Vladimir Fedorov –
Voz da Rússia
Em
2 de fevereiro, os ministros das Relações Exteriores da Rússia, China e Índia
irão se reunir em Pequim, a fim de elaborar uma agenda comum de cooperação para
2015.
Para
responder aos novos desafios, os chanceleres Serguei Lavrov, Wang Yi e Sushma
Swaraj terão que elevar as consultas tripartidas para um novo patamar, segundo
acreditam os especialistas. Com muita probabilidade, se visará o objetivo de
formar, em um par dos próximos anos, um "triângulo de poder" de
dimensão global.
Os
titulares da pasta das Relações Exteriores da Rússia, China e Índia se reúnem
no formato trilateral, lançado em 2005 em Vladivostok, uma vez por ano. A
próxima edição das conversações em Pequim será a décima, marcando as
"bodas de alumínio" do mecanismo que em reiteradas ocasiões provou a
sua utilidade. As posições coordenadas dos três países em relação a questões
globais e "pontos quentes" fazem com que os outros centros de poder
escutem com uma maior atenção a voz da China, Índia e Rússia.
Na
véspera da reunião ministerial em Pequim, os três países têm formulado uma nova
agenda operacional de riscos geopolíticos. Além dos problemas em torno do
Estado Islâmico, Afeganistão e Síria, envolve respostas a prováveis evoluções
do conflito no sudeste da Ucrânia e reações a possíveis mudanças no regime de
sanções contra a Rússia, incluindo o endurecimento e/ou prolongamento das
medidas restritivas.
A
par disso, há uma extensa agenda ligada aos desafios globais. A Rússia, a China
e a Índia devem ter, pelo menos, um projeto de sua própria resposta a estas
questões, está convencido Nikita Maslennikov, conselheiro do Instituto de
Desenvolvimento Contemporâneo:
"Não
são poucos os assuntos que o chanceler Serguei Lavrov tem para abordar e
harmonizar com os seus homólogos. Não se trata apenas das soluções momentâneas
e passageiras, mas também das de projeção para o futuro, não só para este ano
senão para um espaço de tempo mais prolongado. Aliás, o que importa é começar a
desenvolver uma agenda consistente e coerente a médio prazo.
"Em
geral, a expectativa das consultas e encontros em Pequim se traduz em uma ideia
de que a potencialidade, o poder econômico alcançado pelos três países precisa,
naturalmente, de algum projeto novo, ou seja, requer um tipo de organização que
tenha uma gravitação mais pronunciada e representação mais impactante na
política externa global. Por todas estas razões, a reunião de 2 de fevereiro
poderá se tornar emblemática".
De
acordo com a maioria dos especialistas, a Rússia, a China e a Índia são as
locomotivas dos BRICS. A Rússia e a China desempenham o mesmo papel de
liderança na Organização para Cooperação de Xangai, enquanto a Índia virá a ser
membro da OSX neste verão boreal – a decisão já tem sido tomada ao mais alto
nível político e falta apenas uma tramitação organizacional.
Segundo
Alexei Martynov, diretor do Instituto Internacional dos Estados Emergentes, o
triângulo Moscou – Pequim – Nova Deli, nascido há dez anos, vem se transformado
em uma força poderosa do mundo multipolar:
"Sem
dúvida alguma, o formato composto pela Rússia, Índia e China tem todas as
chances e perspectivas de se converter em um novo polo, aliás, um dos
principais polos do mundo multipolar. Vista sob esta ótica, a reunião dos
chanceleres em Pequim dará um passo firme nessa direção.
"Cada
um dos três países deixa entender claramente aos EUA que a época do mundo
unipolar já pertence à história. Que as tentativas de dominar o mundo não darão
resultados nas relações bilaterais. De igual maneira, carecem de perspectiva os
esforços de encontrar, por exemplo, o apoio da Índia, contrapondo-a à Rússia e
à China, ou da China contra a Rússia.
"Neste
sentido, a reunião dos chanceleres em Pequim, segundo calculo, deverá dar um
novo sinal aos EUA: o formato Rússia – China – Índia é uma realidade
geopolítica que tem de ser respeitada".
Dmitri
Abzalov, presidente do Centro de Comunicações Estratégicas, está convencido de
que hoje já se pode falar de uma tendência expressa para a articulação de um
G3:
"Estes
três países poderão representar um novo centro de poder concentrado no sul e
leste da Ásia, o novo vetor oriental na política global. E isso se torna
realidade apesar de a política dos EUA na Ásia se basear precisamente nas
contradições entre a Índia e a China.
"Enquanto
isso, os dois países têm um relacionamento muito complicado com os principais
parceiros orientais de Washington. No caso da Índia, é o Paquistão; e no da
China, o Japão. Mas Moscou sabe negociar e vir a ser um bom parceiro, capaz de
fortalecer seriamente as posições dos três países no Oriente.
"É
possível que dentro em breve o formato G3 passe a substituir em certo sentido o
G20 ou ser uma versão abreviada deste".
O
programa de estadia em Pequim prevê também reuniões bilaterais entre os chefes
das diplomacias russa, chinesa e indiana. Em particular, é esperado que as negociações
entre Sushma Swaraj, que pela primeira vez visita a China como ministra das
Relações Exteriores da Índia, e o seu colega chinês, Wang Yi, consolidem a
dinâmica positiva que as relações bilaterais obtiveram após a visita do
presidente Xi Jinping à Índia, em setembro do ano passado.
Foto: RIA Novosti - arquivo
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