sábado, 22 de março de 2014

Portugal: DA RAIVA DAS RUAS



Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

Semana após semana torna-se cada vez mais difícil escrever sobre este país sem repetir o que já se escreveu ou sem vociferar sobre as últimas declarações de algumas das mais tristes caricaturas que vão dando a cara pelo regime. A estratégia que une as direcções do PSD, CDS e PS implica tergiversar para alimentar a querela sobre o acessório ao mesmo tempo que afasta, conscientemente, cidadão eleito de cidadão eleitor.

Na verdade, eleitoralmente, esta táctica tem dado óptimos resultados e não é de esperar que nas próximas eleições europeias, mesmo com a expectável subida dos comunistas, possa sofrer um grande rombo. As máquinas de propaganda do regime tratarão de fazer passar que só existem dois candidatos e que dizem coisas diferentes. À maioria que já não os suporta tratarão de reafirmar que os outros são todos iguais e que o melhor é não votar.
Mas a raiva e o ódio crescem nas ruas.

Nas salas de espera dos hospitais, nas filas para a Segurança Social, nas madrugadas passadas à espera de vez nos centros de saúde ouve-se a raiva de quem perdeu a sua casa por causa da Lei Cristas, de quem não consegue ter dinheiro para pagar os medicamentos aos seus, de quem vê partir os filhos e os netos. Odeia-se Cavaco, Passos, Portas e Seguro. As redes sociais transformam-se num saco de boxe em que as pessoas sentem que podem expressar violentamente as suas angústias.

Nesse país, com pouca expressão no parlamento, são poucos os que assumem ter eleito este governo ou que ensaiem a sua defesa.

Não duvido de que muitos ainda mantenham o voto nos mesmos, por medo, medo do futuro. Mas esta raiva que cresce nas ruas, em cada esquina e em cada pessoa, não tende a serenar. Um dia, sem que nada o preveja, é muito possível que esta raiva individual ganhe uma expressão colectiva, como noutros momentos históricos e como tem sucedido noutras geografias e, aí, quem hoje ignora e provoca estes sinais não encontrará conforto nas ruas.

Escreve ao sábado

Portugal - Contratos emprego inserção: o voluntariado forçado de 100 mil pessoas




São já mais de 100 mil as pessoas que trabalham no Estado e em IPSS sem salário ou direitos laborais.

Cristina Andrade

São pessoas sujeitas a uma das mais agressivas formas de exploração laboral, o “trabalho socialmente útil” materializado nos contratos de emprego inserção (CEI). Até quando vai esta realidade continuar silenciada?

As relações laborais atípicas têm vindo a recrudescer ao longo dos últimos anos, seja através do recurso a empresas de trabalho temporário, falsos recibos verdes, estágios ou trabalho não declarado. À medida que a emigração atinge números inéditos e que o desemprego afeta mais de um milhão de trabalhadores, as condições para a opressão de quem trabalha intensificam-se também. É neste contexto que os contratos de emprego inserção se estão a disseminar, atingindo já mais de 100 mil pessoas (que apesar de desempregadas não contam para as estatísticas do desemprego).

As medidas que obrigam pessoas desempregadas a trabalhar foram conhecidas durante vários anos como Programa Ocupacional de Emprego (POC), sendo o seu nome mais recente Contrato de Emprego Inserção (CEI) – quando destinado a pessoas que recebem subsídio de desemprego – e Contratos de Emprego Inserção+ (CEI+), quando os destinatários são pessoas que recebem o rendimento social de inserção (RSI).

O funcionamento destes programas é, em traços gerais, o seguinte: a colocação de trabalhadores ao abrigo de CEI e CEI+ é da responsabilidade do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP); podem candidatar-se a receber estes trabalhadores as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e os serviços públicos do Estado, devendo para tal manifestar o seu interesse junto do IEFP. Posto isto, o IEFP contacta as pessoas inscritas no Centro de Emprego que considera adequadas e escolhe uma pessoa que tem obrigatoriamente que aceitar a colocação no CEI ou CEI+ sob pena de perder o subsídio de desemprego ou o RSI.

De acordo com a legislação em vigor, os CEI e CEI+ não deveriam ocupar postos de trabalho, mas é por demais evidente que não é isso que acontece. Na verdade, há diversas funções do setor público que são asseguradas graças aos CEI e CEI+, como sejam os auxiliares de ação educativa nas escolas, sendo por demais evidente que esta se trata de uma função permanente e que, portanto, estas pessoas deveriam ser contratas. O mesmo se passa nas IPSS que recorrem por demais a CEI e CEI+ para asseguram funções inerentes a estas instituições, escusando-se assim a pagar um salário a trabalhadores.

Ora, as pessoas contratadas através de CEI e CEI+ são extremamente interessantes para as entidades contratantes uma vez que elas significam trabalho quase gratuito e quase sem direitos. De facto, a entidade contratante tem apenas que pagar o subsídio de transporte e de alimentação e uma pequeníssima parte da bolsa mensal que o trabalhador recebe.

No final do mês, a pessoa que está a trabalhar ao abrigo de um CEI receberá o seu subsídio de desemprego, acrescido de 83,84€ (20% do Indexante dos Apoios Sociais). Uma pessoa que esteja a receber o RSI; no final do mês vai receber 419,22 euros por mês (valor do Indexante dos Apoios Sociais), sendo que a entidade contratante paga apenas 10% deste valor caso seja uma IPSS e 20% se for uma entidade pública, sendo o restante pagamento assegurado pelo IEFP.

Perante o exposto se constata que para a entidade patronal esta medida só apresenta vantagens, uma vez que quase nada tem que pagar por um trabalhador a tempo inteiro, trabalhador este que, formalmente, é um desempregado a exercer funções socialmente úteis e que portanto não tem direitos laborais.

