Domingos
de Andrade – Jornal de Notícias, opinião
A
elaboração das listas de deputados é um dos momentos mais confrangedores da
política portuguesa. Pelo que revela da incapacidade de renovação dos partidos
e do que nos espera no Parlamento, pelas lutas internas por um lugar em S. Bento , e pelo que demonstra
da unidade em torno da liderança. Pena que o sumo se passe nos bastidores e que
pouco transpareça para o público, porque a decisão do voto devia estar, também,
assente na análise que pudéssemos fazer dos nossos parlamentares.
É
por tudo isso que o espetáculo proporcionado esta semana pela distrital do
Partido Socialista do Porto merece uma leitura um bocadinho mais aberta.
Primeiro,
porque é a primeira vez que uma lista do Porto é chumbada pela direção
nacional, com óbvias responsabilidades do líder José Luís Carneiro, que não
soube consensualizar vontades, ou se soube não foi o que pareceu. E se não lhe
facilitaram a vida, deveria ter sido ele a poupar António Costa aos avanços e
recuos expostos na praça pública. A lista final será sempre olhada como um mal
menor, feito de acertos negociados à última hora. No mínimo, é mau para quem lá
consta.
Segundo,
o que se passou no Porto é uma síntese perfeita das dificuldades do
secretário-geral do PS em se afirmar, não só dentro do partido, como no país.
Se António Costa não consegue convencer os seus, como é que vai convencer os
outros?
O
caos foi geral e público, ainda que no final os resultados até possam ser
positivos. Anunciou cabeças de lista contra as distritais, colocou
paraquedistas a mais, teve que refazer listas por conterem elementos envolvidos
em casos judiciais, contentar seguristas e costistas e ferristas.
A
escolha de Ferro Rodrigues, de resto, só se justifica pela sua vontade férrea
de federar o partido. Sem estar aqui em causa a sua seriedade, não podia haver
pior escolha para comunicar com o país.
Em
vez de o partido estar constrangido por uma liderança forte que dita as regras
para uma lista de deputados fortes, a olhar o futuro e a escolher os melhores,
temos um partido unicamente interessado nas suas contas de favor.
Falta,
agora, ver o processo na coligação PSD/CDS-PP, com a urgência de conciliar o
partido de Paulo Portas com as necessidades de Passos Coelho, a influência, ou
a sua perda, de Marco António Costa, a ambição de Luís Montenegro e o poder,
aparentemente discreto, de Miguel Relvas.
Não
é fácil, mas também aqui o PS corre o risco de levar uma lição.
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