sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Cabinda - Angola: REGIME SÓ CONHECE A LINGUAGEM DA FORÇA




Folha 8, 08 novembro 2014

Em Cabinda, como vimos, a situação está tensa, não só do ponto de vista militar, como agora e também, religioso. O regime tem medo das opções religio­sas dos cidadãos e quer o seu controlo, não pela persuasão mas pela força. Desta forma está a causar um efeito diferente, pois deixa a sensação de es­tar mais preocupado com quem está a frente da nova igreja, o padre Congo. Porquê?

Fruto das tensões políti­cas e por defender uma opção diferente, este pa­dre, bastante popular, foi sendo perseguido de tal forma que a sua popu­laridade foi subindo em flecha. No pico das ten­sões foi “forçado” a sair da Igreja Católica Ro­mana, mas não abdicou totalmente da fé. Decide continuar o evangelho na Igreja Católica das Amé­ricas, que é uma destas versões independentes da Igreja Católica.

O Vicariato Cristo Res­gatador (Angola) nasceu em Cabinda, estando à frente o Padre Jorge Ca­simiro Congo, desde o seu aparecimento, no dia 25 de Dezembro de 2013, em Lândana, com uma eucaristia e sessenta bap­tismos.

Chisyâku foi o espaço que acolheu a Igreja, na cida­de de Cabinda, evoluindo, depois, para a zona que, popularmente, se deno­mina por Papá Ngoma, transformado no princi­pal centro, para além do de São Pedro e Kafôngo.

Fruto da perseguição con­tra o seu patrono e prin­cipais colaboradores, ao invés de se conhecer uma diminuição o número de fiéis foi aumentando, se­manalmente, com núme­ros que ultrapassam os 500 membros, muitos vindos da Igreja Católica romana.

PERSEGUIÇÃO DESCARADA DO REGIME

O governo seguia estar­recido o agigantar desta nova Igreja e era visível ver, nas homílias, a pre­sença maciça de membros dos órgãos de repressão, com tabletes e smartpho­nes, a filmar, para ver se existia algum ilícito, mas na falta deste, ainda assim havia que continuar com a política do bastão.

É aqui que os serviços se­cretos passam a propagar ser a igreja uma criação da Mpalabanda, única asso­ciação de direitos huma­nos suspensa, no país, por ser de Cabinda; que a igre­ja tem cunho político; que a igreja é motor da inde­pendência de Cabinda, etc.

“O comité do MPLA de Lândana, acusado de ser composto, por imigrantes e zairo-oriundos, auxilia­dos, mormente, pelo SIN­FO, liderado por um tal Miúdo, percorre os bair­ros, espalhando ameaças e intimidando possíveis convertidos, chegando, inclusive, a ameaçar o re­gedor de Ntando-mpali que cedeu terreno à Igreja Católica das Américas, no Lwango-Pequeno”, disse ao F8, Mbinda Findi.

Este crente da nova con­gregação diz ter vindo a maior reacção do bispo e do clero da diocese da Igreja católica romana, com a publicação de uma carta pastoral, em Janeiro, recheada de um português enviesado e teologicamen­te fraco, onde se destacam muitas desconsiderações, desnecessárias, que nada vieram ajudar o clima re­ligioso.

“O próprio bispo foi a Po­vo-grande, paróquia dos salesianos, ler o referido documento com um portu­guês incompreensível para a maioria da assembleia. Desfez-se em permanen­tes viagens a Mayombe, onde reunia com os qua­dros do MPLA, nomeada­mente o seu 2º secretário, bem como os catequistas e distribuía-lhes mimos, pedindo insistentemen­te que não recebessem o Padre Congo”, acusa a crente Joana Mpemba, acrescentando que nesta campanha de persegui­ção “contra nós, são mo­bilizados os padres espi­ritanos de Lândana, que recorrem à Investigação Criminal, como se este órgão fosse um departa­mento da Igreja Católica, passando despudorada­mente pelas bwalas a pro­palar ser a Igreja do Padre Congo um partido político. Eles afinal têm medo de uma pessoa e da sua fé. Da forma como ele fala de Deus e Jesus seu filho. É uma vergonha o que estão a fazer”, disse.

O DESPOLETAR DO PROCESSO

Os crentes desta congre­gação dizem, tudo ter co­meçado em Janeiro “com ameaças veladas, na rádio e televisão estatais, “numa clara demonstração de desrespeito pela liberdade religiosa, principalmente, quando uma igreja é lide­rada por um preto convic­to e não corrupto”, afirmou Maria Futi, acrescentando tudo ter ficado mais claro, “quanto a promiscuidade entre os órgãos da Segu­rança de Estado, alguns padres e igrejas, quando no dia 16 desse mesmo mês, recebeu-se uma con­vocatória do Ministério do Interior precedida de comunicado sem sentido, mas repleto de ameaças”, denunciou. Foi aí, adian­tou, que se decidiu pelo encerramento das igrejas não legais(?).

“Estranhamente uma de­cisão da Polícia seria, tam­bém, em primeira mão, anunciada na paróquia da Imaculada Conceição, pelo Padre Futi, sobran­ceiramente, comunicando à assembleia o seguinte: o templo deles já está no fim, com esta tirada, percebe­mos que o problema é o Padre Congo, perseguido pelo governo, mas, sobre­tudo, por algumas corren­tes da Igreja Católica ro­mana”.