Neste cenário, criam-se naturalmente expectativas junto das pessoas desempregadas que esperam poderem ser empregadas por estas instituições, o que nunca acontece não só porque essa não é a intenção de fundo como também porque há um batalhão de pessoas desempregadas prontas a serem obrigadas a trabalhar de graça quando aquele CEI for embora.

De acordo com os dados oficiais do IEFP, em 2013 este instituto público tinha como meta a colocação de 61856 pessoas através de CEI e 12993 através de CEI+, o que perfaz um total de 74849 pessoas a serem colocadas ao abrigo destas medidas.

Contabilizando as pessoas que entraram em CEI e CEI+ em 2013 e as que se encontravam já a trabalhar ao abrigo desta medida, estamos a falar de mais de 100 mil pessoas que estão a trabalhar no Estado e em IPSS através de CEI e CEI+.

100 mil pessoas que deveriam ter um contrato de trabalho com os direitos e deveres laborais associados.

100 mil pessoas que não estão contabilizadas nas estatísticas do desemprego.

100 mil pessoas que são voluntárias à força.

Uma sociedade decente não pode permitir que esta realidade continue silenciada!

Esquerda net -  Cristina Andrade, ativista contra a precariedade. Dirigente do Bloco de Esquerda

Portugal: A REALIDADE TRANSFORMA-SE



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Nenhum tempo novo, ou "nova era", nos surge oferecido, muito menos a partir das ideias, teorias e práticas dominantes, nos quadros de valores, dogmas e instituições que caminham para o colapso. Trata-se sempre de uma construção humana resultante da ação (ou inação) que os indivíduos assumem individual e coletivamente, desbravando caminhos teóricos e ensaiando práticas, à partida minoritárias e adjetivadas negativamente.

O debate sobre a reestruturação da dívida está fazendo o seu caminho. Trata-se de uma questão política de grande prioridade, em Portugal e noutros países. Ela há de tornar-se posição defendida por uma maioria nova, por muito que os poderes dominantes ou quem lhes quer ser simpático vociferem e insultem.

Uma análise atenta aos tempos que vivemos mostra-nos que: i) estamos num Mundo prisioneiro de cada vez mais riscos, gerados por bloqueios e contradições de um sistema político injusto, por um estilo de vida de parte da população que é insustentável, por uma competitividade irracional e por uma ganância incontrolada; ii) as pessoas são todos os dias convidadas a jogar a sua vida num casino às escuras e obrigadas a jogar com cartas viciadas; iii) somos parte de uma União Europeia (UE) e vivemos num país onde se desenvolve uma guerra aberta - a arma mais utilizada é o medo, o poder que comanda é o financeiro e os governantes de serviço comportam-se como seus mercenários.

À Grécia, no chamado primeiro resgate foi concedida uma verba de 130 mil milhões de euros. Várias organizações internacionais observaram o destino desse volume de dinheiro e chegaram a esta conclusão: 52% do total da verba regressou rapidamente aos bancos internacionais credores; 23% retornou aceleradamente ao Banco Central Europeu (BCE); 20% desaguou nos bancos gregos; apenas 5% ficou nos cofres do Estado para ajudar a resolver problemas da sociedade. Entretanto, em 20 anos, os gregos terão de assegurar o pagamento dessa dívida que no final totalizará 274 mil milhões de euros. É repugnante.

Importa ver em pormenor o que está a acontecer com o "resgate", a "ajuda", que foi feita a Portugal. Já sabemos que com "saída limpa" ou debaixo de "programa cautelar", o pagamento que nos está destinado será mesmo pagamento à grega.

Quanto do dinheiro emprestado foi de facto para salários e pensões como tanto propagandeiam os que nos bloqueiam na tese da inexistência de alternativa, que caluniam aqueles que questionam as políticas e lutam pela construção de alternativas? Dirão alguns: então não vês que o dinheiro veio para pagar as nossas dívidas, de forma a que tenhamos condições de continuar a ter salários e pensões?

Mas, há alguma hipótese de se viver fazendo novas dívidas para pagar dívida, com juros e prazos insuportáveis, com o dinheiro emprestado a ser captado em prazos curtos, impondo empobrecimento e diminuição de capacidade de produzir riqueza? O que fizeram ao longo da história os usurários, senão práticas destas?

O BCE é uma entidade pública. Porque coloca dinheiro no sistema financeiro privado a taxas de 1% ou menos e obriga os estados, como Portugal, a pagar taxas superiores a 5%?

Esta "realidade" e estas práticas são únicas e inevitáveis? Os problemas e as condições de vida dos milhares de burocratas que sustentam e determinam as orientações práticas das estruturas europeias têm alguma identidade com o sofrimento de quem não tem emprego ou é obrigado a brutais regressões na sua vida?

É evidente que a reestruturação da dívida choca com o que está instituído na UE. Mas a UE é uma construção política. Pode e deve-se trabalhar para fazer profundas mudanças nas suas instituições e estruturas; alterar tratados, como o Tratado Orçamental e outros; assumir as fraturas estruturais intraeuropeias e resolvê-las.

Temos eleições europeias à porta, a "realidade" que há a discutir, sem paninhos quentes, é a vida concreta das pessoas, que está cada vez pior e depende simultaneamente das políticas nacionais e europeias. Não aceitemos ficar a discutir enganos e mentiras camufladas em números manipulados.

Questionar a crise e, acima de tudo, forçar a discussão de alternativas. Forçar a transformação da desgraçada "realidade" que nos vem sendo imposta.

