Tomás
Vasques – jornal i, opinião
A
Moral e a Ética são conceitos em desuso. Foram banidos da acção política das
elites que nos pastoreiam
Daqui
ninguém sai vivo, parece ser o lema adoptado, em relação aos membros do
governo, pelo senhor primeiro-ministro. Em vez de lhe exigir responsabilidades,
demitindo-o, a bem do bom nome do regime democrático e do próprio governo,
elogiou Nuno Crato, o ministro da Educação, responsável político pelo maior
pandemónio de que há memória na colocação de professores. Na mesma linha,
deixou a arder em lume brando Paula Teixeira da Cruz, a responsável política
pelo "apagão" que paralisou os tribunais durante mês e meio, mesmo
depois de se ter apurado que os "bodes expiatórios" eram produto da
fértil imaginação da senhora ministra da Justiça. Por isso, entranhada esta
cultura política, já ninguém estranha que, na semana passada, Passos Coelho
tenha recusado o pedido de demissão de Miguel Macedo, ministro da Administração
Interna quando lhe caiu o Carmo e a Trindade em cima, sob a forma de
"vistos dourados". A presunção de inocência, até trânsito em julgado
de sentença condenatória, de que gozam os altos funcionários do Estado,
próximos do ministro, envolvidos em suspeitas de corrupção e outros crimes, não
afasta as responsabilidades políticas de Miguel Macedo.
"Quem
ignora o que se dá nas coxias do poder e da alta política, como acontece desde
sempre com a maior parte das gentes", como escreveu João Ubaldo Ribeiro,
esse enorme escritor baiano, que nos deixou há meses, no seu romance "O
Feitiço da ilha do Pavão", não percebe esta obsessão do senhor
primeiro-ministro, nem outras situações que, para mal da democracia, e dos
cidadãos, se espalharam como mancha de óleo na paisagem política. É o caso das
recentes declarações do senhor Presidente da República. Disse, há dias: "O
que é que andaram a fazer os gestores da PT?" Acrescentando, com ar grave:
"É, pelo menos, esta pergunta que os portugueses têm o direito de
colocar". A declaração de Cavaco Silva contém a mesma cultura de
irresponsabilidade política que tolhe o actual governo. Se o senhor Presidente
da República pensa, hoje, que os gestores em causa delapidaram uma das poucas
empresas de referência do nosso tecido económico, o que está implícito na sua
declaração, devia ter pedido desculpa aos portugueses por ter condecorado os
ex-presidentes daquela empresa, Zeinal Bava e Miguel Horta e Costa, semanas
antes do colapso do BES e da PT, a 10 de Junho deste ano, com a Grã-Cruz de
Mérito Comercial, atribuída por "serviços relevantes à valorização do
comércio". Qualquer pergunta dos portugueses só pode ser dirigida a quem,
pelo cargo que ocupa, os convenceu que os gestores da PT eram merecedores dos
penduricalhos distribuídos, com pompa e circunstância, no Dia de Portugal.
Sabemos
que esta irresponsabilidade política não é um exclusivo cá de casa. O senhor
Jean-Claude Juncker, recentemente empossado presidente da Comissão Europeia,
enquanto primeiro-ministro do Luxemburgo, estabeleceu acordos secretos com
centenas de multinacionais que lhes permitiram a fuga de milhões e milhões de
euros de impostos devidos pela sua actividade em outros países da União
Europeia, entre eles países como Portugal e a Grécia. O senhor Juncker,
enquanto presidente do Eurogrupo, esteve na primeira linha da defesa da
austeridade severa sobre os povos a quem, por via da sua acção, retirava
avultadas receitas fiscais. Confrontado com as provas do delito, apresentadas
pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, com desplante,
declarou que não fez nada de ilegal e que não se demitia do seu novo cargo por
essas minudências.
A
Moral e a Ética são conceitos em desuso. Foram banidos da acção política das
elites que nos pastoreiam. O plano inclinado em que as democracias se atolam
não augura nada de bom. O povo cala e consente, mas como diz o ditado popular:
"Tantas vezes vai o cântaro à fonte, que um dia lá deixa a asa."
Jurista.
Escreve à segunda-feira
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