domingo, 16 de novembro de 2014

Portugal: AFINAL PARA QUE SERVEM OS VISTOS “GOLD”?



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

Paulo Portas, vice-primeiro-ministro, irá ao Parlamento explicar a embrulhada dos vistos "gold". O que neste momento, no entanto, está em causa, é saber se o país deve manter o programa de incentivo à captação de investimento estrangeiro pela via de autorizações de residência.

Os recentes acontecimentos emergem claríssimos. O modelo deu azo a um elaborado esquema de corrupção, sendo os suspeitos alguns dos mais altos quadros do aparelho do Estado. O presidente do SEF , Manuel Palos, o zelador máximo das nossas fronteiras, está detido.

Paula Teixeira da Cruz pode ter razão. A ministra, que vê o seu ministério fortemente atingido pela vaga de detenções e suspeições, reagia a toda a operação policial dizendo: a impunidade acabou. Não há, de facto, memória de a Justiça ter atingido tão alto na hierarquia do Estado. Furou uma teia que envolve altos dirigentes e seus familiares, com ligações a membros do Governo e até a um juiz desembargador - antigo diretor do SIS, denominado superpolícia por ter a missão de fazer a ponte entre as diferentes forças de segurança.

A habilidade política de Paulo Portas, tantas hossanas tem cantado aos gold, poderá ser insuficiente para explicar aos portugueses a virtude dos vistos para estrangeiros ricos. Imobiliárias e empresas de construção civil, por enquanto, surgem como as beneficiadas de um programa que prometia cativar para Portugal investimento estrangeiro. E investimento significaria emprego. Até agora, da montanha saiu um rato: só um dos contratos criou 10 postos de trabalho. Os restantes - segundo o vice-primeiro-ministro, trouxeram para o país 1076 milhões de euros - cumpriram o requisito de depositar em Portugal um valor superior a um milhão ou adquirir um imóvel avaliado em meio milhão. Fraco resultado, sem dúvida, para Portugal, que terá a agora de sacudir a imagem de entreposto de lavagem de dinheiro.

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