Tatiane
de Souza Silvério* – Afropress, opinião
Considere
que consciência negra é consciência humana, pois negros são humanos. Vocês
conhecem Zumbi? Sabem por qual motivo ele nos representa? Vocês conhecem a
história dos africanos antes e depois da colonização e da escravização?
Conhecem a real situação de desigualdade racial e social a que são submetidos
seus descendentes no mundo, especialmente no Brasil? Salvo as exceções?!
Pois
é, os institutos de pesquisa tais como IBGE e IPEA, confirmam em números o que
ativistas e intelectuais, principalmente do Movimento Negro, denunciam há anos:
o racismo existe e provoca impactos nefastos na vida das pessoas. Ele é a
“chave para se entender e superar a reprodução da pobreza e das desigualdades
sociais no Brasil” [1].
Isso
nos permite localizar o racismo como alguns dos problemas que atingem parte da
população de mais de 50% de descendentes de africanos. Essas pessoas com
melanina acentuada, consideradas negras ou pardas segundo classificação do
IBGE, tiveram seus antepassados arrancados de suas terras, de seu cotidiano,
brutalmente assassinados, apartados e violentados na frente de filhos, esposas,
familiares, amigos. Há uma dimensão da memória, da identidade, da história, dos
aspectos da herança, daquilo que ainda permanece nos dias atuais.
Falamos
de bisavôs, tataravós, dessas pessoas escravizadas, de antepassados que tiveram
suas vidas desencaminhadas por um dos mais violentos e sórdidos crimes contra a
humanidade: a escravidão nas Américas e a colonização na África. Como
conseqüência e em virtude desse crime, a população negra sofre até hoje com o
racismo que se estrutura racional e irracionalmente nas classes sociais, nas
instituições públicas e privadas, nas pessoas, em tudo que possa exprimir poder
e conformar relações étnico-raciais no Brasil. Como crime o racismo que
nada tem de velado, nos revela a faceta da perversidade humana e localiza a
podridão de homens e mulheres.
Falar
em consciência negra é lembrar - todos os dias - as marcas da opressão, mas não
somente! Ter consciência negra é se perceber no mundo, na sociedade, no local
onde vive. É conhecer e respeitar a cosmovisão de mundo africana e
afro-brasileira. Sobretudo para mim, [jovem - mulher – congadeira] falar
de consciência negra é reviver, aprender e celebrar a resistência de meus
antepassados, que aqui mesmo forçosamente imprimiram suas culturas de raízes
africanas, deixando um legado inestimável para o desenvolvimento desse país.
E
saibam vocês que o congado, a capoeira, o maracatu, o samba, o jongo, o
moçambique, o catupê e tantas outras manifestações e expressões artísticas,
filosóficas e culturais são as facetas dessa resistência africana que foi se
revitalizando e se recriando do toque do tambor ao enfrentamento político nessa
sociedade.
“Muitos
brasileiros de hoje descendem de povos africanos. Conhecer a história da África
nos faz conhecer nossa própria história"[2].
Por isso, tu quer ter consciência humana? Comece considerando e respeitando a
Consciência Negra. E passe a considerar que consciência negra é
consciência humana, por que os negros são humanos; ou você quer tentar
desumanizar essa consciência? Procure libertar sua mente, não fique
escravo da alienação, da injustiça e/ou do conformismo.
[1] Ativista do movimento negro, economista, professor
universitário e consultor legislativo do Senado Federal em entrevista realizada
em Brasília/DF, no dia 27 de julho de 2007. In: CICONELLO, Alexandre. O desafio
de eliminar o racismo no Brasil: a nova institucionalidade no combate à
desigualdade racial.
[2] SCHMIDT, Mario. Nova história crítica, 6ª série. São
Paulo: Nova Geração, 1999a. ____. Manual do professor. Nova história crítica,
6ª série. São Paulo: Nova Geração, 1999b.
*Tatiane de Souza Silvério (na foto) é pedagoga
e membro do Terno de Congada Chapéus de Fitas; cursa o Doutorado em Ciências Sociais
na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – UNESP
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