Macau,
China, 30 jan (Lusa) -- O arquiteto Francisco Vizeu Pinheiro sugere uma
consulta "mais profissional, transparente e aberta" sobre o plano
para a proteção do centro histórico de Macau solicitado pela UNESCO.
"É
preciso uma consulta mais profissional porque o património é um bem da
comunidade e para a comunidade e não apenas um produto fabricado dentro de uma
'caixa negra' por um departamento do governo", disse hoje o arquiteto à
agência Lusa.
Vizeu
Pinheiro reagia assim à notícia do envio para a UNESCO de um relatório sobre os
trabalhos do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, que a
organização exigia até 01 de fevereiro, e cuja receção foi confirmada hoje.
"Os
pontos principais do relatório contemplam a descrição sobre a proteção e gestão
do centro histórico de Macau, a introdução dos projetos de conservação do
património cultural, trabalhos preparatórios e conteúdos do sistema legal para
a proteção do património cultural, bem como informação sobre as consultas
públicas sobre o 'Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau'
iniciadas no final do ano passado", referiu o Instituto Cultural sem
entrar em detalhes sobre o documento submetido.
O
arquiteto radicado em Macau começou por criticar a consulta pública realizada entre
outubro e dezembro por não ter incidido sobre um plano efetivo.
"O
que foi submetido a consulta foram uns quantos princípios. E um plano e
princípios são coisas diferentes: um plano é algo detalhado, com mapas, com
indicações de alturas (de construção), de materiais, entre outros
aspetos", afirmou.
Vizeu
Pinheiro argumentou que neste processo se repetiram situações passadas:
"Isto é uma longa história, que já vem desde 2005, e o que acontece não é
a abordagem de cima para baixo que a UNESCO recomenda, ou seja, as propostas
partirem da comunidade para o governo, mas o contrário, com o governo a sugerir
e as pessoas a dizerem 'amen'".
Em
2013, Macau aprovou a Lei de Salvaguarda do Património Cultural, mas segundo
Vizeu Pinheiro, o património do centro histórico não ganhou maior proteção
legal. "A lei dá prioridade ao Instituto Cultural sobre outros
departamentos na zona histórica. Por exemplo, se houver um conflito entre as
Obras Públicas e o Instituto para os Assuntos Municipais (IACM), o Instituto
Cultural terá prioridade na decisão", recordou.
"Mas
quem é que dá garantias que o Instituto Cultural tem a melhor decisão?",
questionou.
"Eles
têm aprovado intervenções, como recentemente no Quartel de São Francisco, que
de acordo com a lei anterior era um monumento que não podia ter novas
construções, mas que deixou de estar protegido na nova lei. Agora depende do
critério subjetivo do Instituto Cultural", acrescentou.
O
problema, continuou o também docente da Universidade de São José, é a decisão
do Instituto Cultural "caso a caso", sem que para mexer num edifício
histórico seja necessário obedecer a normas objetivas pelo que "muitas
vezes só se mantém a fachada".
"Isso
é a prática local em edifícios ocidentais, porque por exemplo quando se trata
de edifícios orientais -- como é o caso da Casa do Mandarim -- preserva-se
praticamente a 100%", apontou, ao denunciar "algum desconhecimento do
valor da arquitetura portuguesa".
"Mas
o património não é só o exterior, é também o interior do edifício",
salientou.
Para
Vizeu Pinheiro dificilmente será retirada a classificação de Património da
Humanidade atribuída pela UNESCO ao centro histórico em 2005. "A UNESCO é
uma organização muito burocrática, que tem de lidar com centenas de
candidaturas e muita discussão. Além disso precisa de verbas e isso depende das
administrações -- neste caso do Estado (China) e da região Macau",
justificou.
Não
obstante, a bem da proteção do património do centro histórico, sugere "em
vez das decisões pontuais e subjetivas, caso a caso, um critério assente em
linhas de orientação e com definições iguais para todos, por exemplo, dos
limites de altura, dos materiais, da fachada, entre outros, de forma a manter a
tradição portuguesa ou chinesa da zona".
"Falta
uma consulta pública (sobre o plano), falta transparência nos projetos que
estão em curso, em que nós não sabemos qual é o critério e quanto se
gasta", concluiu.
FV
// JMR
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