segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Brasil: CONSCIÊNCIA NEGRA



Tatiane de Souza Silvério* – Afropress, opinião

Considere que consciência negra é consciência humana, pois negros são humanos. Vocês conhecem Zumbi? Sabem por qual motivo ele nos representa? Vocês conhecem a história dos africanos antes e depois da colonização e da escravização? Conhecem a real situação de desigualdade racial e social a que são submetidos seus descendentes no mundo, especialmente no Brasil? Salvo as exceções?!

Pois é, os institutos de pesquisa tais como IBGE e IPEA, confirmam em números o que ativistas e intelectuais, principalmente do Movimento Negro, denunciam há anos: o racismo existe e provoca impactos nefastos na vida das pessoas. Ele é a “chave para se entender e superar a reprodução da pobreza e das desigualdades sociais no Brasil” [1].

Isso nos permite localizar o racismo como alguns dos problemas que atingem parte da população de mais de 50% de descendentes de africanos. Essas pessoas com melanina acentuada, consideradas negras ou pardas segundo classificação do IBGE, tiveram seus antepassados arrancados de suas terras, de seu cotidiano, brutalmente assassinados, apartados e violentados na frente de filhos, esposas, familiares, amigos. Há uma dimensão da memória, da identidade, da história, dos aspectos da herança, daquilo que ainda permanece nos dias atuais.

Falamos de bisavôs, tataravós, dessas pessoas escravizadas, de antepassados que tiveram suas vidas desencaminhadas por um dos mais violentos e sórdidos crimes contra a humanidade: a escravidão nas Américas e a colonização na África. Como conseqüência e em virtude desse crime, a população negra sofre até hoje com o racismo que se estrutura racional e irracionalmente nas classes sociais, nas instituições públicas e privadas, nas pessoas, em tudo que possa exprimir poder e conformar relações étnico-raciais no Brasil. Como crime o racismo que nada tem de velado, nos revela a faceta da perversidade humana e localiza a podridão de homens e mulheres.

Falar em consciência negra é lembrar - todos os dias - as marcas da opressão, mas não somente! Ter consciência negra é se perceber no mundo, na sociedade, no local onde vive. É conhecer e respeitar a cosmovisão de mundo africana e afro-brasileira.  Sobretudo para mim, [jovem - mulher – congadeira] falar de consciência negra é reviver, aprender e celebrar a resistência de meus antepassados, que aqui mesmo forçosamente imprimiram suas culturas de raízes africanas, deixando um legado inestimável para o desenvolvimento desse país.

E saibam vocês que o congado, a capoeira, o maracatu, o samba, o jongo, o moçambique, o catupê e tantas outras manifestações e expressões artísticas, filosóficas e culturais são as facetas dessa resistência africana que foi se revitalizando e se recriando do toque do tambor ao enfrentamento político nessa sociedade.

“Muitos brasileiros de hoje descendem de povos africanos. Conhecer a história da África nos faz conhecer nossa própria história"[2]. Por isso, tu quer ter consciência humana? Comece considerando e respeitando a Consciência Negra. E passe a considerar que consciência negra é consciência humana, por que os negros são humanos; ou você quer tentar desumanizar essa consciência? Procure libertar sua mente, não fique escravo da alienação, da injustiça e/ou do conformismo.

[1] Ativista do movimento negro, economista, professor universitário e consultor legislativo do Senado Federal em entrevista realizada em Brasília/DF, no dia 27 de julho de 2007. In: CICONELLO, Alexandre. O desafio de eliminar o racismo no Brasil: a nova institucionalidade no combate à desigualdade racial.

[2] SCHMIDT, Mario. Nova história crítica, 6ª série. São Paulo: Nova Geração, 1999a. ____. Manual do professor. Nova história crítica, 6ª série. São Paulo: Nova Geração, 1999b.

*Tatiane de Souza Silvério (na foto) é pedagoga e membro do Terno de Congada Chapéus de Fitas; cursa o Doutorado em Ciências Sociais na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – UNESP


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