quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Portugal: HÁ O “NÃO”, HÁ O “SIM” E HÁ O PS



Rafael Barbosa – Jornal de Notícias, opinião

1 Passos Coelho é um homem sério. Diz o nosso primeiro-ministro, a propósito do "conto de crianças" grego, que os compromissos assumidos são para cumprir. Ou seja, as dívidas são para pagar. Até ao último tostão. Doa a quem doer. Nem que seja à custa da destruição do emprego de milhares de pessoas. Nem que para isso seja preciso atirar cada vez mais gente, sobretudo crianças e velhos, para a pobreza. As dívidas são para pagar? Serão, mas pelos vistos não por Passos Coelho.

Basta olhar para a evolução da dívida pública, desde que se tornou primeiro-ministro. Em dezembro de 2010 era de 151 mil milhões de euros; um ano depois já ia nos 174; mais um ano e chegou aos 194; outro ano ainda e estava nos 204; e em novembro do ano passado, de acordo com a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), somava 218 mil milhões de euros. O homem que não gosta de literatura infantil não só não pagou um tostão, como não fez outra coisa que não fosse aumentar a dívida do país. E isto apesar do conjunto de portugueses - mais pobres, mais velhos e mais desempregados - pagar impostos como nunca.

2 Já se percebeu qual é a posição do PSD e do CDS em matéria de dívida (fazer de conta que a dívida é para pagar). Também já percebemos qual é a posição do PCP e do BE (fazer de conta que é fácil não pagar). E também já percebemos que o PS, para não variar, não tem bem uma posição, tem várias.

Se for o "senador" Jaime Gama, fica-se com a sensação de que se está perante um clone de Passos Coelho: "o perdão de dívida está fora de causa"; a Grécia deixar de ter a "supervisão da troika é absolutamente impensável". Se for o "jovem turco" João Galamba, percebe-se que se está perante um Varoufakis em potência: o crescimento é mais importante que o pagamento da dívida; estão a crescer "a simpatia e os apoios internacionais às pretensões gregas".

Mas, depois, há a ausência de posição de António Costa. Que usa um truque parecido com aquele a que uma mãe ou um pai têm de recorrer, quando os mais pequenos embirram com a comida e é preciso distraí-los com outra coisa qualquer: "olha para a Irlanda [avião], não olhes para a Grécia [comida]". Não resulta sempre. Mais tarde ou mais cedo, os portugueses... perdão, os mais pequenos percebem que é só mais um "conto de crianças".

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