segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O IMPACTO ECONÓMICO DO ÉBOLA



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

Alguns especialistas em psicologia humana consideram que uma das melhores formas de lidar com este fenómeno, a nível das grandes massas, é utilizar a maior transparência possível na informação que é passada para a sociedade.

Para lá daquilo que são as catastróficas consequências humanas provocadas pelo vírus ébola existem, igualmente, as consequências financeiras que ele provoca em economias já de si debilitadas ou excessivamente concentradas em determinado segmento social.

Nos países actualmente mais afectados pela doença, como a Libéria e a Serra Leoa, o primeiro impacto económico reflecte-se no sector do turismo, pelo efeito de pânico que ele provoca em sociedades mais bem informadas e, por isso mesmo, mais conscientes dos devastadores efeitos que ela provoca.

A Nigéria, embora não seja dos países mais atingidos pela doença, já sente esses efeitos, havendo mesmo a registar o cancelamento de reservas de hotel na cidade de Lagos, ainda longe das zonas potencialmente mais em risco. Alguns dos sectores económicos destes países encontram-se praticamente paralisados devido ao facto de muitas companhias estrangeiras terem decidido evacuar os trabalhadores expatriados, de forma a evitar o pagamento de indemnizações em casos de morte.

Minas paralisadas

A indústria das minas foi a mais atingida em consequência da doença, encontrando-se totalmente paralisadas as operações que estavam em curso na Libéria, Serra Leoa e Guiné Conacry.

Algumas importantes companhias aéreas internacionais decidiram também cancelar os seus voos para os países mais afectados pela doença, seguindo com atenção os esforços que estão a ser feitos no sentido de serem identificadas “zonas limpas” onde possam realizar as suas operações.

Mas, a nível da Serra Leoa, Libéria e Guiné Conacry, onde já morreram mais de mil pessoas, as restrições à circulação de pessoas, de uma para outra cidade e os cuidados a nível da emigração, tanto por terra como nos aeroportos, diz bem das precauções a serem tidas em conta e do avisado que é não viajar para estes países.

Apesar de se tratarem de países com economias muito debilitadas, tanto a Libéria, como a Serra Leoa e a Guiné Conacry – com o apoio de organizações internacionais – já gastaram, conjuntamente, centenas de milhões de dólares na aplicação de programas de prevenção da doença e de ajuda a famílias que por ela já foram atingidas.

O Banco Mundial, em relação à Guiné Conacry, avança mesmo com uma estimativa que aponta para este ano um crescimento de apenas um por cento, quando antes do início da propagação da doença previa uma taxa de 5.9 por cento.

Prejuízos astronómicos

Mas os custos económicos globais causados por um outro surto do vírus ébola, em 2003, que infectou 8 mil pessoas e causou 800 mortes, atingiram os 50 mil milhões de dólares, uma verba que agora poderá duplicar dado o número de pessoas já atingidas. O sector petrolífero, que normalmente norteia a política geral de preços a nível mundial, começa também a ser afectado, sobretudo nas zonas da Nigéria onde já foram detectados casos de ébola.

Como medida de prevenção, algumas companhias petrolíferas que operam no país começaram já a evacuar o seu pessoal não essencial preparando-se, também, para ajudar o país a tomar as medidas necessárias para combater a doença e assim evitar a sua propagação a zonas até agora consideradas “seguras”.

A nível de todo o mundo existe a consciência do perigo que representa o vírus ébola e, por isso mesmo, alguns países proibiram mesmo os seus cidadãos de viajarem para as zonas mais afectadas e interditaram as suas fronteiras a pessoas com passagem recente por locais de maior risco de contágio.

Alguns especialistas em psicologia humana consideram que uma das melhores formas de lidar com este fenómeno, a nível das grandes massas, é utilizar a maior transparência possível na informação que é passada para a sociedade.

Estudos feitos no passado revelam que o pânico e a tomada de medidas de isolamento e de discriminação em relação aos afectados potencia o perigo de contágio, criando “zonas negras” onde a doença tende a expandir-se, em vez de ser devidamente combatida através de tratamento adequado.

Muitos governos, em vez de aceitarem a ajuda internacional, fecham as suas fronteiras, criando “guetos” que se transformam em verdadeiras incubadoras de uma doença que, ao menor deslize, se expande de forma imparável.

Os próprios sistemas de saúde dos países afectados carecem de apoio internacional para poderem ser efectivos, uma vez que os investimentos internos para o sector são extremamente reduzidos.

Na cidade de Lagos, uma das mais populosas de África, existem já previstos planos de contingência em relação à doença, mas a verdade é que o governo nigeriano, para os tornar efectivos, terá de desbloquear uma soma de dinheiro que o banco central está renitente em liberar, recordando situações anteriores em que as verbas alocadas para casos de emergência sanitária foram desviadas para outros projectos que nada tinham a ver com a saúde.

Sem comentários:

Mais lidas da semana