João
Galamba – Expresso, opinião
Depois
de se refundar em “Somos o que escolhemos ser”,Passos Coelho parece ter-lhe
tomado o gosto e quer transformar todo o seu passado conhecido (e documentado)
num enorme mito urbano. A ideia de que Passos Coelho sempre desejou a vinda da
troika, precipitou a sua vinda e, depois, foi além da troika, é, tudo leva a
crer, o maior de todos os mitos urbanos. Para Passos Coelho, essa é uma
tragédia que, embora seja bem real e amplamente documentada, nunca aconteceu.
Passos
Coelho, coadjuvado por Paulo Portas, está empenhado em apagar da realidade os
450 mil empregos destruídos desde que o atual governo assumiu funções, a maior
vaga de emigração desde os anos 60, o recuo do investimento para níveis de
meados dos anos 80, o corte de salários e prestações sociais, o recuo de uma
década no combate à pobreza e à exclusão social, a degradação da educação, da
saúde, da justiça e da segurança social. Isto não são episódios passados de uma
história que acabou bem. Isto é o presente. É aqui que estamos.
E
podíamos estar bem pior.
O
facto do Tribunal Constitucional (e as eleições) ter travado o desvairado plano
de Passos Coelho, anunciado em outubro de 2012, e reafirmado em Abril de 2013,
de cortar 4 mil milhões de euros em salários e prestações sociais, e de tal ter
tido um efeito positivo na economia e no emprego, também é apagado da história.
A
despesa que Passos Coelho dizia querer cortar em 4 mil milhões de euros subiu 3
mil milhões de euros, e foi o aumento da despesa que Passos Coelho queria
cortar, nomeadamente rendimento de funcionários públicos e de pensionistas, que
permitiu estabilizar a procura interna. Se o plano de corte em salários e
prestações sociais desejado por Passos Coelho tivesse ido avante, a recessão
teria sido mais profunda e a procura interna, que é o que explica a saída da
recessão, não teria recuperado como recuperou. A recuperação da procura interna
ocorre apesar do governo, e contra sua política, nunca por sua causa. Se
dúvidas houvesse, o corte de 600 milhões de euros em pensões, que a coligação já
prometeu para 2016, é prova disso mesmo.
Cortes
excessivos, errados e desnecessários, que tiveram efeitos catastróficos na
economia, no emprego e na coesão social, e não criaram a famosa “confiança”. A
patranha da austeridade expansionista. Um plano de cortes suicida, sucessivas vezes
tentado, e, felizmente, sucessivas vezes travado pelo Tribunal Constitucional.
Degradação acelerada do serviços públicos e da relação do Estado com os
cidadãos. Uma realidade que só não é pior porque o governo foi impedido de pôr
em prática (toda) a sua estratégia. Não, esta não é uma história com um final
feliz. Esta é uma história que só poderá vir a ter um final feliz se, nas
eleições, a dupla Passos Coelho e Paulo Portas for derrotada.
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