Portugal: Empresas nacionais perderam 61 mil milhões desde o início da crise




Volume de negócios caiu mais de 14% nos últimos cinco anos, acompanhado por um travão a fundo no investimento e por uma queda dos lucros de 7,1 mil milhões de euros.

Em cinco anos, as empresas nacionais perderam mais de 61 mil milhões de euros de receitas, o equivalente a mais de um terço do produto interno bruto (PIB) português. Antes da crise, facturavam 426,7 mil milhões de euros, mas em 2012 o volume de negócios caiu para 365,5 mil milhões, o que significou uma queda de 14,3%. Este recuo foi acompanhado por um travão a fundo no investimento, que desceu 53,5% e, em termos absolutos, mais de 16 mil milhões de euros. Já os lucros caíram 7,1 mil milhões de euros, o equivalente a 68,1%.

De acordo com dados divulgados sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), pelo menos desde 2004 que as vendas das empresas vinham crescendo. Porém, esta tendência inverteu-se logo em 2009, após o eclodir da crise financeira. Apesar de uma subida de 3,9% no ano seguinte, em 2011 e 2012 voltaram a registar-se decréscimos, de 2,9 e de 6,2%, respectivamente. As receitas alcançadas há dois anos, no valor de 365,5 mil milhões de euros, representam o valor mais baixo desde 2005.

Em termos percentuais, a queda nas receitas foi especialmente acentuada nas microempresas, que, entre 2008 e 2012, assistiram a um recuo de 20,5% na facturação, correspondendo a uma perda de 15,8 mil milhões. Mas, em termos absolutos, o maior decréscimo foi protagonizado pelas grandes empresas, superando os 20 mil milhões. Do total de vendas gerado pelas sociedades nacionais em 2012, 48% foram da responsabilidade das grandes empresas, que facturaram 174 mil milhões de euros, seguindo-se as médias, mas com um peso de apenas 18,4%.

Os dados do INE mostram ainda que o sector de actividade que mais receitas gerou em 2012, o do comércio por grosso e a retalho, viu o volume de negócios cair 14,9% face a 2008, o que significou uma perda de quase 21 mil milhões de euros. Isto ao mesmo tempo que o Algarve e a Madeira se destacaram como as regiões em que as empresas tiveram um maior recuo nas vendas (33,8% e 25,7%, respectivamente). No entanto, em termos absolutos, foi em Lisboa que se registou o decréscimo mais acentuado, de 34,6 mil milhões de euros, representando mais de metade da redução global.

Menos 16 mil milhões investidos

A queda nas vendas foi acompanhada por um travão a fundo no investimento, que caiu quase 16 mil milhões de euros em termos globais. Nos últimos cinco anos, as empresas nacionais cortaram a aplicação de dinheiro em bens tangíveis, como linhas de produção, maquinaria ou edifícios, em 53,5%. Tal como aconteceu com as receitas, esta redução começou a partir de 2009, já que até então as sociedades vinham investindo mais a cada ano que passava. A retracção acentuou-se em 2012, com os gastos a atingirem 13,7 mil milhões de euros – o valor mais baixo desde, pelo menos, 2004.

A maior descida foi protagonizada pelas médias empresas, que investiram apenas 2,4 mil milhões, o que significou uma quebra de 60,2%. Mas, em termos absolutos, a diminuição mais expressiva partiu das grandes empresas, que aplicaram menos 5,5 mil milhões de euros, após uma descida de 54,5%. O sector das indústrias transformadoras, que mais dinheiro aplicou em 2012, num total de 2,9 mil milhões de euros, assistiu a um decréscimo de 47,5% em cinco anos.

Lucros caem 68,1%

Ao nível dos lucros, houve também uma queda bastante agressiva nas sociedades não financeiras: menos 68,1%, o que significou uma perda de 7,1 mil milhões de euros. Em 2012, o resultado líquido global foi de 3,3 mil milhões de euros, o que compara com os 10,5 mil milhões de 2008. Pelo meio, em 2010, antes da intervenção da troika (Maio de 2011) e numa altura que se se tentava reanimar a economia com o apoio de dinheiros público, os lucros dispararam 78%, atingindo o valor recorde de 20,1 mil milhões de euros. No ano seguinte, este indicador afundou-se 5,4 mil milhões, ou seja, menos 73%. Olhando apenas 2012, verifica-se, segundo o INE, que 51,1% das empresas deram prejuízos. 

O volume de negócios, de resultados líquidos e de investimento entre 2008 e 2012 foi fortemente influenciado por uma redução do número de empresas no país. Os dados do INE mostram o desaparecimento de quase 176 mil negócios neste período, o que correspondeu a uma diminuição de 13,9%. Por serem a larga maioria, as microempresas foram responsáveis pela diminuição mais significativa, tendo desaparecido mais de 165 mil sociedades deste tipo. Mas, em termos percentuais, o maior recuo coube às pequenas empresas, com uma queda de 20,3% que correspondeu à perda de 9405 entidades.

A maioria das empresas depende do mercado nacional, pelo que foram fortemente afectadas pela conjuntura recessiva do país, além de se depararem com dificuldades de acesso ao crédito, quando muitas estavam já bastante endividadas. O ano de 2012 assistiu a uma profunda recessão, com o PIB a cair 3,2% (contra a queda de 1,3% de 2011). O consumo privado caiu 3,7% nesse ano, depois de ter descido 2,6% de 2011, o que dá, só nesses dois anos, uma descida acumulada de 6,25%. Este facto, com o investimento a cair e o Estado a cortar a fundo no consumo, levou a procura interna a sofrer um recuo de 7% em 2012, quando este indicador já tinha descido 6,3% no ano anterior.

