Ana
Sá Lopes – jornal i
O
choque diplomático foi imenso, mas a crise está lentamente a acalmar
A
decisão de Xanana Gusmão de expulsar os magistrados portugueses apanhou o
governo de surpresa. Para piorar as coisas, o primeiro-ministro timorense
justificou a ausência de informação a Lisboa com "outros afazeres". O
gelo instalou-se entre Lisboa e Díli. Num primeiro comunicado, a 3 de Novembro,
o Ministério dos Negócios Estrangeiros reagiu crítica mas cautelosamente:
manifestou a "profunda preocupação e desconforto com as decisões do
governo de Timor-Leste sobre os funcionários judiciais internacionais e
respectivas assessorias" e ao mesmo tempo "deplorou", "por
claramente desproporcionadas, as súbitas revogações de vistos e de autorizações
de estada, que considera graves e que imputa a razões alheias ao desempenho das
tarefas atribuídas aos referidos funcionários internacionais".
No
mesmo dia, o governo anunciou que a cooperação na área da justiça deveria ser
"reavaliada" e "ficará dependente dos esclarecimentos que venham
a ser prestados pelas autoridades timorenses". Enquanto Xanana Gusmão -
numa segunda entrevista em Díli - justificava a expulsão com o facto de o
estado timorense estar a perder muito dinheiro nos processos contra as
companhias petrolíferas, o governo português, dois dias depois, através de um
comunicado da ministra da Justiça, decidiu mesmo terminar a cooperação
judiciária com Timor-Leste.
Passos
Coelho foi muito crítico do governo de Timor - "Somos muito amigos de
Timor, mas há limites que não podem ser ultrapassados". O Presidente da
República também: "Aquilo que aconteceu foi uma reacção desproporcionada
da autoridade timorense e lamento profundamente que se tenha posto em causa a
competência dos magistrados portugueses." Mas na quarta-feira o ministro
dos Negócios Estrangeiros veio acalmar os ânimos, isto enquanto se soube que há
magistrados timorenses que afirmam "temer pela vida". Rui Machete
afirmou ter uma "fundada esperança" de que a crise seja ultrapassada
rapidamente. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, "haverá a
possibilidade de continuar tranquilamente a realizar a cooperação" nas
outras áreas, como a defesa e a educação.
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