Adérito
Caldeira - @Verdade
O
mundo comemora nesta sexta-feira (16) o Dia Mundial da Alimentação, em
Moçambique há pouco motivos para comemorar pois mais de doze milhões de
moçambicanos ainda vivem no limiar da pobreza, cerca de dez milhões enfrenta a
desnutrição crónica que na sua maioria são camponeses que continuam a ser
marginalizados pelo Governo de Filipe Nyusi que, tal como o seu antecessor,
continua a apostar nos grandes investimentos agrícolas que para acabar com a
fome e a pobreza.
"Apesar
de Moçambique estar a registar um nível de crescimento económico robusto e
sustentado nos últimos anos, a taxa de pobreza continua inaceitavelmente
elevada", disse o Chefe de Estado moçambicano para “nórdico ver”.
Embora
seja um avanço Filipe Nyusi reconhecer o estado em que está a economia o
Presidente precisa de admitir que a elevada pobreza se deve, nas últimas
décadas após o término da guerra civil, às políticas
que o seu partido Frelimo tem posto em prática.
“A
pobreza extrema está desproporcionalmente concentrada nas zonas rurais e,
nessas zonas, os pobres dependem mais da agricultura do que outras famílias
rurais, especialmente na África Subsariana”, refere um relatório da agência das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), apresentado nesta
quinta-feira(15) em Maputo, onde é também recordado que “é a dependência da
agricultura por parte dos mais pobres e as suas despesas com a alimentação que
fazem da agricultura uma actividade chave para intervenções de mitigação da
fome e da pobreza”.
O
relatório da FAO é sobre “O Estado da Alimentação e da Agricultura” em todo o
mundo mas assenta bem para a realidade em Moçambique onde os mais pobres vivem
efectivamente nas zonas rurais e são camponeses.
Ora
o Plano Quinquenal de Nyusi propõe-se continuar a exterminar a agricultura
familiar, que é praticada pela maioria dos moçambicanos mais pobres,
orientando-a para a produção industrial e intensiva, promovendo a agricultura
comercial e o fomento das culturas estratégicas, tradicionais e emergentes
orientadas para o mercado.
Por
outro lado, a produção de comida é cada vez menos suficiente para as
necessidades dos moçambicanos, embora no Orçamento de Estado a fatia da
agricultura tenha aumentado, grande
parte desse dinheiro é aplicado em sectores que não têm efeito directo sobre a
produção.
Facilitar
o acesso aos fertilizantes, desde estarem disponíveis nas zonas rurais até
terem preços acessíveis, criar créditos para os camponeses, melhorar as
infra-estruturas e serviços para aceder a mercados justos são alguns dos desafios
mais do que conhecidos da agricultura em Moçambique.
De
acordo com o relatório SOFA 2015 da FAO, “Programas de obras públicas criam
infra-estruturas importantes para as comunidades e contribuem directamente para
a economia local, quando elaborados e implementados adequadamente”. O drama é
que em Moçambique as obras públicas criam elefantes brancos como o estádio
nacional do Zimpeto, a ponte para a Catembe que pouco ou nada contribuem para
os camponeses.
Pior
tem sido o endividamento público cujo ponto mais alto foi o empréstimo
avalizado ilegitimamente pelo Governo de Armando Guebuza para uma empresa de
pesca de atum cuja viabilidade sempre se soube não existir.
“A
luta contra a fome e a pobreza tem de ser feita sobretudo nas zonas rurais.
Mais investimentos devem ser feitos em prol de pequenos produtores,
agricultores familiares, mulheres rurais, comunidades pesqueiras e indígenas
bem como outros grupos vulneráveis ou marginalizados”, enfatiza a FAO no seu
relatório de 2015 onde sugere que medidas de protecção social são necessárias
na luta contra a fome e a pobreza. “Longe de criar dependência ou reduzir o
esforço de trabalho, ao ajudar as famílias a ultrapassar limitações de crédito
e liquidez, a protecção social fortalece os modos de vida e fomenta actividades
dentro e fora de explorações agrícolas.”
Mas
em Moçambique a protecção social, que varia entre os 310 e os 550 meticais
mensais, cobre apenas
cerca de 15% da população necessitada.
“Protecção
social por si só não é suficiente. Famílias pobres e vulneráveis normalmente
enfrentam múltiplas limitações e riscos e os modos de vida rurais podem ser
melhorados através de iniciativas agrícolas e de protecção social conjuntas”,
recomenda a FAO que escolheu protecção social e agricultura como tema do Dia
Mundial da Alimentação deste ano.
Sem comentários:
Enviar um comentário