Luanda
- Os esforços do Executivo no processo de alfabetização dos cidadãos angolanos
iletrados tem registado evolução a todos os níveis e dado oportunidade a
pessoas que, em tempo próprio, não tiveram a possibilidade de aprender a ler e
escrever, bem como de continuar os estudos (com os módulos 2 e 3) e terem
equivalência à 6ª classe. Em 40 anos de independência, 73,5 porcento dos 24
milhões de angolanos registados foram, continuam ou estão escolarizados.
Márcia
Manaça
Em
entrevista à Angop durante a qual fez abordagem do processo de alfabetização no
país desde 1975 (ano da independência nacional) até a presente data, o director
Nacional do Ensino de Adultos do Ministério da Educação (MED), Makulo Valentim
Afonso, lembra que na altura em que se conquistou a independência nacional o
registo apontava que dos seis milhões e 300 mil habitantes, sob o controlo das
autoridades coloniais portuguesas, apenas 15 porcento era escolarizada.
Angop:
Em que ritmo se encontra actualmente o processo de alfabetização no país?
Makulo
Afonso (MA) - Estamos no bom caminho. Os números são animadores (taxa de
alfabetização 73,5%), há muito engajamento da sociedade e das comunidades que
permite estar no patamar em que se está.
Angop:
Faça um resumo dos 40 anos de independência?
MA
- O marco da independência é muito importante na história da alfabetização
no país. Sempre que tiver de falar sobre o assunto, devo fazer referência a
1975, que é o ponto de partida, em que se registava uma taxa de alfabetização
de apenas 15 % da população. O Plano Estratégico da Revitalização começou em
2012. Este plano é que permitiu também que o número de alfabetizadores
aumentasse. Actualmente conta com 19.418 em todo território nacional. Cifra que
em 2012 era de 7 mil e 600. Traduz que, como o censo apontou que somos 24
milhões de habitantes, estamos a dizer que teremos o desafio de alfabetizar 6
milhões de habitantes até 2025.
Angop:
Com que parceiros sociais o MED conta, que tipo de relação tem e que apoio
estas parcerias têm dado para o desenvolvimento do processo?
MA
- O processo de alfabetização só é possível com a cooperação dos
parceiros. Os mais activos - tenho a destacar as igrejas - trabalham com muito
afinco, organizações juvenis como a JMPLA, que tem uma brigada no âmbito da
alfabetização, OMA, Associação Angolana de Adultos, Associação de
Desenvolvimento de Povo para Povo (ADPP), Fundação Eduardo dos Santos (FESA),
União Nacional de Camponeses (UNACA), Cica, CEAST, Conselho Nacional da
Juventude, Forças Armadas, Polícia Nacional e algumas empresas de construção.
Quanto ao tipo de relação, o Ministério da Educação coordena e as direcções
provinciais de Educação executam, com apoio dos parceiros. O MED tem a
responsabilidade de criar as condições, garantir os materiais para que a
alfabetização se desenvolva, isto é, potenciando as direcções, que, por sua
vez, vão potenciar os parceiros, com material didáctico (manuais de
alfabetização, quadros, cadernos, lápis, borrachas), e apoio. Os materiais são
gratuitos. Os alfabetizadores beneficiam de um subsídio de 10 mil kwanzas,
assegurados igualmente pelo Executivo. O apoio do MED consiste no material e na
alocação dos subsídios aos alfabetizadores.
Angop:
Qual é o número de voluntários controlados? São suficientes para as metas que
se propõem?
MA -
Actualmente, estão controlados 19.418 alfabetizadores, mas o processo é gradual
e está sujeito a ter o seu impacto dentro das medidas económicas, pois são
subsidiados pelo Estado e têm um peso na economia do país. Não é suficiente,
embora seja um número considerável. Precisa-se mais, porém todas as medidas ou
decisões passam pelo momento actual do país.
Angop:
Quantas pessoas foram alfabetizadas em 2014?
MA
- Inscreveram-se um milhão 203 mil 198 pessoas. Deste universo, 68, 5 %
são mulheres. Terminaram com sucesso 982 mil 569 alfabetizandos. Desde a
revitalização da alfabetização em 2012 foram alfabetizados dois milhões 482 mil
801.
Angop:
Quais as maiores dificuldades encontradas no processo?
MA
- Um processo assim não é “um mar de rosas”. Há dificuldades. Como podem
ver, inscreveram-se mais de um milhão de alfabetizandos e apenas terminaram 982
mil 569. Os outros foram desistindo. No processo de alfabetização existem
pessoas que aparecem um dia e no dia seguinte já não. Ou seja, regista
desistências frequentes. Há ainda os que, por défice de adaptação, acabam por
abandonar, bem como os irregulares. Outra dificuldade é a insuficiência de
professores para o processo de continuidade, para leccionar o módulo 2 e 3.
Existem duas estratégias no processo de alfabetização: a que consiste em apenas
aprender a ler e escrever; e depois seguem-se os módulos 2 e 3 que dão a
equivalência da 6ª classe. Um alfabetizador, no mínimo, tem a 7ª classe. Já o
professor de continuidade tem de ser da primária, mas diplomado, formado na
Escola de Formação de Professores. Há um défice, temos controlados seis mil
387. O próprio sistema, no geral, ainda não tem o número de professores
desejado. O ingresso é condicionado a factores de ordem orçamental.
Angop:
Perspectivas para 2015?
MA
- O pelouro está a trabalhar no processo de ensino secundário de adultos.
Ou seja, escolas do I ciclo do Ensino Secundário. O desafio que temos de
ultrapassar é a continuidade dos interessados em aprender mais, e que após os
três anos de alfabetização recebam a equivalência da 6ª classe e pretendam dar
sequência. Está já em execução a fase de experimentação em três províncias,
nomeadamente Malanje, Luanda e Huambo, em uma escola de cada, designada
Implementação da Aceleração das Aprendizagens do I Ciclo do Ensino Secundário.
Estão a trabalhar com 36 professores, distribuídos nas 3 províncias e 12
disciplinas curriculares. A estratégia é acelerar a aprendizagem, concluindo o
I ciclo em dois anos, uma vez que já estão atrasadas. Para o final do ano, está
prevista uma avaliação e posteriormente alargar paulatinamente a todo país. Em
2015 pretendemos alfabetizar um milhão e 165 mil pessoas.
Angop
- Foto António Escrivão
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