de fora a guerra civil socialista, é fácil simpatizar com a
persistência de Seguro e achar que ele merece ser poupado ao drama de Marcelo,
Marques Mendes ou Menezes, outros líderes da Oposição que não chegaram às
legislativas.
Mas
a natural simpatia pelo candidato calimero, o Peninha Seguro contra o Gastão
Costa, não pode turvar a racionalidade do raciocínio. Niki Lauda avisou que
para ser campeão de Fórmula 1 é preciso ser canalha . "Digam-me o nome de
um piloto bonzinho que tenha sido campeão!?!", desafiou. A política é como
a Fórmula 1. É por essas e por outras que, na luta socialista pelo poder, Costa
está ao volante de um Ferrari e Seguro vai montado num burro. Mas há surpresas.
Quem diria que a Alemanha ia aviar o Brasil com um 7-1? E que os Espíritos
Santos iam falir? Há 11 anos, em Loures, o burro chegou primeiro que o Ferrari.
Sabe-se lá se, um dia destes, eu escolho a fila mais rápida para a caixa do
supermercado... E se o burro volta a ganhar ao Ferrari...
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