Francisco Louçã – Público, opinião
Faça-me o favor de olhar para este gráfico (clique se quiser ampliar). É muito oficial e representa a evolução do PIB da zona euro, a partir de um ponto original que é o estado da economia quando começou a crise financeira (2007–2008). Verifica-se tristemente que, oito anos depois, ainda não recuperámos até ao nível inicial.
Mas
o gráfico tem outro detalhe e é desse que lhe quero falar. Ele regista, ano a
ano, as estimativas de crescimento das entidades europeias no momento em que
foram formuladas. Por cinco vezes sucessivas, estas estimativas enganaram-se.
Estiveram sempre erradas. Presumiram que a ligeira recuperação de 2010 ia ser
um sucesso. Foi um fracasso. Anteviam que em 2011 a economia ia disparar. Caiu.
Que em 2012 ia virar. Continuou a estagnação. Que em 2013 e em 2014 ia começar
a fulgurante recuperação. Não saiu do mesmo.
E
as previsões estivera erradas no mesmo sentido: eram sempre demasiado
optimistas. O mesmo erro cinco vezes seguidas já não é distracção, é mesmo
mania. Ou seja, a economia era gerida por gente com um enviesamento ideológico
mais forte do que as suas competências técnicas. A consequência foi sempre a
pior possível: como tudo ia correr bem, as medidas em vigor eram óptimas e não
era preciso nada mais. No ano seguinte, correu mal, as medidas falharam, mas
agora é que vai correr bem, não mexer em nada. E no ano seguinte outra vez a mesma coisa.
Ou seja, as previsões foram um mecanismo para confortar a ideologia da
austeridade e justificar a inacção.
Como
é que Passos Coelho, coitado, não
se havia de enganar nas contas?
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