Vítor
Rainho - Sol, opinião
A
história simplificada é esta. Após a independência, a ONU fez um acordo com
Timor enviando vários funcionários judiciais internacionais, atendendo a que a
jovem nação não tinha os juízes e magistrados que permitissem o normal
funcionamento de um Estado de Direito. Algumas dezenas de funcionários da
Justiça e operacionais policiais de vários países foram então colocados em
Timor.
Os
problemas surgiram quando os ditos magistrados começaram a investigar a acção
de alguns governantes, além de terem, supostamente, defendido os interesses do
país face às empresas petrolíferas. Alega o primeiro-ministro timorense, Xanana
Gusmão, que os magistrados portugueses se revelaram incompetentes e fizeram
Timor perder muito dinheiro, cerca de 300 milhões de euros, com os tais
negócios do petróleo.
Não
se percebeu se foi por essa razão que todos os magistrados da ONU colocados
receberam, tal como os portugueses, ordem de expulsão. Sabe-se sim, que os
portugueses foram os únicos que tiveram 48 horas para abandonar o país. Até se
percebe que um país não queira que magistrados estrangeiros julguem os seus
governantes, ainda que eles estivessem em Díli a pedido das próprias
autoridades timorenses. E se não queriam deveriam tê-lo dito anteriormente,
deixando para os magistrados da ONU apenas as questões judiciais que não
envolvessem membros do Estado. Se estes aceitassem, tudo estaria em paz.
Mas
não foi o que aconteceu. E não deixa de ser curiosa a maneira quase ternurenta
muita da comunicação social portuguesa trata, neste conflito, Xanana Gusmão e o
seu inaceitável gesto de afrontamento diplomático. Imaginemos que toda esta
história se tinha passado com Angola e os seus governantes. O que diria a mesma
comunicação social? Tratariam o primeiro-ministro ou o chefe de Estado
angolanos com a mesma compreensão e deferência?
Parece
óbvio que não. É que, na comunicação social portuguesa, além de conhecidos
preconceitos políticos e ideológicos, há olhares muito diferentes consoante são
as longitudes…
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