Microempresas perdem mais trabalhadores

Foi nas microempresas que o número de trabalhadores mais caiu nos últimos cinco anos. Da perda total de 558 mil funcionários entre 2008 e 2012, 243 mil estavam ao serviço deste tipo de sociedades, o que significa que foram responsáveis por 44% do emprego perdido neste período.

Em termos percentuais, a queda foi mais acentuada nas pequenas empresas, que cortaram 167 mil postos de trabalho. Os dados divulgados pelo INE mostram que, em cinco anos, o pessoal ao serviço das empresas em Portugal passou de 4,2 para 3,6 milhões, o que representou uma descida de 13,3%. Nas sociedades de média dimensão, a redução foi de 16,2%, o que correspondeu a menos 98 mil funcionários. E, nas grandes empresas, registou-se uma queda de 5,6%, com a eliminação de quase 50 mil postos de trabalho. 

O número de pessoas que estavam empregadas nas empresas nacionais em 2012 é o mais baixo, pelo menos, desde 2004, quando se registava 3,9 milhões de trabalhadores. Foi a partir de 2009 que os quadros de pessoal começaram a emagrecer, com uma redução de 3% logo nesse ano. Mas, em 2012, os cortes acentuaram-se, tendo havido uma queda de 5,9% nos funcionários face ao período homólogo. 

Os dados mostram que, do total de trabalhadores, 44,3% (ou seja, 1,6 milhões de pessoas) estão ao serviço de microempresas, já que estas representam 96% do número de sociedades existentes no país. Já as grandes empresas são responsáveis por 23% dos funcionários, havendo 1078 sociedades deste tipo que empregam mais de 835 mil pessoas. As pequenas e as médias empresas ficam com a restante fatia, tendo registado quase 119 mil postos de trabalho em 2012. No comércio por grosso e a retalho, o sector que mais pessoas empregava nesse ano, a queda face a 2008 foi de 11,4%. 

Com Luís Villalobos e Ana Brito

Portugal: Para cada 50 pedidos de emprego há apenas uma oferta de trabalho



PEDRO CRISÓSTOMO - Público

Número de desempregados registados no IEFP teve um ligeiro recuo em Fevereiro. Dos 700.954 inscritos, só 10,5% estavam à procura do primeiro emprego.

As ofertas são poucas para tantos pedidos de emprego registados no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). No final de Fevereiro, o número de desempregados inscritos baixou para 700.954 indivíduos, mas o número de pedidos de emprego continuou a engrossar, chegando aos 938.826 — um universo muito superior ao das ofertas de trabalho, que só chegavam para 2% do total de solicitações.

As estatísticas mais recentes do IEFP mostram que, para cada 50 pedidos de emprego registados no final de Fevereiro, havia apenas uma oferta de trabalho. No total, havia 18.795 propostas de trabalho. Um ano antes, essa diferença era ainda maior, havendo apenas uma oferta por cada 83 pedidos.

Os dados do IEFP dizem respeito aos valores registados no final daquele mês. Já ao longo de Fevereiro, foram registadas 13.477 ofertas de emprego (menos 6,1% do que em Janeiro e mais 76% do que em Fevereiro de 2013). O número de colocações foi, porém, pouco mais de metade (7426 indivíduos). No Continente, mais de um quarto das ofertas vieram do segmento onde o IEFP congrega as actividades imobiliárias, administrativas e serviços de apoio (com 26,7%), seguindo-se o comércio (com 11,9%) e o alojamento e restauração (com 8,5% dos pedidos).

Três quartos dos pedidos de emprego são de desempregados. Neste universo de 700.954 pessoas, quase metade está fora do mercado de trabalho há mais de um ano, contando para as estatísticas como desempregado de longa duração. Ao todo, eram 47,2% as pessoas registadas como desempregadas há 12 ou mais meses; a maioria (52,8%) está desempregada há menos de um ano.

Menos 4300 desempregados do que em Janeiro

O número de desempregados inscritos teve um recuo muito ligeiro em relação ao mês anterior, havendo menos 4373 pessoas nesta situação do que em Janeiro, um recuo de apenas 0,6%. Já em relação ao período homólogo, a diferença é de 38.657 indivíduos, o que representa uma diminuição de 5,2%.

Cerca de 13% do total eram indivíduos com menos de 25 anos. Embora a diferença seja muito residual, havia mais mulheres desempregadas (50,7%) do que homens (49,3%), sendo sobretudo entre a população feminina que se concentram os inscritos com formação superior.

No total, 5% dos 700.954 homens e mulheres desempregados não tem qualquer nível de formação escolar; 21,4% concluiu o primeiro ciclo, 16% terminou o segundo ciclo e 20,3% completou a última fase do ensino básico; com formação secundária há 23,6%, sendo apenas 13% os desempregados inscritos com formação superior, ou seja, 91.221 pessoas.

A larga maioria estava à procura de um novo emprego. Era o caso de 89,5% dos desempregados, contra 10,5% das pessoas que estavam à procura do primeiro emprego.

Quanto à actividade económica de origem dos desempregados à procura de um novo trabalho — e considerando apenas as estatísticas dos centros de emprego do Continente —, o IEFP refere que 63,9% das pessoas tinham trabalhado no sector dos serviços, em particular no ramo imobiliário, em actividades administrativas e no comércio; 31,6% tinham trabalhado na indústria, sobretudo na construção, que assume um peso de 14,6%.

Ao mesmo tempo, o número de casais com os dois cônjuges desempregados desceu 0,1% em relação a Janeiro, mas aumentou 0,3% em relação a igual período do ano passado, fixando-se em 13.231.

