LUÍS VILLALOBOS - Público
FMI
estima que a Guiné-Bissau podia ter um PIB per capita superior em 66% se não
tivesse havido instabilidade política desde 2000.
A
Guiné-Bissau é “um dos países mais frágeis do mundo”, e um dos “mais instáveis
em termos políticos”. A análise foi feita recentemente pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI), que sustenta com números o impacto dessas duas realidades:
nos últimos vinte anos, a média do crescimento real do Produto Interno Bruto
(PIB) foi de 2,3% por ano, o que conduziu o PIB per capita para um
nível mais baixo do que estava há duas décadas. O país, o primeiro das antigas
colónias portuguesas a marcar a sua independência, sofreu apenas uma guerra
civil que durou dois anos (de 1998 a 1999), mas tem sido assolado por diversos
golpes.
Entre
ameaças, tentativas, e concretizações, registam-se 18 ocorrências, das quais
quatro conduziram mesmo a verdadeiros golpes de Estado, o último dos quais em
2012.
Com
diferentes escalas, todos estes centros de instabilidade política tiveram
repercussões no tecido social e económico da Guiné-Bissau, onde cerca de 60% da
população sobrevive abaixo dos limites mínimos da pobreza, e a esperança média
de vida é de 54 anos (inferior à dos países da África subsariana e dos países
de baixo rendimento).
Num
documento datado de Julho no qual analisa os custos da instabilidade politica
neste país, o FMI destaca que, tal como as guerras civis, os golpes de Estado
provocam bloqueios ao crescimento. A diferença é que, ao contrário das guerras
civis, “os seus verdadeiros custos não são evidentes para a maioria da
população”, o que torna mais difícil uma resposta adequada.
A
partir do momento em que ocorre um golpe de Estado, atesta o FMI, e até que se
volte à normalização democrática, a corrupção e a procura por fontes de
dinheiro disparam, interesses obscuros instalam-se, e a fragilidade das
instituições acentua-se. “Um governo de transição bem-sucedido é o que dura
pouco tempo, mas a agenda por detrás de um golpe é sempre ficar no poder”,
sublinha o FMI, notando que o último ficou mais de dois anos a dominar a
Guiné-Bissau. Nesse período, a economia “afundou-se lentamente”, com o Estado a
não conseguir providenciar serviços públicos básicos, como o acesso a
electricidade.
Na
análise que fez ao país, o FMI tentou calcular os impactos económicos da
instabilidade politica na Guiné-Bissau. As contas não são fáceis, já que é
complicado perceber a factura do desperdício de recursos provocado pela
corrupção, pelo desvio de dinheiro ou simplesmente pela má governação, mas há
outros dados, como a perda de receitas e os cortes nos apoios dos países
doadores.
Tomando
como base a média do crescimento dos países de baixo rendimento, o FMI estima
que, sem a instabilidade política que marcou o país entre 2000 e 2013 (logo,
sem contar com os efeitos da guerra civil), o PIB per capita da
Guiné-Bissau teria crescido a um ritmo de 3,3% ao ano, em vez da queda de 0,3%
que efectivamente se registou. Assim, diz o FMI, o PIB per capita real
podia ser agora, pelo menos, dois terços superior.
Em
Julho, antes de José Mário Vaz demitir Domingos Simões Pereira, o FMI levantou
a seguinte questão: “A Guiné-Bissau encontra-se, novamente, num momento
decisivo: vai conseguir, desta vez, quebrar com o seu passado de
instabilidade?”.
Até
esse momento, os sinais pareciam animadores, e o FMI começara um ciclo de novos
empréstimos, com o Governo de Simões Pereira a responder com a promessa de mais
iniciativas para promover o crescimento do país, de forma inclusiva.
Na
foto: A pior recessão do país, assolado por golpes de Estado, ocorreu na
sequência da guerra civil de 1998. REUTERS/LUC GNAGO
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