Díli,
06 fev (Lusa) -- O primeiro-ministro demissionário timorense, Xanana Gusmão,
afirmou hoje que nenhuma instituição em Timor-Leste é "intocável" e
que os líderes políticos do país devem procurar trabalhar com compromisso e
unindo esforços.
"Esta
é uma mensagem para todas as instituições. Estamos no processo de criação do
Estado e todas as instituições ainda são fracas. E nenhuma instituição deve
sentir-se intocável", afirmou num debate público, em Díli.
"Precisamos
de um sentido de compromisso, de coordenar todos os esforços para garantir que
se há dificuldades as podemos resolver, se há necessidades podemos fazer algo
em conjunto para lhes dar resposta", afirmou Xanana Gusmão.
Xanana
Gusmão falava num debate público com o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri e com
o Kishore Mahbubani, reitor da Lee Kuan Yew School of Public Policy na
Universidade Nacional de Singapura, que decorreu hoje no Centro de Convenções
de Díli.
Recorde-se
que Xanana Gusmão, enviou ao Presidente da República, Taur Matan Ruak, a sua carta
de demissão do cargo de chefe do Executivo, segundo confirmou hoje o Governo em
comunicado.
"Cabe
agora ao Presidente da República considerar e responder a esta carta de
resignação", refere o comunicado do ministro de Estado e da Presidência do
Conselho de Ministros e porta-voz do Governo de Timor-Leste, Agio Pereira.
Na
carta de demissão obtida pela Lusa na quinta-feira, Xanana Gusmão explica que a
sua decisão se prende com o "entendimento comum" da necessidade de
"uma reestruturação profunda, que permita assegurar, nestes dois anos e
meio que restam ao Governo, uma maior dinâmica em termos de eficiência".
"Esta
remodelação implica também, e sobretudo, dar a oportunidade a uma nova geração
de líderes para governar, não só a nível ministerial mas também ao nível da
chefia de todo o Governo", explicou ainda.
Intervindo
no debate, Mari Alkatiri também destacou o facto de Timor-Leste continuar no
seu processo de construção institucional com "muitas dificuldades e muitos
desafios".
"O
mais importante é que estamos a tentar construir um Estado em que o Estado de
direito prevalece. É um Estado nação. E precisamos de um estado forte para
consolidar o Estado nação", afirmou.
Sobre
outro assunto, o da corrupção, Xanana Gusmão disse que há sempre uma tendência
para "dramatizar", afirmando que "com base numa carta ou num
artigo de jornal" se acusa membros do Governo de corrupção.
"Tudo
é corrupção. Dizem que tudo é corrupção. E depois ninguém fala do positivo que
estamos a fazer", afirmou, considerando que as acusações e suspeitas
"destroem a confiança nos funcionários públicos".
"Temos
a Comissão Anticorrupção, estamos a reforçar a nossa capacidade de atuar e o
que temos que fazer na construção do Estado é reforçar a nossa capacidade de
trabalho e de responder", disse.
Xanana
Gusmão reconheceu ainda fraquezas na construção da administração pública,
admitindo que ainda não há critérios, métodos e sistemas adequados para aplicar
meritocracia ou garantir que o mérito é sempre aplicado na seleção.
ASP
// FV
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