A taxa mensal de desemprego relativa a Fevereiro ainda não é conhecida, o que só acontecerá com a publicação das estatísticas do Eurostat no início de Abril. A taxa calculada pelo gabinete de estatísticas da União Europeia — com uma metodologia diferente da do INE, que para já só publica dados trimestrais — incorpora dados sobre a evolução do desemprego registado pelo IEFP. As estatísticas dos últimos meses do ano passado mostram um recuo do desemprego, seguido de uma estabilização da taxa nos 15,3% em Janeiro.

CONSERVADORES BRITÂNICOS APOSTAM NA AUSTERIDADE PARA VENCER EM 2015




A coalizão conservadora-liberal democrata, que governa o Reino Unido desde 2010, reivindica plenamente a austeridade como estratégia eleitoral.

Marcelo Justo – Carta Maior

“Less bread, more taxes” (“menos pão, mais impostos”). Com esta consigna de uma manifestação popular dirigida ao ministro de finanças, Lewis Carroll começava sua novela “Sylvia and Bruno”. O criador de “Alice no País das Maravilhas” não podia imaginar que um ministro de finanças do século XXI, o conservador George Osborne, converteria esta consigna em seu cavalo de batalha eleitoral durante a apresentação do orçamento de 2014.

O Reino Unido funciona como a maioria das democracias modernas. A campanha eleitoral começa com um ano e meio de antecedência e até se pode dizer que todo o mandato de um governo é marcado pelas votações que sancionarão o beneplácito do eleitorado com o governo. A diferença é que a coalizão conservadora-liberal democrata, que governa o Reino Unido desde 2010, reivindica plenamente a austeridade como estratégia eleitoral.

As eleições de maio de 2015 vêm sendo disputadas a todo vapor desde setembro do ano passado. No último round desta luta, nesta quarta-feira, George Osborne anunciou no Parlamento que o eixo do orçamento para este ano é a redução do déficit fiscal. “O país ainda está pedindo muito dinheiro emprestado. Esse orçamento quer construir uma economia duradoura”, indicou. A coalizão, que anunciou em 2010 cortes de 30 bilhões de dólares anuais durante cinco anos, planeja seguir cortando o gasto público e quer ser reeleita com base nesta promessa.

Não resta dúvida que o irônico “less bread, more taxes” de um governo do século XXI é muito mais complexo do que imaginava Lewis Carrol. Osborne aumentou 24 vezes os impostos e promoveu a maior queda do nível de vida dos britânicos desde o pós-guerra, mas é um mestre em dar com uma mão e tomar com a outra, para concentrar dádivas em determinados setores e regiões (empresários, sul do país, eleitores conservadores), enquanto maltrata outros setores (desempregados, jovens, o norte do país, eleitores trabalhistas). O alvo é o amplo voto flutuante que cresceu muito desde a queda do muro de Berlim e do chamado “fim das ideologias” e que hoje inclui vastos setores da classe trabalhadora e a classe média que decide seu voto a partir de uma visão apolítica apegada ao bolso, à percepção e aos prejuízos.

Osborne vem falando a este setor desde 2010, fazendo uma divisão entre “preguiçosos” e “trabalhadores”, “aproveitadores de subsídios estatais” e “honestos”, os capazes de adotar as “decisões difíceis” (conservadores) e os populistas (oposição trabalhista). Estas poderosas imagens colocam o trabalhismo como aliados dos que ajudam a desonestos desempregados que vivem de planos sociais e penalizam a silenciosa maioria que respeita a lei e busca progredir com o suor do próprio rosto.

Desde o final do ano passado, o ministro tem um apoio essencial a esta estratégia: depois de três anos e meio de estagnação, a economia voltou a crescer. Não grande coisa. No último trimestre subiu um por cento, o suficiente para que Osborne anunciasse no parlamento que a economia cresceria 2,7% em 2014, “a mais alta porcentagem das economias desenvolvidas”, prova de que os sacrifícios dos anos precedentes estariam rendendo frutos.

Esta fixação ao estoicismo britânico tão fixado na psique coletiva com a Segunda Guerra Mundial, ao seu ceticismo apolítico e ao seu pragmatismo econômico tem seu correlato nas pesquisas de opinião. Ainda que a oposição trabalhista lidere as pesquisas – com uma margem reduzida desde a “recuperação econômica” -, os britânicos confiam mais na perícia econômica dos conservadores. É uma estratégia não isenta de riscos. Os cortes atingiram com a força amplos setores da sociedade e essa joia da coroa que é o estatal Serviço Nacional de Saúde, cujo diretor que saiu, Sir David Nicholson, advertiu que está à beira do precipício.

No primeiro parágrafo da novela de Lewis Carrol, o grito inicial da multidão “less bread, more taxes” começa a se confundir quando alguns indivíduos vão invertendo acidentalmente a ordem até que já não se sabe se as pessoas estão pedindo “more bread and less taxes” ou“more taxes and less bread”. A massa de eleitores é muito grande e muito heterogênea em suas demandas e percepções. Os conservadores copiaram a estratégia de Obama que, nas últimas eleições, pediu aos eleitores que lhe dessem um segundo mandato para “terminar o trabalho” (finish the job) da recuperação. Os trabalhistas buscam concentrar o olhar na virulenta queda dos níveis de vida.

O caminho até maio de 2015 será longo e cheio de obstáculos. A maioria dos analistas calcula que ninguém obterá uma maioria e que haverá um novo governo de coalizão. O enigma político é se será como o atual, conservador-liberal democrata ou, ao contrário, será trabalhista-liberal democrata. O enigma econômico e social é se alguma destas duas fórmulas servirá para algo.
 
