Presidente
guineense José Mário Vaz insurgiu-se contra o que diz ser
"passividade" dos anciãos perante "o mau rumo das coisas"
no país, com o qual afirma não pactua
"Não
contem comigo para isso, não fui eleito para isso. Vim aqui para ajudar a mudar
o país, não para ficar calado", observou José Mário Vaz ao dirigir-se aos
anciãos, régulos e chefes religiosos numa reunião realizada na quarta-feira no
palácio presidencial.
Nos
últimos tempos, várias vozes têm-se insurgido contra os desentendimentos entre
o Presidente, o primeiro-ministro e o presidente do Parlamento, sendo que os
próprios não negam a existência de crispações.
Falando
em crioulo, José Mário Vaz pediu aos anciãos que tenham a coragem de
"falar verdade" perante as situações que têm ocorrido no país, para
que possam ser corrigidas.
O
chefe de Estado afirmou que as palavras dos anciãos "são enganadoras"
quando aplaudem o trabalho realizado pelo Presidente da República, pedindo que
sejam críticos também em relação a ele próprio.
"Vejo
que não são capazes de por o dedo na ferida. Chegam aqui com conversa do tipo:
o Presidente é que tem razão", observou José Mário Vaz.
"Não
estou nada contente com o meu trabalho como Presidente. Estou aqui há um ano,
mas penso que podia ter feito mais", acrescentou, apontando o dedo
acusador aos anciãos que, diz, pretendem "perpetuar a canseira" no
país com a sua atitude.
"Vocês
os anciãos deste país querem deixar esta terra na canseira em que se encontra
para que esta situação seja herdada pelos vossos filhos e netos", referiu.
Negado
Fernando, Juiz do Povo (uma espécie de juiz popular) reconheceu que o
"país não anda bem", mas também acha que é por esse motivo que José
Mário Vaz não tem tido tempo para realizar visitas ao interior.
"Desde
que elegemos o Presidente, não o vimos nas regiões, porque não tem tido tempo
com problemas da governação. Sabemos que o Presidente não tem tempo",
notou Negado Fernando.
José
Mário Vaz prometeu realizar ainda no decurso deste ano duas visitas às regiões.
As
relações entre o chefe de Estado e o líder do Governo estão longe de ser as
melhores.
A
03 de julho, Vaz teve que fazer um discurso à nação na Assembleia Nacional
Popular (ANP) para afastar os rumores de que estaria a planear demitir o
Executivo liderado por Domingos Simões Pereira.
No
entanto, no mesmo discurso, disse que não abdica do papel de árbitro e fez
alusão a uma proposta de remodelação governamental que já terá sido tema de
conversa com o primeiro-ministro.
Já
antes, num encontro com veteranos do Partido Africano da Independência da Guiné
e Cabo Verde (PAIGC), partido que suporta o Governo e elegeu Vaz, o chefe de
Estado disse "estar na posse de dossiês que põem em causa a autoridade
moral de alguns membros do Governo", sendo esse "o principal motivo
de dificuldades".
Domingos
Simões Pereira ainda não se pronunciou sobre uma eventual remodelação
governamental.
Os
desentendimentos estão a deixar inquietos os diplomatas em Bissau e a
generalidade da comunidade internacional que voltou a financiar o país depois
do regresso à norma constitucional após as eleições de 2014.
A
25 de março, as novas autoridades realizaram um encontro de doadores em
Bruxelas que permitiu mobilizar mais de mil milhões de euros de intenções de
apoio internacional.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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