Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Paulo
Portas, vice-primeiro-ministro, irá ao Parlamento explicar a embrulhada dos
vistos "gold". O que neste momento, no entanto, está em causa, é
saber se o país deve manter o programa de incentivo à captação de investimento
estrangeiro pela via de autorizações de residência.
Os
recentes acontecimentos emergem claríssimos. O modelo deu azo a um elaborado
esquema de corrupção, sendo os suspeitos alguns dos mais altos quadros do
aparelho do Estado. O presidente do SEF , Manuel Palos, o zelador máximo das
nossas fronteiras, está detido.
Paula
Teixeira da Cruz pode ter razão. A ministra, que vê o seu ministério fortemente
atingido pela vaga de detenções e suspeições, reagia a toda a operação policial
dizendo: a impunidade acabou. Não há, de facto, memória de a Justiça ter
atingido tão alto na hierarquia do Estado. Furou uma teia que envolve altos
dirigentes e seus familiares, com ligações a membros do Governo e até a um juiz
desembargador - antigo diretor do SIS, denominado superpolícia por ter a missão
de fazer a ponte entre as diferentes forças de segurança.
A
habilidade política de Paulo Portas, tantas hossanas tem cantado aos gold,
poderá ser insuficiente para explicar aos portugueses a virtude dos vistos para
estrangeiros ricos. Imobiliárias e empresas de construção civil, por enquanto,
surgem como as beneficiadas de um programa que prometia cativar para Portugal
investimento estrangeiro. E investimento significaria emprego. Até agora, da
montanha saiu um rato: só um dos contratos criou 10 postos de trabalho. Os
restantes - segundo o vice-primeiro-ministro, trouxeram para o país 1076
milhões de euros - cumpriram o requisito de depositar em Portugal um valor
superior a um milhão ou adquirir um imóvel avaliado em meio milhão. Fraco
resultado, sem dúvida, para Portugal, que terá a agora de sacudir a imagem de
entreposto de lavagem de dinheiro.
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