Filipe
Paiva Raposo – jornal i
Peso
dos salários mínimos está a subir desde Abril de 2013 e é a realidade de 12,9%
dos trabalhadores. Valor não reflecte ainda aumento do SMN
A
economia portuguesa continua a cortar nos rendimentos pagos aos trabalhadores e
a apoiar cada vez menos os dependentes da rede de protecção social do Estado
[ver ao lado]. Além disso, e ainda antes do aumento do salário mínimo nacional
para 505 euros brutos, Portugal prosseguiu a sua transformação numa economia
cada vez mais dependente do salário mínimo – em Abril do ano passado, 12,9% da
população empregada ganhava 485 euros brutos mensais.
Trabalho
vale menos Segundo o Boletim Estatístico do Emprego deDezembro de 2014, agora
divulgado pelo Gabinete de Estudos e Estratégia (GEE)do Ministério da Segurança
Social, em Abril de 2014 a
remuneração base média mensal paga em Portugal era de 948,8 euros mensais,
valor que compara com os 958,8 euros de média em Outubro de 2013 e com os 963
euros brutos mensais de média que a economia ostentava como média em Abril de
2013. Os valores de Abril deste ano só foram publicados agora, no boletim de
Dezembro.
A
evolução implica que num único ano os trabalhadores em Portugal perderam
mais 14,2 euros mensais brutos, corte que surge por cima das quedas que se vão
registando desde Outubro de 2011.
Naquele
mês a remuneração base média mensal paga em Portugal era de 971,5 euros. Assim,
e de Outubro de 2011 a
Abril de 2014, o trabalho passou a valer menos 23 euros mensais brutos, valor
ao qual se deve acrescentar o impacto dos aumentos do IRSe do custo de vida no
país, ambos decorrentes de decisões políticas. Numa perspectiva anual, a
desvalorização da remuneração base entreOutubro de 2011 e Abril de 2014 retirou
318 euros brutos aos salários. Já se fecharmos a análise apenas ao ano
terminado em Abril de 2014,
a desvalorização chegou aos 199 euros – isto
considerando os 14 salários que em teoria são pagos.
A
mesma tendência verifica-se também nos ganhos médios – remuneração base mais
eventuais suplementos – pagos em Portugal. De Abril de 2013 para Abril de 2014, a média caiu de 1 125
euros mensais para 1121 euros mensais brutos, valor que compara com os 1 143
euros de ganho médio mensal registado pelo GEE em Outubro de 2011. Neste caso,
a queda em termos relativos foi inferior à verificada nas remunerações
base, com um recuo de 0,3% desde Abril de 2013 e de 1,9% face a Outubro
de 2011.
Os
valores mensais referentes a ganhos médios e remunerações base médias têm oscilações
negativas e positivas em ambos os períodos, sendo registados períodos em que as
remunerações até comparam positivamente com os períodos anteriores. Em Abril de
2012, por exemplo, houve uma queda abrupta face a Outubro de 2011, para depois
se registar uma ligeira recuperação dos salários na economia portuguesa. Todavia,
e num olhar a longo prazo, nota-se que o valor mais alto foi atingido em
Outubro de 2011 e que, desde então, a tendência global tem sido de queda, com
as subidas pontuais a não compensarem na maioria dos casos as quedas anteriores
ou posteriores.
Economia
de baixo custo Um dos factores que tem pressionado as médias salariais em
baixa tem sido a transformação de Portugal numa economia que só cria empregos
de baixa compensação, o que a prazo amputa o potencial de crescimento
económico. O aumento do total de trabalhadores que só recebem o mínimo legal é
um sintoma disso mesmo:ainda antes da revisão em alta do SMNpara 505 euros
brutos, e segundo os dados de Dezembro do GEE, em Abril último 12,9% dos
trabalhadores no país recebiam o salário mínimo. Um valor que compara com os
11,7% de Abril de 2013 – e os 10,9% de Outubro de 2011.
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