Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Faz
agora um ano. Foi no dia 16 de abril que o ministro da Defesa saiu do seu
gabinete para se deslocar à base naval do Alfeite. O dia estava cinzento, mas
não era o conforto do Sol ou a brisa do Tejo que Aguiar-Branco procurava.
Estava em causa a apresentação do primeiro drone português. O momento foi
tratado com a pompa que merece uma visita ministerial, dada a circunstância ser
o apadrinhamento de uma empresa nacional pelo Governo. Lembram-se deste
momento? O vídeo circulou por todo o lado, não tanto pelo extraordinário fulgor
do engenho nacional, mas porque a maquineta tinha aspirações a submarino, e não
chegou a voar mais de dois metros antes de se afundar no Tejo.
O
vídeo tornou-se imparável, até porque tem piada. O que verdadeiramente levou o
ministro ao Alfeite é que não tem graça nenhuma. A revista "Sábado"
levantou um pouco o véu. A empresa em causa, Tekever, é gerida por um antigo
assessor de Aguiar-Branco chamado Adão da Fonseca, que já que antes tinha
estado na Empordef, nomeado por Aguiar-Branco.
Este
é apenas um pequeno, pequeníssimo, exemplo da dança de cadeiras que compõe a
verdadeira lista VIP que governa o país. Nestas nomeações, nestas empresas,
escolhidas a dedo para viajar com o ministro certo, há negócios de milhões.
Negócios que passam quase sempre pelos grandes escritórios de advocacia. Como o
do advogado Aguiar-Branco, cujas operações, revela a mesma revista, seguem
demasiado atentamente a agenda do ministro Aguiar-Branco.
Em
outubro de 2014, o ministro foi à Colômbia. Uma semana antes, o seu escritório
tinha promovido um seminário sobre oportunidades de investimento na Colômbia.
Em janeiro de 2015, o ministro deslocou-se ao Peru. Três meses mais tarde, o
escritório anunciava um parceiro peruano.
O
labirinto de ligações e nomes cruzados entre os interesses do escritório de
advogados e a promoção empresarial efetuada pelo ministro só não provocam mais
escândalo porque neste país a constante porta giratória entre interesses
privados e governantes já nos habituou ao pior. Há casos para todos os gostos,
do BES à EDP.
Esta
lista VIP adora criticar o Estado. Chama gorduras aos serviços públicos,
enquanto proclama a libertação da economia da regulação estatal. Nos
entretantos, lá vai assinando mais um contratozinho e capturando mais uma
nomeação para levantar mais uma carreira.
Por
tudo isto, quando ouvir dizer que a lista VIP tem apenas quatro nomes, não
acredite. A verdadeira lista VIP de Portugal tem quase 40 anos e muito mais
linhas.
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