Francisco Louçã – Público, opinião, em Tudo Menos Economia
É
sempre com estardalhaço que o populismo se dirige à plebe e Marinho e Pinto
parece ter aprendido na escola da melhor sofisticação e elegância.
Ao Jornal
de Notícias confidenciou que sairá do Parlamento Europeu para se
candidatar a S. Bento dentro de um ano. Entretanto precisou que será candidato
a primeiro-ministro; mas se só sair a terminação, deputado será, mas sempre disponível
para ministro, talvez da Saúde, lembrou-se. E pode ser do PS ou
do PSD, governos que considerará com benevolência. E, logo depois, pode
ser candidato a Presidente, se a República o chamar, como decerto não deixará
de acontecer.
Como
o jornalista o terá inquirido sobre se não estaria a incumprir o contrato
recentíssimo com os eleitores, Marinho e Pinto terá disparado a sua desilusão
com o Parlamento Europeu e, sobretudo, a sua indignação com as prebendas dos
eurodeputados. À pergunta sobre se não o ofendia receber, ele próprio, tão
ignominiosas prebendas, terá explicado que não gosta de “caridadezinha” e que
entretanto precisa do dinheiro, que lhe dá um jeitão.
O
assunto suscitou uma vaga de comentários estivais, como não podia deixar de
ser. Marinho e Pinto veio logo explicar ao Expresso a sua surpresa pela
polémica, esclarecendo o assunto: de facto, sairá do Parlamento Europeu para
manifestar a sua “renúncia das mordomias ignóbeis que são pagas aos
eurodeputados, desprezando os povos que representam” (Expresso, 15 agosto), mas
só manifestará tal coragem dentro de um ano. Até lá, as ignóbeis mordomias são
bem vindas e os povos sofrerão silenciosamente a provação.
Como
se apresta a oferecer os seus serviços ou ao PSD ou ao PS, quis
o Expresso saber como é que Marinho e Pinto aprecia o que se passa nesses redis
e, nomeadamente, se não estaria a fazer o mesmo que António Costa, que deverá
abandonar o cargo de presidente da Câmara de Lisboa para outros voos. A
resposta foi lapidar (e um tudo nada atrevida, porque dentro de um ano pode
estar a negociar com Costa), mas Marinho e Pinto não é homem para deixar
dúvidas no ar: “Costa não só despreza o que prometeu aos seus eleitores como
faz tábua rasa da legitimidade do mandato dos outros.(…) Representa o tipo de
políticos que eu combato” (Expresso, idem). Costa sai a meio do mandato a que
se candidatou, desprezível atitude do “tipo de políticos” que Marinho e Pinto
quer limpar da política nacional, anunciando fazer exactamente o mesmo. Mas com
boas razões, claro está, e com outra elevação.
Surgindo
na cena partidária em Janeiro, quando escolheu um partido pelo qual se
candidatou com grande êxito ao Parlamento Europeu, Marinho e Pinto sofreu
entretanto uma derrota: os Verdes fecharam-lhe a porta, pelas suas pitorescas
declarações homofóbicas, e aninhou-se nos Liberais, ou seja, na direita
europeia, tendo-se sentido logo à vontade para eleger Juncker contra os
candidatos do centro e da esquerda. Aventuras com pouco destaque, em todo o
caso, e voltou-se portanto para dentro. Em consequência, veio anunciar
desprezar o cargo a que se candidatou – e que ainda mal começou a exercer – mas
não deixando de aproveitar as putativas vantagens que abomina, por não mais do
que um ano. Tudo é leve, uma vertigem, nas vésperas de se candidatar
sucessivamente aos sucessivos lugares electivos que estarão à consideração
do país.
Os
espectadores desta encenação só podem concluir que não existe ninguém tão
adequado para tomar o leme de todos os cargos nacionais como Marinho e Pinto.
Que afortunados que somos.
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