Dentro
das realidades deste país, sobretudo neste contexto de mudanças de mentalidade
que se quer e que é sobretudo necessário, as atitudes e os comportamentos,
sociais e políticos, devem ser sumariamente revestidos de boa conduta. Este
estádio de exigência tem a sua controvérsia, no nosso contexto, pela constante
prática de actos contrários à saudável vivência social e política, baseada nas
discórdias do dia-a-dia e, sobretudo, na horizontal conduta nacional de
valorização de valores e princípios que nunca fizeram parte do nosso substrato
tradicional e cultural.
Ricardo
Rosa – Gazeta de Notícias (gb), opinião
Se
outrora fomos classificados de muitos nomes e feitios, excelência na
sub-região, pelos nossos hábitos culturais e tradicionais, e sempre numa
dimensão de procura do bem-estar, vejamos os vestígios da convivência nas
nossas tabancas no interior do país onde se conservam os hábitos de manutenção
dos espaços comuns, sejam eles espirituais ou materiais, para salvaguardar um
saudável convívio social, hoje, particularmente nos grandes centros urbanos,
somos confrontados com uma autêntica bagunça à medida da própria destreza
social.
Uma
tamanha desordem assistimos nas nossas instituições civis e públicas que, mesmo
quando criadas condições básicas para apenas organizarem o seu regular
funcionamento, surpresas não surpreendentes acabam sempre por acontecer … os imprevistos
da nossa terra.
Normalmente
é sempre uma questão de orçamento cultural, na interpretação de cada um. As
despesas são sempre superiores do que a previsão inicial, oscilação de mercado.
Um vasto mercado a servir este imenso sistema.
As
relações sociais são marcadas hoje pelo aprumado sentido patrimonialista na
defesa de ideias de tirar vantagem sobre o outro, produzindo pobreza e
violência gratuita, para um bem-estar individual ou restrito.
A
sociedade não se tem pugnado pela produção de bons hábitos sociais e políticos,
provocando sim a sua gradual fragmentação, lutas entre famílias, virtudes
inactivas e ética de aventura, como dizia Jacome Ratton. Uma sociedade e uma
política perversa que não estimula o exercício da cidadania activa e onde os
representantes eleitos interessam-se mais pela sua própria sobrevivência
política, ignorando os demais que os elegeram. Um verdadeiro paradoxo, um
assunto para outros pronuncios.
Esta
convivência desordenada e anárquica tem levado a uma crescente onda de
macrocefalia do estado, gerando promiscuidade e injustiça política e social,
onde o processo de integração social não tem sido estendível ao comum dos
cidadãos.
Este
problema acentua-se pela falta de políticas públicas condutoras à
reestruturação das instituições da república e que à muito têm provado
interacções desestruturadas, onde ninguém mede o que deve e o que não deve
fazer, sobrepondo o seu individualismo aos interesses da colectividade, assim como
os da hierarquia.
A
ausência da democracia social tem levado alguns sectores sociais ao
desaparecimento, promovendo outras de cariz pseudosocial, obstinados a uma
política de puro silogismo, e levando o cidadão comm a um isolamento social,
voluntário ou não, que se traduz numa falta de auto-estima induzida pela
ausência de uma classe representativa de valores e princípios sociais e
políticos, moral e eticamente aceitáveis e ainda, pela inexistência de
instituições públicas que interpelam para a sua urgente materialização.
Esta
condição tem levado a sociedade a uma morte por auto-destruição pela depressão
social e política subjacente.
O
modelo social e político aqui, coloca o cidadão numa dependência de pequenos
benefícios sociais e políticos em troca de uma obediência sem folgo, perigando
a sua liberdade, individual ou colectiva. E ainda, diminuindo-lhe as suas
capacidades cognitivas e expondo-lhe a uma fragilidade social e política pouco
motivante para estabilidade desejável.
À
sociedade, a responsabilidade de participar neste recomeço que agora se
apresenta esperançoso, convidando a uma mudança de mentalidades que se espera
na protecção dos valores e princípios sociais e políticos, na liberdade, na
diferença, de um pensamento que abranja a população na melhoria do acesso aos
direitos sociais e políticos e na garantia de todos contribuírem para uma
sociedade sem ghetos étnicos e religiosos camuflados, onde a focalização para
os interesses comuns seja o reconhecimento e o respeito devido a todos aqueles
que deram as suas vidas e as suas ambições, hipotecando a sua juventude ao
longo do percurso que teve o seu momento histórico nas matas de Boé, com a
proclamação da nossa nacionalidade.
Se
ontem foi possível com a participação de todos, hoje mais do que nunca, nesta
abertura de espírito, de reaproximação às nossas origens culturais e
tradicionais constituintes do tecido social e político, nô ermondadi, seja o
momento e o espaço próprio.
A
quem o direito … a quem a responsabilidade? A todos!
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