Folha
8, 08 novembro 2014
Em
Cabinda, como vimos, a situação está tensa, não só do ponto de vista militar,
como agora e também, religioso. O regime tem medo das opções religiosas dos
cidadãos e quer o seu controlo, não pela persuasão mas pela força. Desta forma
está a causar um efeito diferente, pois deixa a sensação de estar mais
preocupado com quem está a frente da nova igreja, o padre Congo. Porquê?
Fruto
das tensões políticas e por defender uma opção diferente, este padre,
bastante popular, foi sendo perseguido de tal forma que a sua popularidade foi
subindo em flecha. No pico
das tensões foi “forçado” a sair da Igreja Católica Romana, mas não abdicou
totalmente da fé. Decide continuar o evangelho na Igreja Católica das Américas,
que é uma destas versões independentes da Igreja Católica.
O
Vicariato Cristo Resgatador (Angola) nasceu em Cabinda, estando à frente o
Padre Jorge Casimiro Congo, desde o seu aparecimento, no dia 25 de Dezembro de
2013, em Lândana, com uma eucaristia e sessenta baptismos.
Chisyâku
foi o espaço que acolheu a Igreja, na cidade de Cabinda, evoluindo, depois,
para a zona que, popularmente, se denomina por Papá Ngoma, transformado no
principal centro, para além do de São Pedro e Kafôngo.
Fruto
da perseguição contra o seu patrono e principais colaboradores, ao invés de
se conhecer uma diminuição o número de fiéis foi aumentando, semanalmente, com
números que ultrapassam os 500 membros, muitos vindos da Igreja Católica
romana.
PERSEGUIÇÃO
DESCARADA DO REGIME
O
governo seguia estarrecido o agigantar desta nova Igreja e era visível ver,
nas homílias, a presença maciça de membros dos órgãos de repressão, com
tabletes e smartphones, a filmar, para ver se existia algum ilícito, mas na
falta deste, ainda assim havia que continuar com a política do bastão.
É
aqui que os serviços secretos passam a propagar ser a igreja uma criação da
Mpalabanda, única associação de direitos humanos suspensa, no país, por ser
de Cabinda; que a igreja tem cunho político; que a igreja é motor da independência
de Cabinda, etc.
“O
comité do MPLA de Lândana, acusado de ser composto, por imigrantes e
zairo-oriundos, auxiliados, mormente, pelo SINFO, liderado por um tal Miúdo,
percorre os bairros, espalhando ameaças e intimidando possíveis convertidos,
chegando, inclusive, a ameaçar o regedor de Ntando-mpali que cedeu terreno à
Igreja Católica das Américas, no Lwango-Pequeno”, disse ao F8, Mbinda Findi.
Este
crente da nova congregação diz ter vindo a maior reacção do bispo e do clero
da diocese da Igreja católica romana, com a publicação de uma carta pastoral,
em Janeiro, recheada de um português enviesado e teologicamente fraco, onde se
destacam muitas desconsiderações, desnecessárias, que nada vieram ajudar o
clima religioso.
“O
próprio bispo foi a Povo-grande, paróquia dos salesianos, ler o referido
documento com um português incompreensível para a maioria da assembleia.
Desfez-se em permanentes viagens a Mayombe, onde reunia com os quadros do
MPLA, nomeadamente o seu 2º secretário, bem como os catequistas e
distribuía-lhes mimos, pedindo insistentemente que não recebessem o Padre
Congo”, acusa a crente Joana Mpemba, acrescentando que nesta campanha de
perseguição “contra nós, são mobilizados os padres espiritanos de Lândana,
que recorrem à Investigação Criminal, como se este órgão fosse um departamento
da Igreja Católica, passando despudoradamente pelas bwalas a propalar ser a
Igreja do Padre Congo um partido político. Eles afinal têm medo de uma pessoa e
da sua fé. Da forma como ele fala de Deus e Jesus seu filho. É uma vergonha o
que estão a fazer”, disse.
O
DESPOLETAR DO PROCESSO
Os
crentes desta congregação dizem, tudo ter começado em Janeiro “com ameaças
veladas, na rádio e televisão estatais, “numa clara demonstração de desrespeito
pela liberdade religiosa, principalmente, quando uma igreja é liderada por um
preto convicto e não corrupto”, afirmou Maria Futi, acrescentando tudo ter
ficado mais claro, “quanto a promiscuidade entre os órgãos da Segurança de
Estado, alguns padres e igrejas, quando no dia 16 desse mesmo mês, recebeu-se
uma convocatória do Ministério do Interior precedida de comunicado sem
sentido, mas repleto de ameaças”, denunciou. Foi aí, adiantou, que se decidiu
pelo encerramento das igrejas não legais(?).
“Estranhamente
uma decisão da Polícia seria, também, em primeira mão, anunciada na paróquia
da Imaculada Conceição, pelo Padre Futi, sobranceiramente, comunicando à
assembleia o seguinte: o templo deles já está no fim, com esta tirada, percebemos
que o problema é o Padre Congo, perseguido pelo governo, mas, sobretudo, por
algumas correntes da Igreja Católica romana”.