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Créditos da foto: Arquivo

Ucrânia: COMO O BLEFE DO OCIDENTE FRACASSOU




Sob influência dos “falcões” neoconservadores, Obama lançou-se a nova aventura arrogante. Nem toda histeria da mídia ocultará sua derrota

Pepe Escobar, no Znet  - Outras Palavras - Tradução: Antonio Martins

Vamos aos fatos, rápido e rasteiro:

1. O jogada “estratégica” do governo Obama para subcontratar, junto ao “Khaganato de Nulands1” do Departamento de Estado, e exclusão da Ucrânia da esfera de influência Russa e sua anexação subsequente à NATO está arruinada. Ela baseava-se em instrumentalizar uma coalizão de neonazistas e fascistas, pintada com verniz de banqueiro (o primeiro ministro Arseniy Yatsenyuk).

2. O contra-ataque de Moscou consistiu em evitar, na Crimeia, um repetição programada do putsch de Kiev. O referendo na Crimeia (85% de comparecimento, em torno de 93% dos eleitores a favor da reincorporação à Rússia) é fato consumado, ainda que a “tão democrática…” União Europeia continue ameaçando punir o povo por exercitar seus direitos democráticos.

3. A principal razão para todo o movimento “estratégico” dos EUA – levar seus aliados, os putschistas de Kiev, a cancelar o acordo que permite a presença de uma base naval russa em Sebastopol – virou fumaça. Moscou continua presente no Mar Negro, com pleno acesso ao Mediterrâneo Oriental.

O resto é blablablá.

Nos últimos dias, o Departamento de Estado dos EUA praticamente concordou com uma Ucrânia federativa e, em termos práticos, finlandizada2. Por sinal, é a solução proposta pelo ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov desde o início, com atesta um documento russo. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry vai tentar roubar todo o crédito dos russos, assim como fez na crise síria. A mídia corporativa norte-americana comprará a versão docilmente, mas não publicações independentes, como Moon of Alabama3.

Esta solução inteligente implica, entre outros pontos cruciais: forte autonomia para as regiões, na Ucrânia; a reintrodução do russo como língua oficial, ao lado do ucraniano; e, principalmente, neutralidade política e militar do país – ou seja, a “finlandização”. Construir o entendimento será a missão de um grupo de apoio – igualmente proposto por Moscou desde o início – em que estarão presentes Estados Unidos, União Europeia e Rússia.

E tudo será santificado por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU (ressalve-se que tudo pode dar errado, espetaculosamente, caso o “Ocidente” continue em posição de sabotagem). E tudo isso, também, sem que Moscou obrigue-se a reconhecer os putschistas de Kiev. Trocando tudo em miúdos: diante do blefe de Washington, Moscou pagou para ver – e ganhou.

Portanto, após toda a interminável série de ameaças, que envolveu desde Obama, Kerry e os falcões neoconservadores até parceiros menores, como o primeiro-ministro britânico David Cameron, seu chanceler William Hague e o premiê francês Franços Hollande, o essencial é: o governo Obama concluiu que não valia a pena arriscar um conflito nuclear com a Rússia pelo Khaganto de Nulands. Especialmente depois que Moscou fez saber, discretamente, que poderá criar condições para que o Leste e o Sul da Ucrânia também se separem da Ucrânia.

A Suécia, por exemplo, propôs um embargo à venda de armas para Moscou. Paris voltou os olhos rapidamente para os interesses de seu complexo industrial-militar e disse não. Só os decerebrados cultivam a noção de que Paris e Berlim desejarão arriscar suas relações comerciais com a Rússia. Ou pensarão que Beijing aderiria a sanções contra a Rússia – sua companheira no G-20, no BRICS e na Organização de Cooperação de Shangai – apenas porque Washington, vista na China como cada vez mais irracional, recomentou o gesto.

Ainda assim, a histeria ocidental prosseguirá invicta. Nos Estados Unidos, onde importa, a pergunta posterior será, inevitavelmente, “quem perdeu a Síria?” e “quem perdeu a Ucrânia?”

Eis o placar: George Bush lançou-se em duas guerras – e perdeu miseravelmente ambas. Obama tentou lançar duas guerras (Síria e Ucrânia). Por sua própria sorte, perdeu ambas ainda na fase de “tentativa”. Os neoconservadores e toda a brigada de excepcionalistas4 estão previsivelmente lívidos. Aguarde: a página de editoriais do Wall Street Journal vai tornar-se “balística”. E a embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power desejará ser Sinead O’Conner, cantando Nothing Compares to You.

Os putschistas de Kiev já estão anunciando suas intenções. O capo do grupo neonazista Right Sector, Dmytro Yarosh afirma: “A Rússia ganha dinheiro enviando petróleo para o Ocidente por meio de nossos oleodutos. Destruiremos estes oleodutos para privar nosso inimigo de sua fonte de renda”.

É a estratégia brilhante de um playboy do Khaganato de Nulands. As famílias e toda a base fabril da Ucrânia ficariam sem gás (vendido barato, com desconto), para não falar das grandes indústrias alemãs, para que os neonazistas cantem “vitória”. Com amigos como estes…

Os executivos da Gazprom não estão exatamente franzindo as sobrancelhas. Cerca de metade do gás que a Rússia envia à Europa já não passa pela Ucrânia, e em 2015, quando o gasoduto South Stream ficar pronto, este percentual crescerá (as “sanções” da União Europeia contra o South Stream são pura retórica).

