Díli,
18 jul (Lusa) - A estabilidade política em Timor-Leste pode ficar ameaçada pelo
previsível declínio nas receitas do petróleo e se o atual primeiro-ministro,
Xanana Gusmão, deixar o poder no final do ano, avisa o Instituto de Análise
Política dos Conflitos.
De
acordo com este instituto, com sede em Jacarta, na Indonésia, uma das raízes da
estabilidade política que se vive em Timor-Leste resulta da canalização das
verbas do petróleo para pagar aos deslocados para voltarem para casa, comprar
os desertores do Exército que fomentaram a violência em 2006, financiar as
pensões para os veteranos da luta pela indendência e garantir contratos de
construção aos potenciais opositores políticos.
"Entre
os observadores há uma tese geralmente aceite que diz que comprar a paz não é
uma maneira aconselhável de criar estabilidade num país, e isso é verdade,
principalmente em termos de sustentabilidade", defende o vice-presidente
do instituto (IPAC, na sigla em inglês), em declarações citadas no IRIN, um
site gerido pelo departamento das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos
Humanitários.
Cillian
Nolan acrescenta, no entanto, que "de alguma forma isto resultou bem, não
só porque conseguiu-se manter a paz, mas também porque isto mostrou uma forte
independência face à influência estrangeira, porque realmente era dinheiro
timorense a ir para as mãos de timorenses".
Depois
da independência, em 2002, o país passou por vários conflitos internos em 2006
devido a dissidências dentro do Exército, que deixaram 150 mil pessoas
desalojadas, o que resultou numa internvenção militar internacional, mas desde
então tem havido um período de relativa estabilidade política.
De
acordo com uma análise do Banco Mundial, as raízes da violência de 2006
assentaram no "falhanço em corresponder às altas expetativas pós-independência,
particularmente para os veteranos da luta pela independência, altas taxas de
pobreza e uma favoritismo percecionado na atribuição de cargos".
Para
o Grupo Internacional de Crise (ICG, na sigla em inglês), são três os pilares
da estabilidade no pequeno país habitado por 1,1 milhões de habitantes: "a
autoridade do primeiro-ministro, as reformas no setor da segurança, e o fluxo
de receitas petrolíferas do Mar de Timor".
Dois
dos alicerces que sustentam a estabilidade política estão, no entanto, em
risco, a começar pelo petróleo, cujas receitas vão começar a diminuir:
"Timor-Leste tem cerca de sete anos até que a riqueza petrolífera
desapareça", vaticina o investigador Charles Scheiner, do instituto de
análise política timorense Lao Hamutuk.
Este
instituto calcula que 90% das receitas estatais de Timor-Leste resultam do
petróleo e gás. O Fundo Petrolífero detém cerca de 16 mil milhões de dólares,
mas em 2025 estará vazio.
Por
outro lado, a saída de Xanana, segundo os mesmos investigadores, criará o
problema de como lidar com a previsível agitação social e política sem a
liderança única do histórico resistente timorense.
MBA
// PJA - Lusa
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