No
dia 06.11, a polícia, sem qualquer mandado judicial “e sobre ordens expressas
dos generais Kopelipa e José Maria, os principais carrascos do povo Cabinda,
mandaram invadir e destruir a Igreja Zezu Mvûchi, no Luvula, correndo com os
coristas, bem assim como os de Zezu Bembele, onde encontraram mulheres
dispostas a afrontá-los”, denunciou Mbala Futi, adiantando que, “todas estas
humilhações do senhor ditador Eduardo dos Santos, mesmo contando com o seu
lacaio Bembe, um dia ele e o seu regime vai pagar caro, pois serão envolvidos
pelas labaredas. O regime angolano tem medo até do ramo da palmeira que mexe,
porque o homem sem armas, tal como Cristo, que os atemoriza é o padre Casimiro
Congo, cuja força é a fé em Deus e não nas armas, instrumento dos cobardes.
Depois é triste o papel de certos bispos e padres da Igreja Católica romana,
que são do MPLA e contrariam os princípios do Papa Francisco, quanto a defesa
dos fracos e a união entre todas as igrejas. Lguns bispos e padres em Angola
fazem o contrário”, lamentou Futi.
O
QUE É A IGREJA CATÓLICA DAS AMÉRICAS
A
igreja nasceu nos Estados Unidos da América, inspirada num sínodo de
eclesiásticos, com um bispo apenas. Como qualquer das novas Igrejas independentes
católicas tem tudo igual à romana, excepto o celibato dos padres e a rigidez
católica, bem como da disciplina em todos os sectores da vida eclesial.
Um
dos seus ramos em África é a congregação de Cabinda, cuja aparição pública
ocorreu, no dia 25 de Dezembro de 2013, com uma grande homília e 65 baptismos.
Antes disso depositou todos os documentos legais na direcção da Cultura,
mandatando o advogado David Mendes.
“Inicialmente,
o governo e o MPLA não acreditaram que tivessesmos pernas para andar e então,
não nos tocaram. Deixaram esta tarefa, que julgavam menor, para o seu aliado e,
digo aliado, por ser público, o comportamento do Bispo Dom Filomeno Vieira
Lopes, que ao invés de estar preocupado com o seu rebanho, passa a vida a
desferir as maiores acusações, desprovidas de qualquer fundamento teológico e
lançando mãos aos órgãos de justiça, recheados de insinuações, sobretudo, de
teor político, contra o padre Congo e os fiéis. É isso que me levou e a tantos
outros a abandonar, com muita mágoa da Católica”, esclareceu Manuel Mbamba.
Na
sua opinião, neste momento, “existe uma deserção em massa da igreja de Dom
Filomeno, para a nossa e ao invés de analisarem as causas, decidiram passar a
política de ataque, agora capitaneada pelo comandante Eusébio, cuja
insensibilidade, para com o nosso povo e cultura, resulta da sua veia
cabo-verdiana. Ele tem um carácter intratável e de um estrangeiro”.
Recorde-se
ter, este oficial sido reintegrado na Polícia Nacional, depois de ter sido
expulso, por alegadas infracções e crimes cometidos.
“Pelos
vistos é para continuar nessa senda, daí inventar uma série de estórias
contra a nossa congregação; Igreja Católica das Américas e o padre Casimiro
Congo, baseando as acusações num documento redigido pelo comandante da
Polícia de Cacongo, Cristo Liberal, de o padre Congo viver as expensas da
comunidade de Lubundunu, que já não existe, de estar a promover a FLEC e a
Mpalabandana com reuniões constantes na sua casa, de ter um activista chamado
Hotel, desconhecido no nosso seio, mas que só o comandante conhece, talvez
seja um infiltrado da Segurança”, esclareceu, acrescentando ainda, “ter o nosso
líder espiritual reuniões constantes em Ponta-Negra com a FLEC em datas e
lugares desconhecidos. O grave é que quando confrontado, com este rolo de mentiras
disse, ter sido obrigado a fazê-las”.
No
dia17 de Agosto um contingente de mais de oitenta polícias e dois carros
militares cercaram a casa do padre, sob alegação de estar a preparar uma
manifestação. Inventam tantas estórias só para nos prender, como o fizeram aos
catequistas, Sebastião Bilendo, Zacarias Ngoma e membros como Filipe Tomás,
Luis Mandafama e Alexandre Chocolate.
No
dia 07 de Novembro, às 08 horas da manhã, três carros da polícia nacional e
PIR, armados até aos dentes, comandados pelo conhecido comandante Tony, da
esquadra de Ngoma, invadiram as zonas da Igreja, sita nas imediações do bairro
Ngoma, espancando, cobardemente, várias mulheres, furaram as chapas da enorme
sombra e levaram para lugar desconhecido o catequista Zacarias Ngoma, depois
de o torturarem”, acusou.
Logo
depois, um grupo de mulheres esteve à frente do Governo Provincial para tentar
falar com a governadora “que tem desempenhado um papel dúbio, em relação a
esta crise inspirada por Eduardo dos Santos. Eles tratam a igreja como se
fossemos a FLEC e a MPALABANDA. No entanto, a nossa igreja está reconhecida
pela Direcção da Cultura e, no momento, do seu brutal e ilegal encerramento,
uma equipa do todo poderoso e violador da lei, o milionário general Kopelipa,
um dos grandes colonizadores do povo Cabinda, com vários crimes de guerra, nas
costas, pela sua política de assassinatos selectivos, prisões arbitrárias,
destruição de bwalas inteiras e envenenamento de pessoas, tem os documentos
da igreja, mas ainda assim continua a recorrer a força. Não sei o que se passa
já que a igreja não consta das listas das igreja sob mira governamental”,
denunciou Patrício Ngandu.
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