sábado, 8 de novembro de 2014

Portugal - CAVACO SILVA. TACANHO, MALOIO OU SACANA DE PRIMEIRA-APANHA?



Mário Motta, Lisboa

O homem há-de morrer tendo feito o percurso de vida sem que se possa ter a certeza absoluta se ele era um tacanho, um maloio ou um sacana da política de primeira-apanha. Uma coisa é certa: tem demonstrado um conservadorismo pejado de estreiteza de ideias, um cobarde político que ao querer jogar pelo seguro para aqueles que representa não deixa Portugal avançar. Também é nele que encontramos um dos principais adversários da Constituição da República – que só não a desrespeita se não puder ou por não poder. Com este indivíduo nos poderes sabemos sempre que nas suas vigências de mandatos os ricos ficam mais ricos e os pobres muito mais pobres.

Escuda-se em falsidades, em argumentos esfarrapados (e até estúpidos) ou em silêncios que demonstram a sua cobardia e opacidade. Fala em legalidades quando lhe convém mas não se priva de as tornear quando considera que pode fazê-lo, argumentando, se descoberto, confusões ou esquecimento, ou ainda metendo os pés pelas mãos (sisa da casa no Algarve). Quanto à sua moralidade ficou bem evidenciada quando um criminoso seu par, seu ex-secretário de estado, Oliveira e Costa, maioral do BPN/SLN, lhe vendeu (e à filha) 250 mil ações, como era divulgado no Expresso em 13 de Abril de 2011: “O ex-presidente do BPN terá vendido a Cavaco Silva e à sua filha 250 mil ações da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), a um euro cada, segundo uma testemunha.”

Mais à frente o Expresso ainda refere: “Oliveira Costa teve um prejuízo de 275 mil euros com a venda daquelas ações a Cavaco Silva e Patrícia Montez e um lucro de 15 mil euros da venda daquelas ações às contas de investimento de clientes do BPN.” É evidente que posteriormente Cavaco e a filha venderam as ações a um preço muito superior, conseguindo um lucro fácil e enorme.

Perguntar se Cavaco recebeu uma “prenda” ou se é um grande agiota, até para amigos, foi e é muito pertinente. Certamente que todos conhecemos indivíduos que se aproveitam do mal dos outros para tirar lucros. Ou então recebem em pagamento de favores certas “prendas”. Não se sabe, nem nunca se saberá. O “negócio” foi legal mas imoral e configura a personalidade e práticas de um sujeito que jamais devia ser presidente da República. Os portugueses votaram nele. A democracia recomenda-nos que aceitemos a eleição. O que não invalida que critiquemos a ética do ocupante do Palácio de Belém. A verdade é que Oliveira e Costa anda por aí em liberdade, apesar de todo o escândalo do caso BPN/SLN. Quanto vale ser amigo de Cavaco?

Eleições antecipadas

Fica por saber por que motivo os partidos à esquerda da maioria (dando de barato o PS como fosse de esquerda) acalentaram a esperança de que Cavaco Silva antecipasse as eleições em prejuízo do seu governo, de Passos e de Portas. Era certo e sabido que o PR Cavaco só não prolonga a vigência do seu governo de maioria em 2011 (já perdeu esse eleitorado há muito) porque não pode. A não ser que houvesse um golpe de Estado e então lá avançaria o tal “governo de salvação nacional” tanto ao gosto de Cavaco e da direita revanchista que ele representa.

Cavaco Silva disse ontem quase tudo que os portugueses querem saber. Ele está-se borrifando para Portugal e para o facto de que o governo então eleito em Outubro de 2015 não ter condições para apresentar o OE para 2016 a tempo e assim ficarmos a ser governados por duodécimos. Cavaco sabe que o seu governo PSD/CDS não vai ser reeleito e que tudo aponta para uma eleição em 2015 que entregará uma maioria ao Partido Socialista. Se tal não se configurasse deste modo, se Cavaco tivesse a certeza que o seu governo voltaria a ser eleito com uma maioria, ninguém duvide que ele anteciparia as eleições pretextando a elaboração do Orçamento de Estado a tempo.

Cavaco evoca a lei para se alapar naquilo que cabe no seu sectarismo, na sua visão exclusivamente partidária e mentalidade de permanente exclusão daquilo que ele sente ou pressente estar fora das regras dos seus ditames e da sua política repleta de cobardia e opacidade.

Afinal não é novidade que Portugal vai continuar a ser governado por um bando de mentirosos, de hipócritas e incompetentes, muitos deles formados na juventude do PSD quando ele era o presidente do partido e também primeiro-ministro. Então, aí, tudo era fácil para esses “meninos” e as “paletes” de euros vindas da UE jorravam em Portugal com muitos benefícios para os que estavam na bolha sectária dirigida por Cavaco Silva.

Foi um fartar vilanagem. Como hoje ainda é, aproveitando a boleia da “crise”.

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