Os putschistas vão tentar armar confusão também em outros fronts. O novo parlamento ucraniano decidiu constituir uma Guarda Nacional de 60 mil membros, coalhada de “ativistas”. Adivinhe quem a dirigirá: o novo chefe de segurança, Andriy Parubiy, um dos fundadores do Partido Nacional-Social, neonazista. Seu vice não é outro senão Yarosh, líder dos paramilitares do Right Sector. Que fiquem à vontade para criar suas próprias metáforas hitlerianas, mesmo que cresça o risco de a Ucrânia quebrar. Não é necessariamente má ideia. Vamos deixar que a “democrática” União Europeia pague as contas de gás de Kiev…

1 Referência à presença crescente da extrema-direita norte-americana (os “neoconservadores”) no Departamento de Estado, no governo Obama. “Nulands” é Victoria Nuland, a subsecretária de Estado para assuntos da Eurásia. Radicalmente anti-Rússia, ficou conhecida há semanas, quando vazou um telefonema que manteve com o embaixador dos EUA na Ucrânia. Recomendava-lhe ampliar a disputa com Moscou, ignorando a postura, mais conciliadora, da União Europeia. “Foda-se a UE”, disse então. “Khaganato” refere-se a Robert Kagan, seu marido, um dos principais expoentes dos neoconservadores, defensor de que os EUA imponham, por meios militares, sua hegemonia global. [Nota do Tradutor]

2 “Finlandizar” a Ucrânia significa assegurar que ela assuma neutralidade entre Estados Unidos e Rússia. O termo origina-se do papel semelhantes que a Finlândia cumpriu, durante a Guerra Fria, como “tampão” entre Estados Unidos e União Soviética. A “finlandização” tem sido defendida mesmo por analistas norte-americanos conservadores, como Henry Kyssinger e Zbigney Brezinsky [Nota do Tradutor]. A notícia das negociações de bastidores em curso, entre EUA e Rússia, para “finlandizar” a Ucrânia pode ser lida em  Lavrov, Kerry agree to work on constitutional reform in Ukraine: Russian ministry, Reuters, March 16, 2014.


4 Corrente de pensamento na política segundo a qual os EUA são uma nação “excepcional”, imprescindível, por seu poder e suposta sabedoria, à segurança do mundo. [Nota do Tradutor]

NASA: EUA DEPENDEM DA RÚSSIA NA INDÚSTRIA ESPACIAL




No setor espacial, os Estados Unidos são mais dependentes da Rússia do que a Rússia dos EUA. Esta opinião foi expressa pelo membro do Conselho Consultivo da NASA, John Logsdon.

De acordo com Logsdon, o risco de os voos em naves espaciais russas à EEI serem suspensos, devido à situação na Ucrânia, é baixo. "Essa medida levaria a uma verdadeira catástrofe, visto que seria extremamente difícil garantir o funcionamento da estação", disse ele.

O porta-voz da NASA, Allard Beutel, declarou, por sua vez: "Nós não esperamos que a atual situação russo-ucraniana afetará a cooperação de longa data entre os EUA e a Rússia no setor espacial".

Voz da Rússia

PARALELOS: TERCEIRA GUERRA MUNDIAL, CEM ANOS DEPOIS DA PRIMEIRA?



1914 – 2014: Paralelos

Milena Cmiljanic – Voz da Rússia

Este ano marca o centenário do início da Primeira Guerra Mundial. Muitos especialistas notam a semelhança da situação atual com aquele período, e não só na economia mas também em termos políticos. Aqui estão apenas alguns dos paralelos.

A Primeira Guerra Mundial foi se formando ao longo de décadas. No Congresso de Berlim de 1878, de facto se dissolveu a união dos três imperadores – russo, alemão e austro-húngaro. Nos anos 90 do século XIX o mundo estava dividido entre as “antigas” potências europeias – Grã-Bretanha, França, Portugal, Holanda, Bélgica.

Quanto às outras grandes potências, a Rússia estava ocupada a explorar o Oriente, e os norte-americanos estavam conquistando o Oeste Selvagem. A Alemanha ficou de fora e os alemães, insatisfeitos com o estado de coisas, começaram a falar abertamente de uma nova reorganização do mundo, o que posteriormente levou à guerra.

A reorientação na década de 1890 da atividade política externa do Império Russo para o Extremo Oriente, bem como a pressão econômica e política alemã, enfraqueceram a posição da Rússia na Europa e no Oriente Médio. Em 1904, no Extremo Oriente eclodiu a guerra russo-japonesa. Por trás do Japão estavam os governos norte-americano e britânico, cujos bancos financiaram os preparativos militares de Tóquio. Após a derrota naquela guerra, a Rússia intensificou sua política externa na Europa. E a Grã-Bretanha, aspirando à hegemonia na Europa, tentava desempenhar o papel de árbitro internacional.

Hoje, são os Estados Unidos em vez da Grã-Bretanha que assumem o papel de árbitro internacional, e à Alemanha, apesar de se ter tornado um colosso econômico europeu, falta independência na política. Tal como há 100 anos, não está determinado o seu lugar no “tabuleiro de xadrez” mundial. Isto se manifestou de forma especialmente clara na declaração do primeiro-ministro polonês Donald Tusk, que repreendeu a Alemanha por seus laços com a Rússia no setor energético: “Precisamos ajustar a estratégia energética e a independência da Rússia para que Moscou não possa, através da energia, influenciar as políticas da União Europeia”.

Nenhum político polonês falaria assim com a chanceler alemã se não tivesse os Estados Unidos por trás. O Parlamento Europeu até proibiu de todo ao antigo chanceler Schroeder de fazer quaisquer declarações públicas sobre a Rússia. Mas por quanto tempo os EUA conseguirão manter a Alemanha em sua esfera de influência? Afinal ela não é uma Polônia, Romênia ou Albânia.

No século XXI surgiram novos jogadores. São os países BRICS, entre os quais está também a Rússia. Depois de 2000 Moscou voltou à arena internacional. Apostando na formação de uma nova ordem mundial, no exemplo da Síria, a Rússia mostrou que a segurança no mundo pode ser garantida somente junto com a Rússia.

