Afropress
Salvador/S.
Paulo – Militantes, ativistas e simpatizantes antirracistas de mais de 10
Estados do país, estarão nas ruas nesta sexta-feira (22/08) na II Marcha
(Inter) Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro, que pretende se tornar o
maior protesto contra a violência policial e as mortes de jovens negros, já
comprovadas nas estatísticas oficiais como o Mapa da Violência editado
anualmente, com apoio e colaboração do Ministério da Justiça. De acordo com a
edição 2013 do Mapa, no Brasil morrem, vítimas de homicídios, 3,7 vezes mais
jovens negro do que brancos.
Além
de comitês montados no Rio, S. Paulo, Bahia, Amazonas, Ceará, Maranhão,
Paraíba, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Alagoas e Brasília, a manifestação
também repercutirá em pelo menos 19 países da da Europa, África e Estados
Unidos, segundo um dos seus principais organizadores, o ativista Hamilton
Borges Walê, coordenador da “Campanha Reaja ou será Morto. Reaja ou será
morta”, que denuncia sistemáticamente a violência policial, principalmente, em
Salvador.
“Achamos
que um milhão de pessoas vão tomar as ruas do Brasil, parando o país contra o
genocídio e no mundo na porta das embaixadas brasileiras. Teremos grande
participação, principalmente, na Europa com o grande trabalho feita pela FOJA
(Organização Afroespanhola), que coordena a luta por lá”, afirmou Walê.
Estudante
de Direito e ativista conhecido na Bahia e no Brasil, Walê tem sido alvo de
inúmeras perseguições pelas denúncias da violência e de mortes de jovens negros
- alguns dos quais seus amigos - pela Polícia baiana.
O
ativista acrescenta que o 22 de agosto foi escolhido por causa de vários
eventos relacionados à luta antirracista, não apenas no Brasil, mas em todo o
mundo, entre os quais cita a morte de Jonatas Jackson, dos Black Panters (o
Partido dos Panteras Negras, dos EUA), morto num 21 de agosto, "o
martírio dos heróis da Revolta dos Búzios" (Movimento abolicionista e de
independência do Brasil que eclodiu em 1.798, em Salvador, também chamada de
Conjuração Baiana), e a primeira greve de escravos nos Estados Unidos que
aconteceu no dia 22 de agosto de 1.843.
A
Marcha nas ruas
As
concentrações começam a partir das 14h em vários pontos do país. Em Salvador, a
concentração será em
Campo Grande ; em
S. Paulo , no vão do MASP, na Avenida Paulista; em Brasília
será na Praça Zumbi dos Palmares (CONIC); em Maceió, na Praça dos Martírios; no
Rio, na Estação de trem de Manguinhos, em frente à Fiocruz.
Os
organizadores recomendam que os participantes não levem bandeiras de partidos
políticos à manifestação: “Essa Marcha é para nós negros e negras redefinirmos
um outro conceito de Nação, que nos inclua. É sem partidos e sem governos, com
negras e negras fazendo por si. Marcha internacional que liga as lutas”,
acrescenta Walê.
Confira
a seguir, a entrevista concedida pelo ativista ao jornalista Dojival Vieira,
da Afropress:
Afropress –
Qual é o objetivo da Marcha?
Hamilton
Borges Walê - Tomarmos nossa voz de volta, articular internacionalmente
uma frente de luta contra o racismo, o neocolonialismo , contra o genocídio.
Uma luta pan-africanista, sem partidos ou governos levando os negros e negras a
agiram como povo dentro dos territórios coloniais que nos submete e mata.
Afropress –
Quais os Estados que estarão na Marcha?
Walê –
Temos comitês montados no Rio, S. Paulo, Manaus (Amazonas), Minas Gerais,
Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Espírito Santo, Brasília, Rio Grande do Sul, e
Alagoas (Maceió). Há outros Estados que se incorporaram depois mas que também
estarão na Marcha.
Afropress –
Qual a repercussão internacional que a Marcha terá?
Walê –
A Marcha já repercutiu em países da África, Europa e Estados Unidos. Em mais de
19 países da Europa, três da África, além dos Estados Unidos e também na
América Latina.
Afropress –
Qual a previsão de participação? Quantas pessoas são esperadas nos vários
Estados?
Walê –
Achamos que um milhão de pessoas tomam as ruas do Brasil, parando o país contra
o genocídio. No mundo, na porta das embaixadas brasileiras, teremos grande
participação, principalmente na Europa, com o grande trabalho feito pela FOJA,
da Espanha, que coordena a luta por lá.
Afropress –
Haverá a entrega de algum documento com reivindicações e ou demandas ao Governo
brasileiro?
Walê –
Essa Marcha não é reivindicativa. Ninguém está autorizado ou autorizada a falar
com presidente, governador ou prefeito. Temos mais de 30 anos de reivindicação.
Estamos dando um novo passo, de luta autônoma, sem nos rebaixarmos as agendas
que não são nossas. A Marcha é para nos prepararmos para outros momentos de
luta. Sem vendermos nossa dor e desgraça para os políticos de rapina que a cada
dois anos negociam nossa miséria por cargos e puxadinhos como bem fala o
próprio editor do Afropress.
Afropress –
Por que razão foi escolhido o dia 22 de agosto?
Walê –
Os "Agostos Negros", os vários eventos que esse mês carrega. A morte
de Jonatas Jackson, dos Black Panters, que morreu num 21 de agosto. No dia
22 de agosto de 1.843 também aconteceu a primeira greve de escravos nos Estados
Unidos. O martírio dos heróis da Revolta dos Búzios, enfim vários
acontecimentos importantes, e o grande Orixá Omulu que conduz os mortos, e os
mortos são nossos guias. Nós os honramos com nossa luta.
Afropress –
O que pode significar essa II Marcha para os negros brasileiros?
Walê –
Essa Marcha é para nós negros e negras redefinirmos um outro conceito de Nação
que inclua, mas que os brancos que dominam tudo e se beneficiam de nossas
mortes. É sem partidos e sem Governos, com negros e negras fazendo por si. Uma
Marcha Internacional que liga as lutas.
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