Martinho Júnior, Luanda
“En
la actual situación política del planeta, cuando la paz y la supervivencia de
nuestra especie penden de un hilo, cada decisión, más que nunca, debe ser
cuidadosamente elaborada y aplicada, de modo que nadie pueda dudar de la
honestidad y la seriedad con las que muchos de los dirigentes más responsables
y serios luchan hoy por enfrentar las calamidades que amenazan al mundo”. (Extracto
da Mensagem do Comandante Fidel de Castro ao Primeiro-Ministro Tsipras, a 5 de
Julho de 2015).
1
– Onde quer que seja, em que circunstâncias e conjunturas o forem, não haverá
hoje decisão alguma por parte de dirigentes políticos honestos que se sintam
responsáveis perante seus povos, que não tenha de levar muito em conta o estado
em que se encontra a humanidade, que está a experimentar as enormes tensões
existentes no quadro dum processo inquinado de globalização, (que entre outras
coisas circunscreve o mundo a uma “aldeia global”), assim como os
resultados cada vez mais evidentemente nefastos da acção humana sobre o próprio
Planeta.
O
teor da mensagem de felicitações do Comandante Fidel de Castro ao
Primeiro-Ministro Tsipras, por altura do referendo que se levou a cabo
recentemente na Grécia, eleva-se a uma fasquia que paira acima do que é
político e alcança as esferas filosófica, antropológica, histórica e ambiental,
o que é oportuno em relação à conjuntura do relacionamento recíproco da União
Europeia para com a Grécia, sem perder de vista (muito pelo contrário), as
tensões globais que cresceram com a última doutrina militar dos Estados Unidos
da América.
A
Grécia situa-se, sob os pontos de vista antropológico, histórico e
físico-geográfico, num arco de tensões que actualmente se distendem desde o
Báltico ao Mar Negro, atravessando a Europa do Leste e os Balcãs, chegando ao
Cáucaso e à Ásia Central, deliberadas tensões que a hegemonia unipolar vai
programando e movendo ao redor da Rússia, pelo que qualquer decisão por parte
das autoridades gregas, em defesa das legítimas causas de seu povo, não pode
alhear-se desse clima, nem deixar de agir com recurso a fórmulas preventivas, o
que comprime o próprio campo de decisões, quando se colocam todos os elementos
na profundidade dos tabuleiros geo estratégicos.
A
Grécia tentou fixar-se na contradição em relação a uma das muitas coisas que
pode produzir este capitalismo selvagem a que recorrem os poderosos cujas
opções derivam para a hegemonia unipolar: a austeridade exercida como uma
ditadura, ou uma forma de escravatura, sobre os povos, neste caso sobre o povo
grego…
Levada
a referendo, a austeridade, nos termos em que tem sido selvaticamente aplicada
à Grécia, foi condenada por um convincente “não”, mas ao procurar-se
evitar uma radicalização do processo (que sob os pontos de vista ético e moral
até se afiguraria legítima), poderiam ser criadas condições para que o arco de
tensões engrossasse agregando novas motivações, tendo em conta que a Grécia,
além de permanecer no Euro, faz parte da União Europeia e da NATO.
A
NATO reagiria face a uma eventual tentativa de saída da Grécia dessa
Organização ou da União Europeia, podendo até chegar-se ao golpe de estado, ou
mesmo a uma ocupação militar sem precedentes, atendendo que a Grécia é uma
pedra sensível no Mediterrâneo Oriental e no que toca aos acessos ao Mar Negro.
A
riqueza petrolífera grega, ainda por explorar e reconhecida como um enorme
reserva, pesa também no subterrâneo dos posicionamentos geo estratégicos e das
actuais decisões, mesmo que não seja evocada.
2
– Para o povo grego é tão legítimo quão urgente assumir a luta nesta
conjuntura, procurando desmascarar as oligarquias europeias e fazendo tudo para
se evitar chegar ao retrocesso em termos das conquistas sociais que agora estão
em causa, em direcção a um similar do “regime dos coronéis”!
Num
momento como este, a Grécia poderia (para alguns) desligar-se da União
Europeia, até do Euro, mas ser-lhe-ia muito difícil na presente conjuntura
internacional, fazê-lo sem sofrer graves consequências de retaliação por parte
da NATO, até por que as emergências multipolares, que é preciso não esquecer
cultivam também uma “economia de mercado”, teriam por outro lado muita
dificuldade, como contrapartida, em lidar com uma situação dessa natureza.
