Tiago Mota Saraiva –
jornal i, opinião
Semana após semana
torna-se cada vez mais difícil escrever sobre este país sem repetir o que já se
escreveu ou sem vociferar sobre as últimas declarações de algumas das mais
tristes caricaturas que vão dando a cara pelo regime. A estratégia que une as
direcções do PSD, CDS e PS implica tergiversar para alimentar a querela sobre o
acessório ao mesmo tempo que afasta, conscientemente, cidadão eleito de cidadão
eleitor.
Na verdade,
eleitoralmente, esta táctica tem dado óptimos resultados e não é de esperar que
nas próximas eleições europeias, mesmo com a expectável subida dos comunistas,
possa sofrer um grande rombo. As máquinas de propaganda do regime tratarão de
fazer passar que só existem dois candidatos e que dizem coisas diferentes. À
maioria que já não os suporta tratarão de reafirmar que os outros são todos
iguais e que o melhor é não votar.
Mas a raiva e o
ódio crescem nas ruas.
Nas salas de espera
dos hospitais, nas filas para a Segurança Social, nas madrugadas passadas à
espera de vez nos centros de saúde ouve-se a raiva de quem perdeu a sua casa
por causa da Lei Cristas, de quem não consegue ter dinheiro para pagar os
medicamentos aos seus, de quem vê partir os filhos e os netos. Odeia-se Cavaco,
Passos, Portas e Seguro. As redes sociais transformam-se num saco de boxe em
que as pessoas sentem que podem expressar violentamente as suas angústias.
Nesse país, com
pouca expressão no parlamento, são poucos os que assumem ter eleito este
governo ou que ensaiem a sua defesa.
Não duvido de que
muitos ainda mantenham o voto nos mesmos, por medo, medo do futuro. Mas esta
raiva que cresce nas ruas, em cada esquina e em cada pessoa, não tende a
serenar. Um dia, sem que nada o preveja, é muito possível que esta raiva
individual ganhe uma expressão colectiva, como noutros momentos históricos e
como tem sucedido noutras geografias e, aí, quem hoje ignora e provoca estes
sinais não encontrará conforto nas ruas.
Escreve ao sábado
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