Reginaldo
Silva – Rede Angola, opinião
Como
metáfora, a expressão “negócios da China” é das mais famosas/utilizadas quando
se quer falar de um trato que nos dá uma boa pipa de massa, seja ele feito ou
não no Império do Meio ou com algum dos seus milhões de súbditos, cuja contagem
já ultrapassou, há algum tempo, a fasquia do bilião de almas vivas e de engenho
bem aguçado.
Na
origem da antiquérrima expressão ocidental que já tem vários séculos, estão, ao
que tudo indica, os chorudos negócios feitos no Oriente pelos mercadores
europeus entre a China e a Índia na altura dos “Descobrimentos” e por aí
adiante.
Pelo
menos foi assim que aprendemos na história que os portugueses nos ensinaram
quando éramos estudantes do secundário, saídos da primária já com umas boas
luzes sobre a “epopeia das Caravelas”, com o Vasco da Gama a descobrir tudo e
mais algum coisa, incluindo “o caminho marítimo para a Índia”.
Volvidos
todos estes séculos, hoje quem faz e quem mais ganha com os famosos “negócios
da China” já são os próprios chineses, quando anteriormente eles faziam apenas
parte de um imenso mercado de produtores e consumidores onde sempre era
possível, para os ocidentais, rentabilizarem ao máximo qualquer projecto, por
mais insignificante que fosse.
Conta-se
que um dos mais famosos “negócios da China” foi quando alguém se lembrou de ir
até lá oferecer generosamente um interminável número de candeeiros a petróleo
com muito pouco, ou quase nenhum, combustível nos seus recipientes. Devido à
sua utilidade, o candeeiro foi um grande sucesso, tendo sido muito bem recebido
pelos chineses, que não se cansaram de agradecer a oferta.
O
grande “negócio da China” foi, claro, a venda do petróleo iluminante a um preço
bastante módico.
Hoje,
a expressão mais adequada talvez fosse “negócios com a China”, que todo o mundo
parece muito interessado em fazer.
Está
na cara que estes “negócios com a China” que hoje nos trazem por aqui, estão a
ser feitos por Angola, tendo agora disparado para patamares ainda mais
volumosos em termos financeiros, mas não só.
Enquanto
não se conhecem os pormenores dos acordos que acabam de ser assinados em
Pequim, a especulação está em campo à procura de saber quantos foram
exactamente os biliões acordados para a novas linhas de crédito solicitadas e
em que condições/modalidades elas foram negociadas.
É
nas modalidades, entendidas como contrapartidas, que reside a maior curiosidade
nesta frenética procura de informação que está a marcar o “day after” da visita
presidencial, sobretudo depois de uma fonte oficial chinesa ter revelado ainda
em Pequim que o assunto seria tratado com alguma confidencialidade.
Tal
reserva pode querer dizer que as negociações não foram concluídas, tendo pela
frente ainda alguma pedra por partir.
Mas
a especulação já andava atenta a esta questão antes do Presidente angolano ter
aterrado em Pequim, devido às informações (rumores?) que já nessa altura
circulavam , particularmente aquelas relacionadas com a eventual concessão de
grandes superfícies de terra aos chineses, o que despoletou imediatamente
acaloradas discussões políticas sobre soberanias à mistura com estranhos
perigos, resultantes desta transferência de património.
Pelos
montantes envolvidos, estamos diante de uma parceria extraordinária, embora
facilmente explicável, pois apesar de nem tudo ser muito transparente, não há
nada de misterioso nesta rápida aproximação de interesses entre Angola e a
China.
Os
resultados que se conhecem de facto têm permitido ao Governo angolano estar a
resolver (mal ou bem) parte dos problemas herdados de tantos anos de guerra e
destruição.
Não
é a primeira visita que o Presidente angolano faz à China, mas nunca como desta
vez uma deslocação de JES ao exterior terá criado tanta expectativa e
mobilizado as atenções dos observadores em relação aos seus resultados.
Não
custa nada esperarmos mais um bocado, mas acredito que quanto mais tempo
demorar a divulgação desta informação, mais campo aberto haverá para a
multiplicação do “admite-se que” ou do “tudo leva a crer que talvez”.
Entendo,
por outro lado, que esta é a melhor altura para o Executivo fazer o balanço da
sua cooperação financeira com a RPC, tendo como referência o primeiro acordo
bilionário assinado com o Eximbank chinês (2bis), para ficarmos a saber
exactamente quantos biliões o Governo já pediu emprestados e qual é neste
montante a sua/”nossa” dívida para com a China.
Ficaríamos
ainda mais satisfeitos se neste balanço fosse feito o enquadramento da
intervenção do “nebuloso” China International Fund (CIF), para sabermos
concretamente qual é a proveniência destes biliões e onde é que estão a
ser/foram empregues, para além da construção do novo aeroporto de Luanda.
Tenho
para mim que também esta é a melhor altura para se debater a qualidade e a
oportunidade do investimento público que está a ser feito com os biliões da
China, tendo em conta alguns “elefantes brancos” que já povoam a nossa paisagem
e outros potenciais candidatos que vêm a caminho.
Foto: Francisco
Bernardo/JAImagens
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