A
Rússia nada vai fazer para atrair no imediato a Grécia `sua esfera de
influência, pois tem tudo a ganhar quando a Alemanha, por tabela a União
Europeia, têm por dentro uma imensidade de problemas por resolver!
3
– O referendo grego abriu uma janela que está a pôr em causa o carácter desta
União Europeia e da manobra daquelas oligarquias que dominam a
representatividade e recorrem ao Euro para impor sua vontade sobre os povos,
algo substantivo e prático que ainda a União Europeia não havia antes
experimentado por dentro de suas próprias entranhas, que já vai muito para além
de simples declarações e cria em cadeia muitas repercussões em toda a Europa.
Essa
experiência não terminará apenas com soluções de compromisso, pelo que as
questões que levanta prolongar-se-ão no tempo e no espaço, o que põe também em
causa os processos de ditadura financeira e sócio-política, entre eles o
crescendo neo fascista e neo nazi que tem vindo a medrar.
Sob
ultimato, o actual governo grego não vai deixar de lutar, o que constituirá um
severo embaraço para aqueles que tutelam os processos conjugados da União
Europeia, do Euro e da NATO, para o póprio império.
A
outra questão que entra em causa, é a demarcação entre a social-democracia
decadente e um patamar à esquerda que tem sido tão difícil fazer medrar.
Em
certo sentido o caso grego funcionou fugazmente como um inesperado “cavalo
de Tróia”actuante sobre as causas profundas da crise por dentro da União
Europeia, possibilitando agora aos PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha), a
procurar o caminho das alternativas, pois é preciso não esquecer que também
nesses países a dívida não pára de crescer.
A
bipolaridade na União Europeia, entre o que representam a Alemanha e a França,
entre o norte e o sul, não tem alternativa senão encontrar soluções, no mínimo
soluções de compromisso, perante o risco de ruptura, algo que ultrapassou o
raio de acção das simples declarações, tal como das promessas eleitorais do
Syriza.
Nesse
quadro o Syriza claudicou estrondosamente perante as suas próprias promessas
eleitorais, algo previsível perante a correlação de forças e do seu próprio
espaço de manobra…
3
– O espaço de luta está a ser reconfigurado na União Europeia, com uma margem
de manobra inicialmente muito reduzida para aqueles que se identificam com os
povos, uma margem de manobra que contudo tem agora a oportunidade para se
alargar, até por que as oligarquias estão abertas ao neo fascismo e ao neo
nazismo, conforme se pode verificar com o caso da Ucrânia.
O
patamar da esquerda europeia, face à social-democracia, não pode esquecer-se da
compressão que existe por via institucional, tendo em conta que as democracias
representativas forjaram parlamentos sob domínio burguês.
As
oligarquias, em alguns casos, poderão manobrar no sentido de criar divisões,
algo que pode ocorrer em Espanha e na Itália, desviando dessa forma a atenção
dos povos para outro nível de artificiosas manipulações.
A
União Europeia está a articular os compromissos internos entre os do norte e os
do sul, com as tensões e conflitos que se desenham a leste, que têm como ponto
de atracção fulcral a Ucrânia, sob tutela dos falcões republicanos
norte-americanos.
Presos
por um fio, num marxismo à beira de intoxicação social-democrata, as oportunidades
correntes de luta contrariam as vocações em direcção à guerra, mas têm imensas
dificuldades em defender os povos, perante o peso das oligarquias agenciadas
pelo império!
É
necessário retirar aos falcões a possibilidade de se chegar ao terreno
sangrento onde a aristocracia financeira mundial e as oligarquias vassalas se
sentem à vontade, por que lhes é propício e lucrativo trilhar.
Entender
isso pode contribuir para a gestação duma plataforma à esquerda, em ruptura com
a órbitra social-democrata, que de outro modo seria muito mais difícil criar!
Creio
que essa será a espectativa maior que se abre também a partir da mensagem do
Comandante Fidel!
Foto
do recente encontro em Havana, entre o Presidente François Hollande e o
Comandante Fidel de Castro.
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