quarta-feira, 17 de junho de 2015

Angola. NEGÓCIOS COM A CHINA



Reginaldo Silva – Rede Angola, opinião

Como metáfora, a expressão “negócios da China” é das mais famosas/utilizadas quando se quer falar de um trato que nos dá uma boa pipa de massa, seja ele feito ou não no Império do Meio ou com algum dos seus milhões de súbditos, cuja contagem já ultrapassou, há algum tempo, a fasquia do bilião de almas vivas e de engenho bem aguçado.

Na origem da antiquérrima expressão ocidental que já tem vários séculos, estão, ao que tudo indica, os chorudos negócios feitos no Oriente pelos mercadores europeus entre a China e a Índia na altura dos “Descobrimentos” e por aí adiante.

Pelo menos foi assim que aprendemos na história que os portugueses nos ensinaram quando éramos estudantes do secundário, saídos da primária já com umas boas luzes sobre a “epopeia das Caravelas”, com o Vasco da Gama a descobrir tudo e mais algum coisa, incluindo “o caminho marítimo para a Índia”.

Volvidos todos estes séculos, hoje quem faz e quem mais ganha com os famosos “negócios da China” já são os próprios chineses, quando anteriormente eles faziam apenas parte de um imenso mercado de produtores e consumidores onde sempre era possível, para os ocidentais, rentabilizarem ao máximo qualquer projecto, por mais insignificante que fosse.

Conta-se que um dos mais famosos “negócios da China” foi quando alguém se lembrou de ir até lá oferecer generosamente um interminável número de candeeiros a petróleo com muito pouco, ou quase nenhum, combustível nos seus recipientes. Devido à sua utilidade, o candeeiro foi um grande sucesso, tendo sido muito bem recebido pelos chineses, que não se cansaram de agradecer a oferta.

O grande “negócio da China” foi, claro, a venda do petróleo iluminante a um preço bastante módico.

Hoje, a expressão mais adequada talvez fosse “negócios com a China”, que todo o mundo parece muito interessado em fazer.

Está na cara que estes “negócios com a China” que hoje nos trazem por aqui, estão a ser feitos por Angola, tendo agora disparado para patamares ainda mais volumosos em termos financeiros, mas não só.

Enquanto não se conhecem os pormenores dos acordos que acabam de ser assinados em Pequim, a especulação está em campo à procura de saber quantos foram exactamente os biliões acordados para a novas linhas de crédito solicitadas e em que condições/modalidades elas foram negociadas.

É nas modalidades, entendidas como contrapartidas, que reside a maior curiosidade nesta frenética procura de informação que está a marcar o “day after” da visita presidencial, sobretudo depois de uma fonte oficial chinesa ter revelado ainda em Pequim que o assunto seria tratado com alguma confidencialidade.

Tal reserva pode querer dizer que as negociações não foram concluídas, tendo pela frente ainda alguma pedra por partir.

Mas a especulação já andava atenta a esta questão antes do Presidente angolano ter aterrado em Pequim, devido às informações (rumores?) que já nessa altura circulavam , particularmente aquelas relacionadas com a eventual concessão de grandes superfícies de terra aos chineses, o que despoletou imediatamente acaloradas discussões políticas sobre soberanias à mistura com estranhos perigos, resultantes desta transferência de património.

Pelos montantes envolvidos, estamos diante de uma parceria extraordinária, embora facilmente explicável, pois apesar de nem tudo ser muito transparente, não há nada de misterioso nesta rápida aproximação de interesses entre Angola e a China.

Os resultados que se conhecem de facto têm permitido ao Governo angolano estar a resolver (mal ou bem) parte dos problemas herdados de tantos anos de guerra e destruição.

Não é a primeira visita que o Presidente angolano faz à China, mas nunca como desta vez uma deslocação de JES ao exterior terá criado tanta expectativa e mobilizado as atenções dos observadores em relação aos seus resultados.

Não custa nada esperarmos mais um bocado, mas acredito que quanto mais tempo demorar a divulgação desta informação, mais campo aberto haverá para a multiplicação do “admite-se que” ou do “tudo leva a crer que talvez”.

Entendo, por outro lado, que esta é a melhor altura para o Executivo fazer o balanço da sua cooperação financeira com a RPC, tendo como referência o primeiro acordo bilionário assinado com o Eximbank chinês (2bis), para ficarmos a saber exactamente quantos biliões o Governo já pediu emprestados e qual é neste montante a sua/”nossa” dívida para com a China.

Ficaríamos ainda mais satisfeitos se neste balanço fosse feito o enquadramento da intervenção do “nebuloso” China International Fund (CIF), para sabermos concretamente qual é a proveniência destes biliões e onde é que estão a ser/foram empregues, para além da construção do novo aeroporto de Luanda.

Tenho para mim que também esta é a melhor altura para se debater a qualidade e a oportunidade do investimento público que está a ser feito com os biliões da China, tendo em conta alguns “elefantes brancos” que já povoam a nossa paisagem e outros potenciais candidatos que vêm a caminho.

Foto: Francisco Bernardo/JAImagens

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