No entanto, a ideia proposta pela Rússia de criar, do Atlântico ao Pacífico, um espaço econômico e humanitário unido, não agrada a todos. Segundo observou Vladimir Putin no seu discurso ao Conselho da Federação, “A notória política de contenção da Rússia continua até hoje, estão constantemente tentando encurralar-nos”.

Ora, ainda em 1898 o imperador russo Nicolau II exortou os governos a convocar uma conferência internacional para discutir os problemas do desarmamento total. E tal conferência foi convocada em 1899, em Haia, e foi adotada uma convenção sobre meios pacíficos de resolução de litígios internacionais. Mas sobre a questão principal – a de redução das forças armadas – a conferência não tomou nenhuma decisão por causa de desacordos entre os países. A ideia de desarmamento era utópica.

Direta ou indiretamente, mas também no século XXI a corrida armamentista não virou passado. Há um acordo sobre a redução de armas estratégicas ofensivas, mas há também sérias dúvidas sobre o quanto ele está sendo respeitado.

Falando de economia, antes da Primeira Guerra Mundial, em 1907, eclodiu uma crise financeira nos Estados Unidos. Caiu o mercado de ações em Nova York, o país entrou em recessão. Dos Estados Unidos e Inglaterra, a crise se espalhou para a França, Itália e outros países. A crise que o mundo está vivendo hoje também começou nos EUA em 2007. Há já sete anos que ninguém consegue estimar sua profundidade e ninguém sabe quando ela vai acabar.

É difícil avaliar o quanto podem ser justificados tais paralelos. Uma coisa é clara – no século passado as crises internacionais, complicadas por disputas territoriais, deram um impulso ao fortalecimento de alianças político-militares e à aceleração dos preparativos para a guerra. A situação na arena mundial é hoje muito semelhante àquele tempo, e os clássicos do marxismo afirmavam que a história se desenvolve em espiral.

Foto: RIA Novosti

*Título PG

OBAMA NA EUROPA PARA MOSTRAR QUE RÚSSIA ESTÁ ISOLADA




“A administração norte-americana afirmou hoje que a viagem de Barack Obama à Europa, agendada para a próxima semana, irá mostrar que a Rússia está "cada vez mais isolada" no panorama internacional.

O que será evidente para o mundo inteiro é que a Rússia está cada vez mais isolada e que a comunidade internacional, com os Estados Unidos a liderar, apoia os ucranianos e o seu governo, e está determinada em impor custos à Rússia" por ter interferido na república autónoma ucraniana da Crimeia, afirmou a conselheira para a segurança interna, Susan Rice.

O Presidente norte-americano inicia na segunda-feira um périplo europeu de seis dias, cuja primeira paragem será em Haia (Holanda), onde vai participar numa cimeira sobre segurança nuclear e numa reunião do G7 (os sete países mais industrializados do mundo) dedicada à crise na Ucrânia.

Obama desloca-se depois a Bruxelas para participar numa cimeira com os líderes da União Europeia (UE) e num encontro com o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen.

O líder norte-americano viaja depois para Roma e para o Vaticano para uma audiência com o papa Francisco. Após o périplo europeu, Obama segue para a Arábia Saudita.

Esta viagem deverá ser dominada pela crise provocada pela anexação da república autónoma ucraniana da Crimeia pela Rússia, decisão que foi fortemente contestada pela comunidade internacional e que originou a imposição de sanções contra vários responsáveis russos e ucranianos pró-russos.

"Durante esta viagem, o Presidente irá mobilizar a comunidade internacional e alguns dos nossos aliados mais importantes no mundo numa altura em que temos de lidar com dossiês importantes", referiu Susan Rice, no encontro diário com a imprensa na Casa Branca.

"Se existe um tema comum nesta viagem, é a importância fundamental das nossas alianças e parcerias", acrescentou a conselheira de Obama.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Espanha: MILHARES PROTESTAM HOJE EM MADRID CONTRA A AUSTERIDADE




Milhares de manifestantes provenientes de várias regiões de Espanha começaram hoje a chegar a Madrid para uma "marcha da dignidade" contra a "emergência social" criada pela política de austeridade do governo conservador.

Organizados em oito colunas, milhares de manifestantes que partiram, nalguns casos há semanas, da Andaluzia (sul), Catalunha (leste), Astúrias (norte) e Extremadura (oeste) vão juntar-se ao final da tarde no centro da capital espanhola.

Segundo a agência EFE, os manifestantes começaram a chegar aos subúrbios de Madrid na sexta-feira à noite, concentrando-se a partir das 16:00 locais (15:00 em Lisboa) de hoje na estação de comboios madrilena de Atocha, onde ao início da tarde já eram visíveis vários grupos.

Os organizadores preveem que todas as colunas estejam reunidas em Atocha às 17:00 locais (16:00 em Lisboa), para partirem em direção à Plaza de Colón, no centro de Madrid.

Além dos participantes nas "marchas da dignidade", a organização do protesto anunciou que centenas de autocarros e pelo menos quatro comboios foram alugados.

"Vai ser uma maré cidadã que vai encher de dignidade a capital", afirmou Diego Cañamero, porta-voz do sindicato andaluz dos trabalhadores, uma das cerca de 300 organizações que participam no protesto.

"A ideia é unir todas as forças em torno de um objetivo: ou o governo responde às nossas reivindicações ou faz as malas", acrescentou.

A austeridade aplicada pelo governo do Partido Popular (PP, direita) a partir de finais de 2011 para reduzir o défice e a dívida pública de Espanha já esteve na origem de duas greves gerais que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas.

Os cortes, que afetam sobretudo a educação e a saúde, visam reduzir a despesa 150 mil milhões de euros entre 2012 e 2015.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Mais lidas da semana