Ferreira
Fernandes – Diário de Notícias, opinião
Era
uma das razões boas do Acordo Ortográfico: acabar com a palavra
"peremptório". Reduzida a perentório, supus eu, haveria menos
opiniões definitivas. Mas continua a soberba: "Ou cai o Syriza ou cai a
Grécia", ditou Marques Mendes, na véspera do referendo. Ontem, com o
estrondo dos 60% no "não", outros oráculos do mesmo tamanho
anunciaram a saída da Grécia da zona euro. Mas onde tem andado nos últimos
tempos esta gente tão categórica? Não viram já, cá em casa, o que era o direito
adquirido ser desapossado? O dar a volta ao prego ao que era irrevogável? E com
a Grécia? Não têm seguido os tantos prazos definitivos, logo adiados? Nem a
vigésima renegociação que já teve uma primeira, quinta e oitava, que eram, cada
uma delas, a última?... Ora, perante essas incertezas gerais, o que leva os
opinadores a hipotecar o seu nome proclamando ter o que hoje é menos certo, uma
certeza? Reparem, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, dizer
antes do referendo que o "não" levaria a Grécia a sair do euro, entende-se.
Ele é "Bruxelas" e fazia pressão para os gregos diminuírem o poder
negocial do Syriza. Mas, já nesta semana que entra, Schulz e os seus vão
sentar--se com a Grécia para a manterem no euro e na Europa. Estou eu agora
armado em oráculo? Sim, mas eu posso, não sou dos tacanhos. É fácil, tenho um
mapa e sei olhar para ele: a Grécia vai manter-se no euro e na Europa. Só
doidos abandonam o fortim mais avançado.
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