Mário
Motta, Lisboa
O
homem há-de morrer tendo feito o percurso de vida sem que se possa ter a
certeza absoluta se ele era um tacanho, um maloio ou um sacana da política de
primeira-apanha. Uma coisa é certa: tem demonstrado um conservadorismo pejado
de estreiteza de ideias, um cobarde político que ao querer jogar pelo seguro
para aqueles que representa não deixa Portugal avançar. Também é nele que
encontramos um dos principais adversários da Constituição da República – que só
não a desrespeita se não puder ou por não poder. Com este indivíduo nos poderes
sabemos sempre que nas suas vigências de mandatos os ricos ficam mais ricos e
os pobres muito mais pobres.
Escuda-se
em falsidades, em argumentos esfarrapados (e até estúpidos) ou em silêncios que
demonstram a sua cobardia e opacidade. Fala em legalidades quando lhe convém
mas não se priva de as tornear quando considera que pode fazê-lo, argumentando,
se descoberto, confusões ou esquecimento, ou ainda metendo os pés pelas mãos
(sisa da casa no Algarve). Quanto à sua moralidade ficou bem evidenciada quando
um criminoso seu par, seu ex-secretário de estado, Oliveira e Costa, maioral do
BPN/SLN, lhe vendeu (e à filha) 250 mil ações, como era divulgado no Expresso
em 13 de Abril de 2011: “O ex-presidente do BPN terá
vendido a Cavaco Silva e à sua filha 250 mil ações da Sociedade
Lusa de Negócios (SLN), a um euro cada, segundo uma testemunha.”
Mais
à frente o Expresso ainda refere: “Oliveira Costa teve um prejuízo de 275 mil
euros com a venda daquelas ações a Cavaco Silva e Patrícia Montez e um lucro de
15 mil euros da venda daquelas ações às contas de investimento de clientes do
BPN.” É evidente que posteriormente Cavaco e a filha venderam as ações a um
preço muito superior, conseguindo um lucro fácil e enorme.
Perguntar
se Cavaco recebeu uma “prenda” ou se é um grande agiota, até para amigos, foi e
é muito pertinente. Certamente que todos conhecemos indivíduos que se
aproveitam do mal dos outros para tirar lucros. Ou então recebem em pagamento
de favores certas “prendas”. Não se sabe, nem nunca se saberá. O “negócio” foi
legal mas imoral e configura a personalidade e práticas de um sujeito que
jamais devia ser presidente da República. Os portugueses votaram nele. A
democracia recomenda-nos que aceitemos a eleição. O que não invalida que
critiquemos a ética do ocupante do Palácio de Belém. A verdade é que Oliveira e
Costa anda por aí em liberdade, apesar de todo o escândalo do caso BPN/SLN. Quanto
vale ser amigo de Cavaco?
Eleições
antecipadas
Fica
por saber por que motivo os partidos à esquerda da maioria (dando de barato o
PS como fosse de esquerda) acalentaram a esperança de que Cavaco Silva
antecipasse as eleições em prejuízo do seu governo, de Passos e de Portas. Era
certo e sabido que o PR Cavaco só não prolonga a vigência do seu governo de
maioria em 2011 (já perdeu esse eleitorado há muito) porque não pode. A não ser
que houvesse um golpe de Estado e então lá avançaria o tal “governo de salvação
nacional” tanto ao gosto de Cavaco e da direita revanchista que ele representa.
Cavaco
Silva disse ontem quase tudo que os portugueses querem saber. Ele está-se
borrifando para Portugal e para o facto de que o governo então eleito em
Outubro de 2015 não ter condições para apresentar o OE para 2016 a tempo e assim
ficarmos a ser governados por duodécimos. Cavaco sabe que o seu governo PSD/CDS
não vai ser reeleito e que tudo aponta para uma eleição em 2015 que entregará
uma maioria ao Partido Socialista. Se tal não se configurasse deste modo, se
Cavaco tivesse a certeza que o seu governo voltaria a ser eleito com uma
maioria, ninguém duvide que ele anteciparia as eleições pretextando a elaboração
do Orçamento de Estado a tempo.
Cavaco
evoca a lei para se alapar naquilo que cabe no seu sectarismo, na sua visão
exclusivamente partidária e mentalidade de permanente exclusão daquilo que ele
sente ou pressente estar fora das regras dos seus ditames e da sua política
repleta de cobardia e opacidade.
Afinal
não é novidade que Portugal vai continuar a ser governado por um bando de
mentirosos, de hipócritas e incompetentes, muitos deles formados na juventude do
PSD quando ele era o presidente do partido e também primeiro-ministro. Então, aí,
tudo era fácil para esses “meninos” e as “paletes” de euros vindas da UE jorravam
em Portugal com muitos benefícios para os que estavam na bolha sectária
dirigida por Cavaco Silva.
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