Ferreira
Fernandes – Diário de Notícias, opinião
O
presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, apelou para a
constituição de um exército europeu. Na esteira do que a ministra alemã da
Defesa, Ursula von der Leyen, dissera há um mês, ele explicou que ajudaria a
unir os países europeus. Mas, ontem, Juncker forneceu o grande argumento: um
exército europeu convenceria Moscovo de que "nós estamos mesmo decididos a
defender os valores da União Europeia". Temos, então, uma causa política
europeia maior defendida por um interesse localizado numa região. No tradicional
espaço vital alemão, dois países não democráticos, a Rússia e a Ucrânia, travam
um conflito em que ambos têm culpas (a Ucrânia perdeu território e a Rússia tem
minorias enxovalhadas) e não souberam resolvê-las politicamente. Eis, para o
patrão da União Europeia, a justificação da Europa ter um exército! Ontem,
ainda, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, lembrou que até ao fim do ano
haverá dez mil europeus engajados no Estado Islâmico. Aí, Juncker já não vê
nenhum dos "valores da UE" em perigo... Se calhar isto é só um anúncio de que a
União Europeia está disposta a continuar com fundos de coesão de forma a que se
esbata o fosso que nos separa da média europeia. Como na semana passada, com as
trapalhadas da Segurança Social de Passos, o debate político português tocou no
fundo, a UE, piedosa, apressou-se a dizer que é capaz de ser tão estúpida como
nós.
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