No dia 06.11, a polícia, sem qualquer mandado judicial “e sobre ordens expressas dos generais Kopelipa e José Maria, os principais carrascos do povo Cabinda, mandaram invadir e destruir a Igreja Zezu Mvûchi, no Luvula, correndo com os coris­tas, bem assim como os de Zezu Bembele, onde encontraram mulheres dispostas a afrontá-los”, denunciou Mbala Futi, adiantando que, “todas estas humilhações do se­nhor ditador Eduardo dos Santos, mesmo contando com o seu lacaio Bembe, um dia ele e o seu regime vai pagar caro, pois serão envolvidos pelas labare­das. O regime angolano tem medo até do ramo da palmeira que mexe, por­que o homem sem armas, tal como Cristo, que os atemoriza é o padre Ca­simiro Congo, cuja força é a fé em Deus e não nas armas, instrumento dos cobardes. Depois é triste o papel de certos bispos e padres da Igreja Católica romana, que são do MPLA e contrariam os princípios do Papa Francisco, quan­to a defesa dos fracos e a união entre todas as igre­jas. Lguns bispos e padres em Angola fazem o contrá­rio”, lamentou Futi.

O QUE É A IGREJA CATÓLICA DAS AMÉRICAS

A igreja nasceu nos Esta­dos Unidos da América, inspirada num sínodo de eclesiásticos, com um bis­po apenas. Como qualquer das novas Igrejas indepen­dentes católicas tem tudo igual à romana, excepto o celibato dos padres e a ri­gidez católica, bem como da disciplina em todos os sectores da vida eclesial.

Um dos seus ramos em África é a congregação de Cabinda, cuja aparição pública ocorreu, no dia 25 de Dezembro de 2013, com uma grande homília e 65 baptismos. Antes disso depositou todos os docu­mentos legais na direcção da Cultura, mandatando o advogado David Mendes.

“Inicialmente, o governo e o MPLA não acreditaram que tivessesmos pernas para andar e então, não nos tocaram. Deixaram esta tarefa, que julgavam menor, para o seu aliado e, digo aliado, por ser pú­blico, o comportamento do Bispo Dom Filomeno Vieira Lopes, que ao in­vés de estar preocupado com o seu rebanho, passa a vida a desferir as maiores acusações, desprovidas de qualquer fundamento teo­lógico e lançando mãos aos órgãos de justiça, re­cheados de insinuações, sobretudo, de teor político, contra o padre Congo e os fiéis. É isso que me levou e a tantos outros a abando­nar, com muita mágoa da Católica”, esclareceu Ma­nuel Mbamba.

Na sua opinião, neste mo­mento, “existe uma de­serção em massa da igreja de Dom Filomeno, para a nossa e ao invés de anali­sarem as causas, decidi­ram passar a política de ataque, agora capitaneada pelo comandante Eusébio, cuja insensibilidade, para com o nosso povo e cul­tura, resulta da sua veia cabo-verdiana. Ele tem um carácter intratável e de um estrangeiro”.

Recorde-se ter, este oficial sido reintegrado na Polí­cia Nacional, depois de ter sido expulso, por alegadas infracções e crimes come­tidos.

“Pelos vistos é para con­tinuar nessa senda, daí inventar uma série de es­tórias contra a nossa con­gregação; Igreja Católica das Américas e o padre Casimiro Congo, basean­do as acusações num do­cumento redigido pelo comandante da Polícia de Cacongo, Cristo Liberal, de o padre Congo viver as expensas da comunidade de Lubundunu, que já não existe, de estar a promover a FLEC e a Mpalabandana com reuniões constantes na sua casa, de ter um acti­vista chamado Hotel, des­conhecido no nosso seio, mas que só o comandante conhece, talvez seja um infiltrado da Segurança”, esclareceu, acrescentando ainda, “ter o nosso líder es­piritual reuniões constan­tes em Ponta-Negra com a FLEC em datas e lugares desconhecidos. O grave é que quando confrontado, com este rolo de mentiras disse, ter sido obrigado a fazê-las”.

No dia17 de Agosto um contingente de mais de oi­tenta polícias e dois carros militares cercaram a casa do padre, sob alegação de estar a preparar uma manifestação. Inventam tantas estórias só para nos prender, como o fizeram aos catequistas, Sebastião Bilendo, Zacarias Ngoma e membros como Filipe Tomás, Luis Mandafama e Alexandre Chocolate.

No dia 07 de Novembro, às 08 horas da manhã, três carros da polícia nacional e PIR, armados até aos dentes, comandados pelo conhecido comandante Tony, da esquadra de Ngo­ma, invadiram as zonas da Igreja, sita nas imediações do bairro Ngoma, espan­cando, cobardemente, vá­rias mulheres, furaram as chapas da enorme sombra e levaram para lugar des­conhecido o catequista Za­carias Ngoma, depois de o torturarem”, acusou. 

Logo depois, um grupo de mulheres esteve à frente do Governo Provincial para tentar falar com a governadora “que tem de­sempenhado um papel dú­bio, em relação a esta cri­se inspirada por Eduardo dos Santos. Eles tratam a igreja como se fossemos a FLEC e a MPALABANDA. No entanto, a nossa igre­ja está reconhecida pela Direcção da Cultura e, no momento, do seu brutal e ilegal encerramento, uma equipa do todo poderoso e violador da lei, o milioná­rio general Kopelipa, um dos grandes colonizadores do povo Cabinda, com vá­rios crimes de guerra, nas costas, pela sua política de assassinatos selecti­vos, prisões arbitrárias, destruição de bwalas in­teiras e envenenamento de pessoas, tem os do­cumentos da igreja, mas ainda assim continua a recorrer a força. Não sei o que se passa já que a igreja não consta das lis­tas das igreja sob mira governamental”, denun­ciou Patrício Ngandu.

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